stdClass Object ( [id] => 17572 [title] => A alternativa à economia de domínio não é uma utopia [alias] => a-alternativa-a-economia-de-dominio-nao-e-uma-utopia [introtext] =>Comunhão - Léxico do bem-viver social/20
por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 09/02/2014
Estamos todos sofrendo as consequências da escassez de comunhão. Corremos o risco de nos habituarmos à sua falta e de deixarmos, por isso, de a desejar. É dentro das comunidades que a comunhão acontece, embora o contrário não seja necessariamente verdadeiro: poderão existir – e existem de facto – comunidades nas quais não há qualquer forma de comunhão entre pessoas, onde o dom se torna obrigação, sem liberdade ou gratuidade. Os estudos sobre a felicidade e bem-estar subjetivo dizem hoje muito claramente que a principal causa de felicidade das pessoas é a vida de comunhão, a partir da primeira célula de comunhão que é a família. A qualidade de vida depende decididamente da qualidade dos relacionamentos a todos os níveis, incluindo a experiência fundamental de comunhão que é o trabalho.
[fulltext] =>É errado pensar que a comunhão só é possível em relacionamentos íntimos e familiares: a comunhão é a vocação mais profunda e verdadeira dos seres humanos em todos os âmbitos onde o humano se exerce. São necessários toda a arte poética de Dante e os seus geniais neologismos para descrever certas dimensões da comunhão, tão íntimas e espirituais elas são ("s’io m’intuassi come tu t’inmii", Paraíso, IX,81) (1); mas outras há, não menos decisivas para a qualidade da nossa vida; embora não requerendo a mútua inabitação das almas, precisam que cada cidadão sinta e considere os outros ligados a si e necessários para a própria felicidade - a Europa terá sempre de sofrer enquanto a comunidade não passar a ser também comunhão.
É a comunhão que nos permite declinar os verbos da existência em todas as pessoas, particularmente a primeira pessoa do plural (“nós”). E quando esta não está presente na nossa sintaxe, falta também a segunda pessoa do singular: desaparece o rosto do outro; nas comunidades, então, habitam apenas anónimas e solitárias terceiras pessoas.
Para evitar que a comunhão se torne “comunionismo”, é necessário decliná-la sempre a par da igualdade, da liberdade e da gratuidade. Diferentemente da comunidade, a comunhão requer uma certa igualdade, sobretudo quando da comunhão de bens se passa à comunhão de pessoas. É uma igualdade em dignidade, um reconhecer-se “olhos nos olhos”, sabendo que o outro está presente naquele relacionamento porque, tal como eu, também ele livremente quis estar (e porventura quererá amanhã sair); e fez a sua escolha com gratuidade. Por isso a comunhão requer que se vá para além do status; e não estará completa enquanto tal não acontecer. A comunidade pode existir e durar também em sociedades feudais e desiguais; a comunhão requer muito mais. E mesmo quando tem início no interior de comunidades não igualitárias e e de castas, se for autêntica, a experiência de comunhão pouco a pouco mina por dentro essas comunidades e transforma-as. Como aconteceu nas primeiras comunidades cristãs e nas que nasceram de grandes carismas religiosos e laicos: nobres ou plebeus chegavam ali e logo se achavam dentro de uma realidade nova de comunhão verdadeira, onde não havia "nem homem nem mulher, nem escravo nem livre …" (Paulo aos Gálatas). Por este motivo a comunhão tem qualquer coisa a ensinar mesmo a irmãos e irmãs de sangue: uma fraternidade nova, na qual se compreende que tornar-se irmãos é possível. A comunhão é toda liberdade, porque é experiência altíssima de gratuidade; não é por acaso que chamamos comunhão também à eucaristia, a eu-charis. A história conheceu e conhece comunidades-sem-comunhão, precisamente porque lhes faltava este tipo de igualdade, de liberdade e de gratuidade.
O sofrimento do mundo é consequência sobretudo da falta de comunhão a todos os níveis, a começar pelo económico. Precisamos de comunhão para tentar resolver os graves problemas das misérias e da exclusão; a filantropia não basta e muitas vezes é até danosa porque é unilateral. A comunhão pede muito a todos – a quem dá e a quem recebe – porque é uma forma de reciprocidade na qual todos dão e todos recebem. E na qual todos perdoam; sem perdão contínuo e institucionalizado a comunhão não pode durar.
A comunhão é felicidade, bem-estar, bem-viver. Mas dentro de nós e à nossa volta a vida mostra-nos continuamente um espetáculo de não-comunhão. Dizer – e recordá-lo sempre – que a comunhão é a vocação da humanidade significa ter uma ideia acerca da saúde e da doença das sociedades humanas. O humanismo hebraico-cristão, por exemplo, fala-nos de um início da humanidade na comunhão, um início que é também o fim último da história, a meta para a qual tendemos. A não-comunhão não é nem a primeira nem a última palavra sobre o destino do homem. Dizer que a comunhão é a saúde e a não-comunhão a doença, significa ter uma ideia da terapia necessária. A cultura dominante, pelo contrário, está a inverter esta ordem e transformou a doença em saúde. É o que faz quando diz que a rivalidade, a inveja e a prepotência são os principais agentes de crescimento económico; e que a concórdia, a gratuidade e a igualdade não fazem crescer o PIB.
Mas quem acredita na comunhão como vocação dos seres humanos, quando não a vê realizada repete, como o Pe. Zeno Saltini, "o homem é diferente" do que parece, de como o vemos na história; é “maior” que as suas desuniões e discórdias. É a possibilidade real de um “ainda não” de comunhão que nos permite viver e suportar os “já” da não-comunhão. Quando este horizonte amplo se apaga ou é etiquetado como uma utopia ingénua, o humano torna-se raquítico; se vem a faltar o ideal que faz erguer o nosso olhar mesmo quando estamos na lama, a política torna-se cinismo, a economia domínio e a vida em sociedade uma prisão perpétua. A qualidade civil, moral e espiritual do III milénio vai depender da capacidade que tivermos, a todos os níveis, de ver no ser humano mais de quanto até agora vimos; de nos dotarmos de instituições de comunhão que promovam a paz, a concórdia, o bem-estar e o bem-viver.
Com “comunhão” termina este primeiro fascículo de novo léxico. Sinto necessidade de procurar novas palavras pelas ruas, no meio da gente, entre os pobres, onde encontrei as que procurei tratar até aqui. O grande escritor argentino Jorge Luis Borges, no seu conto "A procura de Averróis" imagina a crise que viveu o grande filósofo árabe quando traduzia as palavras de Aristóteles “tragédia” e “comédia”. Não conseguia traduzi-las porque faltavam na sua cultura – ou ele pensava que faltassem – as experiências que aquelas duas palavras gregas significavam. Saiu de casa, caminhou pelas ruas estreitas de Córdoba, escutando quem passava. Regressando à sua biblioteca pareceu-lhe ter compreendido o sentido daquelas longínquas palavras. Mas o Averróis de Borges errou na tradução ("Aristóteles chama tragédia aos panegíricos e comédia às sátiras e anátemas"). Tinha passado, talvez, demasiado distraído pelas praças e pelos mercadores e não tinha sido capaz de descobrir as tragédias e as comédias "lá em baixo, no pequeno pátio térreo, onde brincavam alguns rapazes. Um, de pé sobre os ombros de outro, fazia de muezim (2) ; o que o segurava, imóvel, fazia de minarete; um terceiro, de joelhos, representava os fiéis". Nesta época, admirável e difícil, de transformações rapidíssimas, há palavras “grandes” que não conseguimos já “traduzir”; arriscamo-nos assim a perdê-las para sempre. É preciso olhar de novo os meninos que brincam, encontrar as pessoas na rua. É lá que poderemos compreender o sentido de grandes palavras perdidas ou desgastadas pelo tempo, a partir da Palavra que se tornou demasiado estrangeira nas nossas praças e mercados. É o que vou tentar fazer a partir do próximo domingo, de acordo com o diretor do jornal, com uma nova série de reflexões.
Agradeço a quem me seguiu neste primeiro fascículo de “léxico”; obrigado a quantos me escreveram. Espero que continuem a fazê-lo, oferecendo-me outras palavras, semânticas diversas, novas histórias para contar; para as contarmos uns aos outros.
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[NdT]
(1) - Na tradução de Vasco Graça Moura – Quetzal Editores, 2011, p.669: “se me entiasse como tu te enmias”; Inclui nota explicativa destes neologismos de Dante, onde explicita: “entrasse em ti” e “entras em mim”)(2) - Pregoeiro encarregado de anunciar, do alto dos minaretes, as cinco horas de prece obrigatórias dos muçulmanos. 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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 09/02/2014
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 02/02/2014
O nosso bem-estar depende muito da qualidade das instituições. Matrimónio, universidade, bancos, Estado, Igreja e sindicatos, são realidades evidentemente muito diferentes mas com algo em comum, porque todas são instituições. Características das sociedades paralisadas em "ratoeiras sociais" são: por um lado, instituições ineficientes e corruptas; e, por outro, uma alta percentagem de pessoas com baixo ou nenhum sentido cívico e institucional. Uma tenaz mortífera, muitas vezes decisiva, que provoca sofrimento a toda a gente e empurra para a emigração os melhores jovens, atraídos por melhores instituições em outros Países. A história e o presente dos povos mostram-nos que, sem as instituições apropriadas, as sociedades não criam prosperidade generalizada e bem-viver social.
[fulltext] =>A vida das pessoas é pobre e os povos entram em declínio quando as sociedades criam, selecionam e alimentam instituições que o economista Daron Acemoglu e o politólogo James Robinson designam como "extrativas". Nelas as élites usam as instituições para extrair rendimentos/rendas e obter vantagens pessoais e de grupo. Às instituições extrativas estes estudiosos contrapõem as "inclusivas" que existem em Países económica e civilmente florescentes, na prática os Países anglo-saxónicos ("Por que fracassam as nações", 2012). Na realidade, a fronteira entre instituições inclusivas e extrativas é muito menos nítida do que estes dois autores pensam, já que as duas formas convivem no interior das mesmas comunidades ou nações e, sobretudo, transformam-se umas nas outras. Em todos os contextos e âmbitos sociais existem instituições nascidas com o único objetivo de favorecer uns poucos, extraindo recursos de outros, lado a lado com instituições geradas por explícitas instâncias de Bem comum. Mas é ainda mais verdade que muitas instituições que nasceram inclusivas, com o tempo se transformaram em extrativas e instituições que nasceram extrativas se tornaram inclusivas. Nesse sentido a história europeia é muito relevante.
Nunca a economia de mercado emergiria no final da Idade Média se não tivessem existido instituições específicas: guildas , corporações, tribunais, bancos, grandes feiras e também aquelas instituições fundamentais que foram os mosteiros. Algumas delas estavam intencionalmente orientadas para o bem comum (confrarias, hospícios para pobres, Montepios…). Mas muitas outras (como as corporações) tinham nascido para proteger e promover os interesses dos seus membros (padeiros, sapateiros, especieiros …), e para garantir rendimentos/rendas de monopólio a classes específicas de mercadores. No entanto, a força civil das comunidades urbanas de então fez com que os interesses particulares se transformassem no interesse de muitos e, não raramente, de todos: muitas das conquistas da modernidade, incluindo políticas e civis, são fruto de instituições nascidas extrativas e que se tornaram inclusivas. A maior parte das instituições económicas foram, na origem, extrativas e fechadas, mas a coexistência com outras instituições políticas, civis, culturais, religiosas frequentemente abre e sublima os seus interesses iniciais. O bem comum não tem necessidade, apenas, de altruísmo, de benevolência e das suas instituições. A "sabedoria das Repúblicas", como já Giambattista Vico recordava, está sobretudo em dar vida a mecanismos institucionais capazes de transformar até interesses particulares em Bem comum.
Esta alquimia, porém, funciona apenas no interior das cidades e das suas muitas e diversas instituições, "onde se protegem as artes e o espírito é livre" (Antonio Genovesi, Lições de economia civil, 1767). Todas as instituições estão destinadas a tornar-se extrativas ou a não evoluir para inclusivas quando falta o pluralismo das instituições, quando não surgem outras novas e não são postas lado a lado. A galeria dos mercadores, o palácio dos capitães do povo , o convento de São Francisco formavam muitas vezes os diferentes lados da mesma praça, onde se crescia em contacto com os outros, sem fusões, confusões nem incorporações. E naquela praça havia cidadãos ativos e interessados, lojas de artesãos e artistas, contadores de histórias e carroças de Téspis que ofereciam sonhos e beleza, principalmente às crianças e aos pobres. A democracia, o bem-estar e os direitos emergiram do facto de se olharem uns aos outros, do confronto e do controlo recíproco, da coexistência entre pares nas mesmas praças. Hoje em dia as instituições económicas globais estão a viver uma forte deriva extrativa (até literalmente falando: veja-se o que se passa com as matérias primas da África!) porque a seu lado faltam outras instituições igualmente globais: políticas, culturais e espirituais que dialoguem, discutam, se controlem umas às outras.
Há ainda uma segunda consideração. Na sociedade existem também muitas instituições, na sua origem, inclusivas (porque foram criadas por ideais, às vezes até muito altos) que com o tempo se foram tornando escleróticas, e os seus frutos, de bons que eram, tornaram-se selvagens, quando não venenosos. Esta involução de antigas boas instituições – que nesta época de transição são particularmente numerosas – depende muitas vezes da incapacidade de alterar as respostas históricas, de estar apegado às que há décadas ou há séculos foram dadas, esquecendo assim as exigências de Bem comum que as tinham suscitado. Sucede então que grande e nobres instituições – estou a pensar em muitas instituições públicas, mas também em muitas esplêndidas das ordens religiosas – se transformam, progressiva e inconscientemente, em realidades extrativas, que não extraem tanto ou apenas recursos económicos mas imensas energias morais dos seus membros e promotores, acabando por esgotá-las e esgotar-se na gestão onerosa e dispendiosa de estruturas que perderam o rumo das necessidades originais de ontem e dão hoje respostas a necessidades que já ninguém tem. O objetivo inicial e a "vocação" da instituição torna-se cada vez mais distante e a sua missão principal passa a ser a autoconservação e o adiamento da própria morte.
No ciclo de vida das boas instituições existem momentos críticos nos quais se decide se a direção a seguir será uma maior inclusão ou um fechamento involutivo sobre si mesma. São as crises, de modo especial aquele tipo de crise que se manifesta num desalinhamento entre a missão da instituição e a sua estrutura organizativa. O vinho começa a sentir os odres demasiado apertados e ouvem-se os primeiros rangidos. Boa parte da arte dos dirigentes destas instituições está no compreender que estas crises não se resolvem insistindo na dimensão ética e motivacional das pessoas, mas que é necessário intervir na estrutura. O diálogo entre as estruturas históricas de uma instituição e as exigências da sua fundação é um exercício essencial e vital para todas as instituições, principalmente as que surgiram de grandes ideais. Os ideais das pessoas não duram se não se tornarem instituições; mas estas instituições podem morrer se não se deixam converter periodicamente pelos ideais (“as exigências”) que as fizeram nascer.
As instituições inclusivas e generativas são formas altas de bem comum. Como qualquer bem comum precisam de dedicação, cuidado e conservação das margens, das encostas e das matas. O período de crises institucionais que estamos a viver poderia tornar-se dramático caso a desconfiança nas instituições corruptas e ineficientes aumente a incúria e a falta de manutenção das nossas frágeis instituições democráticas, económicas, jurídicas e agudize a tendência para fugir das instituições, característica do período social que vivemos. Dedicar tempo, paixão, competências para reformar instituições doentes é hoje, talvez, a expressão maior de virtude civil. A primeira grande atenção pelas instituições, principalmente pelas que se encontram doentes, consiste em habitá-las, em não as deixar apenas nas mãos das elites que as dirigem. E, logo a seguir, fazer nascer novas instituições políticas, civis e espirituais globais que se ponham ao lado das económicas (que precisam de reforma porque demasiado invasivas, não democráticas e poderosas) e travem a deriva extrativa do capitalismo que temos, conduzindo de novo o mercado à sua profunda vocação inclusiva.
As galerias de mercadores cresceram demasiado, compraram os prédios próximos, contrataram os contadores de histórias; algumas gostariam de ocupar com fins lucrativos até os conventos. As instituições económicas se forem deixadas sós na aldeia global acabam por se tornar os únicos habitantes de praças cada vez mais vazias. Precisamos de encher com novas instituições as nossas praças globais, se nelas quisermos ver de novo as lojas, os artistas, o trabalho.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 02/02/2014
O nosso bem-estar depende muito da qualidade das instituições. Matrimónio, universidade, bancos, Estado, Igreja e sindicatos, são realidades evidentemente muito diferentes mas com algo em comum, porque todas são instituições. Características das sociedades paralisadas em "ratoeiras sociais" são: por um lado, instituições ineficientes e corruptas; e, por outro, uma alta percentagem de pessoas com baixo ou nenhum sentido cívico e institucional. Uma tenaz mortífera, muitas vezes decisiva, que provoca sofrimento a toda a gente e empurra para a emigração os melhores jovens, atraídos por melhores instituições em outros Países. A história e o presente dos povos mostram-nos que, sem as instituições apropriadas, as sociedades não criam prosperidade generalizada e bem-viver social.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 26/01/2014
Comunidade, uma das palavras mais ricas, fundamentais e ambivalentes do nosso vocabulário civil, está a sofrer uma mutação radical. A comunidade verdadeira sempre foi uma realidade tudo menos romântica, linear, simples, porque nela se concentram as paixões mais fortes e profundas da natureza humana, lugar de vida e de morte. Jerusalém é chamada ‘cidade santa’, mas o fundador da primeira cidade foi Caim e o mito faz nascer Roma (e muitas outras cidades) de um fratricídio.
[fulltext] =>Sem perigosas reduções ideológicas, a comunidade só poderá ser descrita se habitarmos e não recusarmos esta sua ambivalência original. É o que sugere a raíz latina do termo: communitas, cum-munus, já que o munus é, a um tempo, o dom e a obrigação, o que é oferecido e o que deve ser dado ou restituído, o ato gratuito mas também os munera, quer dizer as tarefas, deveres e compromissos, a gratuidade que evolui para o que é dever. É esta mesma tensão semântica e social que encontramos no bem comum e nos bens comuns que vivem e não morrem enquanto a trama da obrigação se tece com a teia da gratuidade. Pelo contrário, se esta tensão vital se esgota e restam apenas os (presumidos) dons ou apenas as obrigações, as patologias relacionais estão sempre à porta (se não mesmo já dentro de casa); o dom torna-se algo irrelevante para a vida social e as obrigações transformam-se em vínculos.
Uma das razões mais profundas da dualidade generativa da comunidade é a sua natureza não-eletiva: as pessoas às quais estamos ligados e vinculados nas comunidades não somos nós que as escolhemos, a não ser em pequena parte. O ‘cum’ não o criamos nós com as escolhas que fazemos; precede-nos, é maior do que nós. Os companheiros de comunidade estão junto de nós; de alguns não gostamos, muitos deles não os escolheríamos para amigos; e no entanto é inevitável que alí estejam: nós dependemos deles e eles dependem de nós. A não-eletividade e a interdependência são a substância da comunidade, sendo comuns ao grau de escolaridade, aos locais de trabalho ou à comunidade urbana. O companheiro de turma, a colega de trabalho, o vizinho de casa condicionam a minha vida pelo simples facto de estarem insistentemente no meu território, mesmo quando procuro evitá-los, e apesar de não os amar, de os ignorar ou de me opor a eles. Podemos assim usar a mesma expressão ‘comunidade’ para designar família, escola, empresa, o nosso País, desde que nos sintamos dentro dos mesmos cum e dos mesmos munera.
A não-eletividade da comunidade começa logo na primeira comunidade original, a família. Não escolhemos os pais, nem os filhos, nem os irmãos e irmãs. E embora seja verdade que escolhemos a mulher ou o marido, é ainda mais verdade que aquilo que nos anos de namoro escolhemos no outro coexiste, com uma parte considerável do outro, que não escolhemos, porque ambos a desconheciam. Uma parte não escolhida que cresce com o tempo, permite que o namoro floresça em ágape, e dá uma dignidade imensa ao amor conjugal fiel, porque a fidelidade mais preciosa e difícil é precisamente àquela parte que não era conhecida nem escolhida no outro (e em si mesmo). Em geral, relacionamentos que começam por ser eletivos (amizade, namoro…) adquirem a capacidade de gerar boas comunidades quando se abrem à dimensão não eletiva dos amigos e a acolher não-amigos. Caso contrário permanecem mero consumo, que até pode nutrir mas não gera.
Os grupos humanos em que exercitamos as dimensões mais significativas da nossa humanidade não são eletivos, não somos nós que os escolhemos. É na convivência quotidiana com esta não-eletividade que aprendemos os códigos relacionais e espirituais determinantes da vida, combatemos o narcisismo (que atualmente é pandemia social) e nos tornamos adultos. Uma aprendizagem permanente, que assume um valor altíssimo quando, por misteriosa fidelidade a nós próprios, permanecemos em comunidades nas quais já não nos reconhecemos, quando surge uma espécie de ‘despertar’ e se tem a forte impressão de ter escolhido mal a comunidade e quase tudo. A quem consegue ficar depois destes despertares dolorosos poderá suceder que, em vez de filhos daquela comunidade, se descubram como suas mães ou seus pais.
A diversidade é o fermento da comunidade. Sem ele a vida comunitária não se eleva, o seu pão quotidiano permanece ázimo.Hoje em dia é muito forte a tendência para criar comunidades eletivas, isto é, sair de comunidades que se não escolheu e entrar em comunidades escolhidas. Com um protagonismo decisivo da internet, estamos a assistir ao proliferar das chamadas ‘comunidades de sentido’, grupos que nascem em torno de interesses comuns, desde a comida aos hobbies, dos interesses literários ao amor por algumas espécies animais, e muitas outras coisas, e muitas vezes até muito boas. Novas ‘comunidades’ de semelhantes, frequentemente sem corpo, que substituem as comunidades consistentes de dissemelhantes que estão em rápida dissolução. Foge-se das novas diversidades difíceis dos bairros multiétnicos e procura-se refúgio da diversidade não escolhida, criando outras comunidades. Esta é uma expressão do chamado ‘comunitarismo’, um movimento heterogéneo que tem na constituição de ‘comunidades de semelhantes’ a sua marca típica. Escolas, condomínios, bairros, comunidades web, lugares nos quais se procura construir comunidades sem as ‘feridas’ da diversidade ao nosso redor. Mas uma das grandes mensagens que nos vem da sabedoria milenar da civilização é a insuficiência das comunidades de semelhantes para a construção de uma vida boa. Se continuarmos a abandonar as comunidades naturais, e consequentemente os territórios e os corpos políticos, em breve precipitaremos numa forma de neo-feudalismo de castas, que era a condição em que se encontrava a Europa após a queda do império romano. Um cenário que se está já a verificar nos muitos ‘Davos’ do capitalismo financeiro, onde novas castas, totalmente separadas e imunes da comunidade, nos governam mas não querem nem podem ver-nos ou tocar-nos. Quando empresários, gestores e financeiros já não tocam os corpos das comunidades vitais e mestiças, causam danos enormes, por vezes fatais para as comunidades dos novos intocáveis e sem casta. No velho feudalismo os poucos ricos viviam em castelos fortificados, e à volta deles havia só desordem, degradação, deserto. Poderá não estar longe o dia em que estes novos senhores feudais e brâmanes, saindo das suas fortalezas, já não encontrem, fora delas, estradas, segurança, bens comuns; nem sequer heliportos desimpedidos onde aterrar/aterrissar.
Uma grande narração que se refere à decadência da comunidade de diversos no comunitarismo dos semelhantes é a da Torre de Babel (Génesis, 11). A comunidade salva e renascida depois do dilúvio reuniu-se num único lugar, com uma só língua, com uma alta torre. Após cada ‘dilúvio’ (crise de uma época) é sempre forte nas comunidades a tentação de fechar-se entre semelhantes, de expulsar os diferentes, de não se espalhar pela terra. Onde não há diversidade, promiscuidade, contaminação não há fecundidade: não nascem filhos, as comunidades tornam-se incestuosas e rapidamente desaparecem. A comunidade sem diversidade depressa se transforma numa forma de fundamentalismo, de ídolo de si mesma. Foi a convivência amiga e litigiosa das nossas cidades de diferentes que gerou aquela arquitetura, arte, cultura e economia que à distância de séculos continua a nos amar, a nos nutrir e a nos salvar. Esta Europa pós-feudal da cidadania e das diversidades está hoje ameaçada pelas novas Babel da finança e das rendas, fechadas nas suas fortalezas.
Noé, o justo, tinha construído uma arca (barco-cesto) para salvar a variedade e multiplicidade das espécies e dos seres vivos, uma variedade-diversidade que os homens reunidos em Babel queriam, e querem, eliminar. A extinção do comunitarismo de Babel é a pré-condição para edificar milhares de comunidades povoadas por múltiplas línguas, cores, variedades, diversidades, belezas: “Seja dada glória a Deus pela variedade das coisas” (Gerard M. Hopkins).
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 26/01/2014
Comunidade, uma das palavras mais ricas, fundamentais e ambivalentes do nosso vocabulário civil, está a sofrer uma mutação radical. A comunidade verdadeira sempre foi uma realidade tudo menos romântica, linear, simples, porque nela se concentram as paixões mais fortes e profundas da natureza humana, lugar de vida e de morte. Jerusalém é chamada ‘cidade santa’, mas o fundador da primeira cidade foi Caim e o mito faz nascer Roma (e muitas outras cidades) de um fratricídio.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 19/01/2014
Estamos dentro de um eclipse do tempo. A lógica da economia capitalista – e a sua cultura que está dominando, sem contestação, grande parte da vida social e política – não conhece a dimensão temporal. As suas análises custo-benefício cobrem poucos dias, meses; alguns anos, na hipótese mais generosa. Na verdade, uma tendência radical deste capitalismo é o progressivo encurtamento do arco temporal das opções económicas e, consequentemente, políticas cada vez mais orientadas pela mesma cultura economicista.
[fulltext] =>A revolução industrial primeiro, a informática depois e, por fim, a financeira retiraram tempo às opções económicas, até chegar às frações de segundo de algumas operações altamente especulativas. E no entanto – como dizia Luigi Einaudi – "na Idade Média o que se construía era para a eternidade"; agia-se e pensava-se num horizonte infinito que estava sempre presente e orientava as escolhas concretas; desde honrar contratos até arrependimentos e legados na hora da morte de mercadores e banqueiros. A profundidade do tempo – o tempo de onde provimos (história) e o tempo para onde nos dirigimos (futuro) – está ausente da nossa atual cultura económica; e, consequentemente, está ausente também da cultura civil, da formação dos economistas, do sistema educativo.
Estamos assim a precipitar-nos num mundo muito parecido ao que o inglês E. A. Abbott (1884) descrevia em Flatland (terra plana). Naquele romance, um habitante da terra a duas dimensões – a Flatland – certo dia entra em contacto com um objeto a três dimensões (uma esfera) proveniente da Spaceland. São muito sugestivos e atuais os diálogos e reflexões do livro, entre os quais a intuição de que num mundo a duas dimensões – não existindo profundidade e perspetiva – a socialidade é muito pobre, rival, posicional, hierárquica. As mulheres são descritas por Abbott como retas (uma só dimensão), em polémica com a sociedade machista do seu tempo que não reconhecia às mulheres dimensão política e pública.
Um hipotético viajante do tempo que, vindo da Idade Média, se deparasse hoje com a nossa sociedade faria uma experiência muito semelhante à da esfera de que se fala em Flatland; ficaria fortemente impressionado com a ausência da terceira dimensão, a dimensão do tempo.
Quando, há algumas décadas, confiámos o projeto e o governo da vida social à lógica da economia capitalista, renunciando ao primado do civil e do político sobre o económico, quando o homo oeconomicus com a sua típica lógica se tornou pouco a pouco no único habitante que conta e comanda nas salas do poder, teve início a progressiva e inevitável queda numa nova flatland, uma terra a duas dimensões: dar e ter, custos e proveitos, ganhos e perdas, aqui e agora, base e altura. A tal terra plana na qual só o espaço existe.
Uma primeira consequência de uma cultura plana e sem tempo é a produção em massa baseada no efémero e na não duração das coisas e dos relacionamentos. Os objetos precisam de ser rapidamente substituídos, caso contrário encrava a máquina consumo-produção-trabalho-crescimento-Pib. Aqueles que – em outras épocas não dominadas pelo económico – começavam a construir uma catedral ou ornamentavam com obras de arte uma praça, não tinham como objetivo o consumo e a rápida deterioração dessa obra; não queriam que “perdesse validade” para ser reconstruída pouco depois. Se assim não fosse, não teríamos a Capela Sistina, a Flauta Mágica de Mozart, S. Luís dos Franceses. O objetivo daquelas construções antigas eram a magnificência e a duração: desejava-se produzir bens duráveis, que não se desgastassem. A construção artística e artesanal eram construções para durar, e a “regra de arte” e a reputação do autor eram avaliadas antes de mais pela duração da obra. E é assim que aquelas antigas obras duradoiras podem ainda fazer-nos viver, tornar-nos felizes, amar-nos.
Todas as civilizações (pelo menos as que sobreviveram) tiveram três grandes “guardiões do tempo”: as famílias, as instituições públicas e as religiões.
As famílias são a argila com que o tempo dá forma à história. Um mundo que perde a dimensão do tempo não entende os pactos, o amor fiel, o “para sempre”; não dá valor à memória e ao futuro. E por isso não entende e combate a família que é tudo isto junto.
As instituições, depois, permitem que na transmissão entre gerações, quando uns terminam a corrida exista ainda uma meta; que se mantenham e não sejam degradadas as regras do jogo; que continue a ter sentido correr e que o correr do tempo tenha sentido (direção e significado). De entre estas instituições, também as económicas tiveram – e têm – um importante papel. Os bancos, por exemplo, foram a correia de transmissão da riqueza e do trabalho entre as gerações. Souberam conservar e fazer crescer o valor do tempo. E quando os bancos se desorientam, esquecem o valor do tempo porque deixam de o servir e passam a especular sobre ele, ontem e hoje, comportam-se “contro natura” e vão contra o Bem comum.
Por fim as religiões, as fés, as Igrejas. Para poder entender o tempo e construir para o futuro é necessária uma visão do mundo maior que o horizonte temporal individual: é por isso que as grandes obras do passado estavam sempre profundamente ligadas à fé, à religião que ligava (religo) o céu com a terra e as gerações entre si, que dava sentido ao início de uma obra cujo iniciador não haveria de ver e muito menos apreciar. As religiões e fés são sobretudo o dom de grandes horizontes no céu de todos. Um homo oeconomicus sem filhos e sem fé – que vive numa sociedade com famílias frágeis e pequenas – não tem nenhuma boa razão para investir os seus recursos em obras que vão para além de si próprio: o único ato racional é consumir tudo até ao último dia da sua vida. Mas um mundo de homines oeconomici com perspetivas que não vão além da própria existência terrena não tem capacidade para edificar obras grandes; nem para fazer verdadeira poupança cuja raiz profunda está também na consciência de que a vida das nossas obras e dos nossos filhos deve ser mais longa e maior do que a nossa.
É quando falta o eixo do tempo que se comete em larga escala o pecado social da avareza, porque a maior avareza é eliminar do horizonte o amanhã. Por essa razão não existe ato mais irreligioso do que esta avareza social e coletiva.
No eclipse do tempo há uma imensa, epocal, abismal carestia de futuro. As Igrejas, as religiões e os carismas deveriam investir de novo em obras maiores que o seu tempo, semear e edificar hoje para que outros possam colher amanhã. Peritos de tempo e de infinito, devem ocupar-se do futuro de todos.
As gerações passadas de europeus – principalmente as que viveram na passagem da Idade Média para a Modernidade – souberam fazê-lo, e por isso edificaram obras magníficas que ainda nos dão identidade, beleza e oportunidades de trabalho. E os carismas criaram milhares de obras (hospitais, escolas, bancos …) que ainda hoje nos enriquecem, cuidam de nós e educam, porque aqueles homens e aquelas mulheres eram capazes de ver horizontes maiores do que os nossos. Que grandes obras estão a edificar hoje as religiões, as igrejas, as fés, os carismas? Onde estão as suas universidades, bancos, instituições? Existem algumas sementes, mas são muito poucas e o terreno em que caíram não é ainda suficientemente fértil nem cultivado para que as sementes possam um dia tornar-se grandes árvores e florestas, para de novo doar tempo e futuro ao nosso mundo plano: "Os cidadãos vivem em tensão entre a conjuntura do momento e a luz do tempo, do horizonte maior, da utopia que nos abre ao futuro como causa final que atrai. Daqui surge um primeiro princípio para progredir na construção de um povo: o tempo é superior ao espaço" (Evangelii Gaudium n.222).
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 19/01/2014
Estamos dentro de um eclipse do tempo. A lógica da economia capitalista – e a sua cultura que está dominando, sem contestação, grande parte da vida social e política – não conhece a dimensão temporal. As suas análises custo-benefício cobrem poucos dias, meses; alguns anos, na hipótese mais generosa. Na verdade, uma tendência radical deste capitalismo é o progressivo encurtamento do arco temporal das opções económicas e, consequentemente, políticas cada vez mais orientadas pela mesma cultura economicista.
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por Luigino Bruni
publicado emAvvenire em 12/01/2014
As palavras que nunca envelhecem são as que conseguem morrer e ressuscitar em todas as épocas. A mansidão é uma delas; era já muito grande nos salmos, no Evangelho e nas antigas civilizações orientais; os grandes mansos da história fizeram-na ainda mais sublime: o Padre Kolbe, muitos mártires de ontem e de hoje, Gandhi...; e tantos outros desconhecidos dos noticiários que com a sua humilde mansidão todos os dias tornam melhor a terra de todos nós.
[fulltext] =>A mansidão é a resposta virtuosa ao vício da ira que, como em nenhum outro tempo, domina hoje o espaço público, tornando mau o ambiente nos nossos locais de trabalho, nas reuniões de trabalho, de condomínio, no trânsito urbano, nas reuniões políticas. Se não existissem os mansos, a nossa ira produziria muitas mais guerras e feridas que tornariam as cidades impossíveis de habitar: seriam dominadas pela reciprocidade de Lameque (1); haveria assassínios por causa de um risco na parede feito por crianças.
A mansidão de poucos cura e acode à ira de muitos. Bastaria isto para mostrar como é preciosa e indispensável a existência dos mansos que são a primeira minoria profética que eleva o mundo, o fermento principal, o sal primário da terra. São eles os verdadeiros não-violentos porque, com a sua fortaleza, impedem que a violência domine o mundo e os nossos mundos. Além disso, a mansidão dá vida – e por vezes com alegria – aos doentes
crónicos; ajuda a envelhecer e morrer bem; dá resistência em longas e duras provas da vida sem ira ou azedume para com os outros e consigo mesmo, mas deixando que docilmente lhes acariciem a cabeça: são os mansos que “ad manum venire sueti”.Quando em certos momentos, muitas vezes de repente e sem aviso prévio, chegam à nossa vida desventura e grande dor, estar treinado na mansidão permite suportar pesados fardos. É a mansidão de Job que, sentado sobre um monte de cinza, não segue o conselho da mulher ("amaldiçoa Deus e depois morre"); continua a viver, a resistir, a lutar docilmente. Nestas decisivas fases da vida a mansidão transforma-se em exercício doloroso e feliz de mergulhar na própria interioridade, para aí descobrir, escondidos, recursos e valores mais profundos dos que à nossa volta estão vacilando ou desapareceram.
E aprende-se a dizer “ámen”. Para dizer bem, sem ira nem maldade, “ámen” nos momentos mais importantes da vida – especialmente no último – é necessária a virtude-bem-aventurança da mansidão. Disse-me certo dia um amigo e manso mestre: "Se a vida te põe de joelhos uma vez, levanta-te; se te voltar a por de joelhos uma segunda vez, levanta-te de novo. Mas se te põe de joelhos uma terceira vez, então, para ti, talvez tenha chegado a altura para rezar" (Aldo Stedile). Também o perdão verdadeiro, que não é apenas esquecermos para nos sentirmos melhor, que não é tomar para si (for-get) mas dar (for-give), requer a mansidão. O manso é capaz de perdoar porque perdoando permanece dócil, pronto a apertar de novo a mão que o magoou.
Na tradição hebraico-cristã, a mansidão está associada à herança da terra. Mas de que terra? A primeira que os mansos herdam é a “terra prometida”, a terra do advento de um reino de paz e justiça desejada por todos os homens e civilizações de ontem, hoje e amanhã. Herdam antes de mais o dom de olhos capazes de “ver” essa Terra, capazes por isso de desejá-la e de amá-la. Não se começa – nem se continua – nenhuma viagem, nem se atravessa um deserto sem antes se conseguir entrever, e antes ainda, desejar a realização de uma promessa. Se não tivéssemos diante de nós uma terra prometida, nova e melhor, como seria possível lutar, mansamente, para tornar melhor a nossa terra ferida?
A herança da terra, porém, é também a que os nossos filhos receberão amanhã se nós hoje formos mansos. Há, de facto, uma mansidão no uso da terra, dos seus recursos, dos seus bens, da água, do ar, uma mansidão de que temos extrema necessidade. Cada vez que somos violentos com a terra e com os seus recursos diminui o valor da sua herança. A mansidão está diretamente ligada à proteção: o manso Abel e o não-protetor Caim estão perante nós como opções radicalmente alternativas e sempre possíveis. O manso protege o oikos (a casa) e por isso faz uma oikonomia mansa. Uma economia mansa utiliza os recursos sabendo que os herdou e que os deve deixar em herança. Se fôssemos mansos outras seriam as contas a fazer para avaliar o nosso crescimento e o nosso bem-estar. Os algoritmos dariam um peso muito maior ao consumo de recursos não renováveis e a todos os que encontrámos na terra e que deveremos deixar em herança. O “destino universal dos bens”, princípio base da doutrina do Bem comum, diz respeito sem dúvida ao espaço mas interpela, sobretudo, o tempo. Se assim fizéssemos, a preocupação pelo “depois de nós” tornar-se-ia uma cultura geral que nos conduziria a usar todos os bens comuns com o mesmo cuidado com que se usa o que é dos filhos.
Pelo contrário, o capitalismo individualista – que precisamente nestes tempos de “crise” se está a propagar sem oposição – é demasiadas vezes violento no uso dos recursos, trocando a qualidade do ambiente, ar e água de amanhã, o futuro de povos inteiros (penso especialmente na África) por alguns graus de temperatura a mais ou a menos nas casas do norte do mundo; e – com avidez – continua a comer terra, ambiente, pobres; não inclui as periferias; devora-as. Além disso, mansidão económica significaria, sobretudo para as grandes empresas, reduzir a agressiva presença da publicidade a toda a hora, deixar de explorar os recém-formados que nesta fase de escassez grave de trabalho estão muito expostos a chantagem, reduzir a velocidade e a agressividade da finança especulativa, mitigar a linguagem arrogante e vulgar dos poderosos, dobrar e amansar a mão de muitos bancos para com empresários e famílias ou a da administração pública para com quem sempre pagou impostos e agora, caído em desgraça, já o não consegue fazer.
Com a sua linguagem típica – diversa mas profundamente ligada à das outras virtudes e bem-aventuranças – a mansidão diz-nos, então, uma verdade antiga que se coloca no centro da vida em comum. Quando olhamos para o espetáculo da vida que todos os dias se desenrola diante dos nossos olhos, a primeira impressão forte é que são os espertos, os violentos e os maus que prevalecem e têm sucesso. Os mansos parecem perdedores, marginalizados e esmagados pelos golpes dos poderosos, dos violentos; uma iniquidade que provocou também o desiludido grito de dor de Norberto Bobbio: "Ai dos mansos: não será deles o reino da terra" (“Elogio da mansidão”). As histórias e a verdade da mansidão ordinária e extraordinária, pelo contrário, dizem que esta primeira impressão, embora real, não é necessariamente a mais verdadeira. Para quem fizer as contas dos ganhos e custos verdadeiros da vida individual e social, que não se avaliam principalmente em moeda, são frequentemente pessoas e comunidades mansas que registam mais altos proveitos: "Fui jovem e agora sou velho, e nunca vi o justo desamparado, nem os seus filhos a pedir esmola" (salmo 37).
Se no futuro tivermos uma economia melhor do que a atual, na qual os jovens possam trabalhar e não mais "mendigar o pão", não será graças às promessas dos poderosos, mas pela ação forte, silenciosa e tenaz de muitos mansos. Bem-aventurados os mansos, porque hão-de ter a terra por herança.
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(1) NdT - Lameque é um personagem bíblico do Antigo Testamento mencionado no livro de Gênesis como filho de Metusael e um dos descendentes de Caim da quinta geração deste, que teria cometido o segundo homicídio na história da humanidade.
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por Luigino Bruni
publicado emAvvenire em 12/01/2014
As palavras que nunca envelhecem são as que conseguem morrer e ressuscitar em todas as épocas. A mansidão é uma delas; era já muito grande nos salmos, no Evangelho e nas antigas civilizações orientais; os grandes mansos da história fizeram-na ainda mais sublime: o Padre Kolbe, muitos mártires de ontem e de hoje, Gandhi...; e tantos outros desconhecidos dos noticiários que com a sua humilde mansidão todos os dias tornam melhor a terra de todos nós.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 05/01/2014
“A crise fez tantos e tão grandes desmentidos a previsões – na aparência rigorosamente científicas – avançadas por economistas que não deveremos admirar-nos que alguém se tenha sentido autorizado a proclamar a bancarrota da Economia política ... A tais vozes, por certo caluniosas, não veio a faltar uma atenuante: muitos economistas pecaram por falta de modéstia”. Estas palavras de Robert Michels, politólogo e autor do primeiro livro com o título “Economia e felicidade” (1917), foram pronunciadas em 1933, mas parecem dos nossos dias.
[fulltext] =>A falta de modéstia, ou soberba, não é prerrogativa apenas da ciência económica; é uma nota antropológica universal. Em certas épocas, porém, a comunidade dos economistas foi afetada por uma imodéstia especialmente obstinada e difusa. Perante evidentes deficiências e erros da sua disciplina, em vez de se deixarem pôr em crise pela força dos factos e, humildemente, reverem antigas certezas e dogmas, obstinadamente reenviaram as críticas ao remetente. É o que acontece na época atual; e é cada vez mais forte a necessidade de uma profunda revisão de muitos dogmas e axiomas da prática e da teoria económica.
A economia nasce inteiramente confinada dentro dos limites da casa (oikos), distinta e separada da política (polis). A economia terminava quando o homem (masculino, adulto, livre, não trabalhador manual) deixava o oikos e se dirigia à polis. O oikos com as suas regras de gestão era o reino da hierarquia desigual e da mulher, enquanto a política era o reino do homem e dos relacionamentos entre iguais. Durante toda a antiguidade e a idade pré-moderna a oikonomia conservou esta acepção doméstica, prática, interna e normalmente feminina. A partir do séc. XVIII o substantivo ‘economia’ começou a ser acompanhado por novos adjetivos: política (Smith e Verri), civil (Genovesi e muitos outros), pública (Beccaria), social (muitos autores), nacional (Ortes). Adjetivos qualificativos que pretendiam sublinhar que a economia já não era a administração da casa, nem tampouco a "oikonomia da salvação" ou a "Trindade económica", o outro significado de oikonomia usado pelos Padres da Igreja, muito difundido até à Idade moderna. O adjetivo político (e semelhantes) qualificou muito a economia moderna relativamente à antiga. Fundindo o económico com o político (economia política), dois campos que tinham ficado separados durante milénios, algumas categorias típicas da política passaram para dentro da economia. Mas mais forte ainda foi a influência oposta, se pensarmos na força com que a linguagem, a racionalidade e a lógica económica estão a migrar da economia para a política, com efeitos normalmente deletérios. Entre eles, a forte tendência para fazer uma leitura da vida pública a partir da perspetiva dos vínculos de balanço, eficiência e custo-benefício económicos que está produzindo um dumping democrático sem precedentes que é um dos traços culturais mais generalizados e preocupantes do tempo que vivemos.
Mas há um segundo elemento decisivo sobre o qual deveríamos coletiva e politicamente refletir muito mais. A contaminação entre economia e política não trouxe consigo um protagonismo político ou público da mulher, a quem estava originariamente associada a oikonomia. Pelo contrário, continuou-se a pensar na ‘casa’ como reino do feminino e da economia doméstica; e nos seus princípios teóricos e axiomas antropológicos a economia, tornando-se política e pública, perdeu a mulher e o seu específico olhar sobre o mundo e sobre os viventes, com consequências graves e subavaliadas.
Esta (di)visão encontramo-la teorizada com extrema clareza por Philip Wicksteed, importante economista inglês do século passado, também pastor protestante e tradutor de Dante. No coração do Commonsense of political economy, 1910 – o seu mais conhecido e influente tratado – encontra-se precisamente a análise do comportamento da “dona de casa”. Quando se movimenta no interior das paredes domésticas, move-se pela lógica do dom e do amor aos “tu” que tem perante si. Mas logo que sai da economia doméstica para ir ao mercado, deixa o traje de casa e veste o da economia política, cuja lógica deve ser a que com um neologismo Wicksteed chama “não-tuísmo” (do ‘tu’ latino): àquela dona de casa apenas é permitido (pelos economistas) procurar através do mercado o bem de todos, exceto o bem de quem está diante de si num encontro económico: “A relação económica não exclui da minha mente todos exceto eu [egoismo]; ela inclui potencialmente todos exceto tu [não-tuismo]”. Deste modo a economia supera o egoísmo (“todos exceto eu”) mas perde a relação pessoal dentro da económica (“todos exceto tu”).
A ‘dona de casa’ poderá exercitar as notas típicas do ’encontro verdadeiro com o ‘tu’ – gratuidade, empatia, cuidado … – apenas na esfera privada; não na esfera pública que fica definida inteiramente pelo registo de instrumentalidade, pela ausência do “tu” e pela presença de sós e solitários ‘ele’, ‘ela’ e ‘eles’. E tudo isto porque alguém estabeleceu com um a priori que as características relacionais e emotivas, mais típicas (mas não exclusivas, obviamente) da mulher, não são coisa séria e racional para a séria e racional esfera económica. Pena é que, quando falta o rosto do “tu” que tenho à minha frente, em qualquer ambiente humano, falta o único rosto verdadeiramente concreto, e assim nada mais resta que uma economia sem rosto, e portanto desumana. Mas, o que é pior, produzimos uma economia que não vê, e por isso não entende, os típicos bens que precisariam de categorias diversas da lógica não-tuística; nessas categorias encontram-se os bens comuns, os bens relacionais, a lógica da ação plural, as racionalidades não instrumentais, e muitas, demasiadas, outras coisas. O não-tuísmo continua ainda a ser um pilar da atual ciência económica. E sempre que na economia real um fornecedor olha o outro nos olhos e, movido por compaixão, lhe concede um maior prazo de pagamento; ou quando um trabalhador vai além do contrato e atende um cliente em dificuldade, o economista “puro” considera estas exceções como atritos, contratos incompletos, custos que devem ser reduzidos possivelmente a zero. Na realidade, quanto mais empresas e bancos se tornam grandes, burocráticos e geridos racionalmente, tanto mais estes atritos ‘tuísticos’ são reduzidos – mas não desaparecem completamente e não hão-de desaparecer enquanto nas organizações existirem seres humanos.
Mas a realidade das coisas é outra. Sabemos que as ações ‘tuísticas’ não são atritos ou simples custos; elas fazem parte daquele óleo invisível mas realíssimo que faz com que as organizações não encravem; faz rodar as complexas engrenagens humanas mesmo em tempo de crise, quando contratos e eficiência já não bastam. Providencialmente, a economia real vai para a frente apesar das teorias económicas e de gestão; mas hoje é necessária a coragem cultural de denunciar este sofrimento, em boa parte evitável, causado por uma antropologia obsoleta e por uma ideologia económica a uma só dimensão. Não esqueçamos que, diferentemente do que sucedia em séculos passados quando a esfera pública era monópolio dos homens (que a teorizavam e ocupavam), hoje em dia as mulheres encontram-se a viver em instituições económicas e políticas nas quais – de facto – continuam a ser periferias culturais e teóricas. As estatísticas mostram que nas empresas e bancos são principalmente as mulheres que sofrem porque os postos de trabalho foram pensados, desenhados e promovidos por teorias onde falta ‘a outra metade’ do mundo e da economia. Mudar a economia para a tornar à ‘medida de mulher’ implicaria – faço apenas uma sugestão – rever também a teoria e a praxis da gestão da casa, a economia familiar, a educação dos filhos, a assistência aos idosos. E muitas outras coisas mais.
As dificuldades do tempo presente dependem também do não se conseguir valorizar a enorme energia relacional e moral das mulheres, hoje ainda demasiado hóspedes e estrangeiras no mundo produtivo dos homens onde, por isso, não conseguem exprimir todas as suas potencialidades e talentos. Também a economia está à espera de ser vivificada pelo génio feminino.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 05/01/2014
“A crise fez tantos e tão grandes desmentidos a previsões – na aparência rigorosamente científicas – avançadas por economistas que não deveremos admirar-nos que alguém se tenha sentido autorizado a proclamar a bancarrota da Economia política ... A tais vozes, por certo caluniosas, não veio a faltar uma atenuante: muitos economistas pecaram por falta de modéstia”. Estas palavras de Robert Michels, politólogo e autor do primeiro livro com o título “Economia e felicidade” (1917), foram pronunciadas em 1933, mas parecem dos nossos dias.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 29/12/2013
A centralidade do consumo não é um facto inédito ou típico da sociedade atual. Relevante e nova é a incapacidade de perceber como é invasiva a cultura do consumo e dos rendimentos que infelizmente caraterizou muitas civilizações decadentes, tornando-as semelhantes. O fenómeno do consumo tem raizes muito antigas e é geralmente coisa boa, pois quando são negados os bens para o consumo são também negados direitos e liberdades.
[fulltext] =>O homo sapiens não só precisou de consumir para sobreviver, como sempre falou com palavras e com bens, desde as pérolas que eram oferecidas aos povos que chegavam do mar, até ao bolo-rei que também nós podemos encontrar à entrada de casa na manhã de Natal porque, na noite anterior, colocámos um cartão de boas festas à porta dos novos vizinhos: essas ‘coisas’ falaram antes das (tímidas) palavras que se trocaram.
As civilizações que precederam a nossa aprenderam porém – muitas vezes à custa de alto preço – que o consumo das coisas deve ser educado, orientado, e também limitado. Na cultura medieval esta verdade era centralíssima. Basta pensar na substância das ‘leis sumptuárias’ nas cidades medievais, normas que limitavam o consumo de bens de luxo, desde o comprimento da cauda dos vestidos (que chegavam a ter metros) à altura de torres e campanários.
Quase sempre estas leis antigas são hoje lidas numa perspetiva puramente moralista. Na realidade continham uma mensagem – útil ainda hoje – que parte da constatação, empírica e não ideológica, dos danos individuais e coletivos produzidos por consumos intemperados, ilimitados, sem controle, sobretudo dos bens hoje designados pelos economistas ‘bens posicionais’. Na verdade, existem bens de consumo que não são adquiridos com vista ao seu uso típico, mas para competir e se confrontar com os outros, ou para ‘posicionar-se’ nas hierarquias sociais. Dantes eram os fatos, as casas e as carruagens que se usavam para competir e rivalizar com os ‘concorrentes’ da cidade. Hoje estes ‘bens posicionais’ cresceram desmesuradamente; não são apenas automóveis e iates de luxo, mas também os smartphones e muitos outros bens que consumimos para competir e nos confrontarmos com os outros.
Deve aqui fazer-se referência ao consumo dos novos bens tecnológicos associados a imagens de si pós-modernas e ‘smart’ que acendem a fantasia; provocam filas de horas na frente das lojas quando são lançados modelos novos. Olhando estes novos consumos um pouco mais em profundidade, descobriríamos coisas de que talvez se não fale suficientemente. Para começar, dar-nos-íamos conta de que estes novos bens de consumo são o produto de uma poderosíssima indústria que movimenta enormes capitais; que, sendo pós-moderna pela tipologia dos bens que produz, é muito tradicional no que se refere à evasão fiscal. Um enorme investimento publicitário potencia estes consumos e coloca-os no centro do sistema capitalista que cresce alimentando-os.
São muitos os efeitos colaterais desta grande ‘máquina posicional’. O primeiro é o empobrecimento das classes mais frágeis que esbanjam em consumos posicionais os seus rendimentos, cada vez mais pequenos. É impressionante como aumenta a exploração do endividamento dos pobres; para comprar estes novos ‘bens’ de consumo acabam por roubar o pão dos (seus e nossos) filhos. Um segundo efeito tem a ver com o deslocamento de recursos que o enorme investimento para melhorar eficiência e conforto de telemóveis e tablet produz nos setores ‘não posicionais’ ou comuns (a arte, por exemplo) ou onde não há suficiente retorno económico mas que são fundamentais para a qualidade moral da sociedade (p. ex. as doenças raras). Um terceiro efeito põe diretamente em causa o nosso bem-estar. Muitos estudos, entre os quais os de Daniel Kahneman, prémio Nobel, mostram que desde há já mais de uma década o dinheiro e energias gastos em consumos posicionais produzem um aumento de prazer que dura o que dura a experiência da novidade, isto é, poucos dias (telemóveis) ou poucos meses (automóveis e casas).
Na verdade, é preciso estar consciente de que muitas das inovações nos setores das novas tecnologias têm como principal objetivo aumentar a dimensão ‘comfort’ destes bens, reduzindo a dimensão de ‘criatividade’ (também presente). Por mais simpáticas que sejam, e muito cómodas, as apps e os tablet reduzem o nosso empenhamento no processo que vai da produção ao consumo de bens e serviços; reduzem também criatividade e felicidade – começa-se a vê-lo mesmo em crianças. Não sempre, mas muitas vezes. “Uso o guia das ruas e não o navegador para não perder capacidades”, confidenciou-me uma vez um taxista romano. Por outras palavras, a revolução tecnológica de última geração – pelo menos nesta fase – está a aumentar a nossa tendência para ser consumidores, não produtores e trabalhadores. O discurso é diferente quando as novas tecnologias, apps e tablet aumentam a criatividade produtiva e o uso de bens comuns.
Não se trata de pôr em dúvida a importância destes novos bens, mas apenas de usar o sentido crítico e tomar consciência de que as grandes multinacionais usam as inovações tecnológicas não para aumentar a criatividade e a autonomia dos cidadãos, mas para criar sempre mais comfort e consumidores que substituam rapidamente aqueles bens que devem envelhecer ainda mais rapidamente. Precisamos, pois, de tudo fazer para que a revolução das novas tecnologias não nos prenda dentro de casa ‘entretidos’ e cómodos. A qualidade das democracias dependerá muito da nossa capacidade de não confiar as novas tecnologias apenas ao capitalismo for-profit, mas de considerá-las como novos direitos de cidadania, acessíveis a todos, principalmente aos mais pobres, e de regular o seu uso e gestão, como acontece hoje com os bens de utilidade pública. E de potenciar a dimensão de dom e de gratuidade sempre presente também nestes novos bens de consumo, contrariando a forte tendência a privatizar e comercializar os novos bens tecnológicos (o uso gratuito de redes WiFi nas nossas cidades, estações e aeroportos diminui de maneira preocupante).
A história (desde o império romano ao Renascimento tardio) diz-nos que as sociedades progridem quando as pessoas orientam a sua natureza competitiva e agonística na produção e no trabalho; retrocedem e precipitam-se em ratoeiras de pobreza quando competem principalmente com o consumo e em vista de rendimentos que o tornam possível sem trabalho. Quando – ontem e hoje – para dizer quem somos e ser considerados, trabalhamos mais e melhor, a dinâmica social produz bem-estar para todos; pelo contrário, quando compramos o novo automóvel de luxo ou o novo modelo de tablet para conseguir o aplauso (ou a inveja?) dos outros, as nossas relações tornam-se estéreis, caem em dilemas sociais, com o tempo embrutecemos; e, sobretudo, investimos os nossos recursos em modos e lugares improdutivos. Até porque a lógica posicional nega a natureza verdadeira e civil do mercado, que não é uma competição desportiva mas mútua vantagem (A. Smith), mútua assistência (A. Genovesi).
Para concluir, nos Países latinos, onde ainda é bem viva a arcaica ‘cultura da vergonha’ e da ‘boa figura’, caímos mais facilmente nestas ratoeiras posicionais. Como em primeira mão nos mostrou Amintore Fanfani (que foi um notável historiador económico), nas sociedades de matriz católica e comunitária as pessoas tendem a competir consumindo, ao passo que os nórdicos, protestantes e individualistas, competem sobretudo produzindo e trabalhando. O capitalismo atual, com um golpe de génio (ainda todo por explorar), fez a fusão do ‘melhor’ destes dois humanismos, dando origem a uma cultura do consumo individualista e posicional, que nos está empobrecendo e entristecendo. “A felicidade” – sussurrou-me na noite de Natal, com um fio de voz, o meu velho professor Giacomo Becattini – “não está no consumir muitos bens. A felicidade está em possuir alegremente alguns bens, tendo-os produzido alegremente”.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 29/12/2013
A centralidade do consumo não é um facto inédito ou típico da sociedade atual. Relevante e nova é a incapacidade de perceber como é invasiva a cultura do consumo e dos rendimentos que infelizmente caraterizou muitas civilizações decadentes, tornando-as semelhantes. O fenómeno do consumo tem raizes muito antigas e é geralmente coisa boa, pois quando são negados os bens para o consumo são também negados direitos e liberdades.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 22/12/2013
A fragilidade moral e civil do nosso tempo é também consequência da expulsão dos carismas da vida pública e de carismas que, com demasiada tranquilidade, aceitaram a marginalização, retirando-se. Quando faltam os carismas, ou quando são considerados apenas uma coisa “religiosa” e por isso irrelevante para a vida civil, a economia, a política, a sociedade perdem o rumo porque lhes falta o recurso essencial da gratuidade. De fato, existe um nexo inseparável entre carismas e gratuidade.
[fulltext] =>A gratuidade entra no mundo, transformando-o todas as manhãs, através de duas grandes vias. A primeira alberga-se dentro de nós, pois cada ser humano tem uma capacidade natural de gratuidade. A própria vida, o modo como viemos ao mundo, é a primeira grande experiência de gratuidade; descobrimo-nos vivos, chamados à existência, sem o termos escolhido, como dom primordial e constitutivo de toda a gratuidade. Por este motivo, também, talvez não exista ato de gratuidade maior que o de uma mãe que permite vir à luz uma criança não desejada. É esta vocação natural à gratuidade que nos leva a atribuir imenso valor à gratuidade dos outros e nos faz sofrer muito quando a nossa gratuidade não é reconhecida, apreciada, agradecida. Não haverá, talvez, sofrimento espiritual mais forte do que ver a nossa gratuidade calcada, ofendida, mal entendida (pelos outros). Se a gratuidade não estivesse já em nós, não poderíamos reconhecer e nem apreciar a gratuidade dos outros, ficaríamos fechados na armadilha do próprio narcisismo e seríamos incapazes de verdadeira beleza e de qualquer virtude. Por esse motivo, a gratuidade é uma dimensão constitutiva do humano, de todo e qualquer humano, mesmo do homo oeconomicus que, pelo contrário, hoje sistematicamente a nega, a expulsa (do seu mundo). Sem gratuidade o senhor Silva permanece sempre e apenas o cliente, colega ou fornecedor; é a gratuidade que o faz ser Manuel. Ou então relega-a para espaços de profissionais da gratuidade (non-profit?), onde ela morre porque lhe falta o ar livre das praças e o rumor vivo das fábricas. A massa precisa do fermento, mas também o fermento precisa da massa.
A segunda via mestra de gratuidade são os carismas, os dons da charis (graça, gratuidade). De vez em quando, muito mais frequentemente de quanto se possa pensar, chegam até nós pessoas com uma vocação especial de gratuidade. Tais portadores de carismas “não ordinários” atuavam antigamente, sobretudo, no interior das religiões ou das grandes filosofias. Hoje encontram-se também em outros espaços do humano: desde a economia à política, do ambientalismo aos direitos humanos. E são muitos; mas raramente temos capacidade cultural e espiritual para reconhecê-los. Sem gratuidade não há carisma; por isso os tantos fenômenos que na esteira do sociólogo Max Weber são hoje chamados “carisma” ou “carismático” são outra coisa, muitas vezes ambivalente, por vezes péssima. Os carismas aumentam e reforçam a gratuidade na terra, e fazem-na acordar ou ressuscitar em quantos os encontram. Descobrem o “já” da nossa gratuidade e fazem florir o “ainda não”. Cada encontro verdadeiro com um carisma é o encontro com uma voz que interpela a nossa gratuidade; e se parece estar morta diz-lhe: “Talitha kumi”, menina levanta-te.
Precisaria escrever enciclopédias sobre o papel essencial dos carismas na vida econômica e civil, a começar pelas coisas menos óbvias. Por exemplo, uma dimensão dos carismas e da gratuidade-charis é a sua “naturalidade”, que os torna irmãos da terra e revela a gratuidade escondida, de modo misterioso, mas real, na natureza. Quando nos deparamos com um autêntico portador de carisma, seja ele um cooperador social ou a fundadora de uma comunidade religiosa – já encontrei e continuo a encontrar muitos e sempre saí melhor desses encontros –, a primeira e mais radical experiência que se faz é a sensação física de estar perante pessoas que nos querem bem e fazem bem ao mundo com a sua presença. Não parecem pessoas melhores ou mais altruístas que os outros, mas gente que é e faz aquilo que é. O carisma não é primariamente uma questão de ética; é algo de antropológico e ontológico: é o ser que se manifesta e resplandece. A gratuidade é um exercício ordinário da sua vida quotidiana (mesmo se são necessárias muitas virtudes para a não perder pelo caminho). Assim os carismas são, simultaneamente, a pura espiritualidade e a pura laicidade. Como são também a maior das mansidões e a mais radical denúncia e ação para ‘derrubar os poderosos dos tronos’. Esta dimensão “natural” dos carismas, por exemplo, faz com que quem se sente beneficiado por esta gratuidade não se sinta devedor. Esta gratuidade retira dos dons o seu demônio (o hau, como o chamam os habitantes da Polinésia); e desse modo liberta-nos, e torna esta reciprocidade um encontro de liberdade.
É muito importante esta amizade entre a gratuidade e a natureza. A árvore cresce e dá fruto porque é feita assim; não poderia fazer de outro modo. O riacho se lança no lago porque obedece a uma lei natural. De modo igual o carisma: quem o recebe age porque “é feito desse modo”, e porque “não poderia fazer outra coisa”. Sabe que deve proteger e alimentar esse “algo” que o habita, mas antes ainda, sabe que esse algo ou alguém que lhe fala dentro e o guia age por uma força própria, embora, paradoxalmente, o carisma seja também a parte melhor e mais verdadeira de si. É esta dinâmica de “intimidade-alteridade” que impede ao seu portador apoderar-se do próprio carisma e usá-lo para vantagem pessoal (quando o faz, o carisma desaparece), que garante a gratuidade. Uma dinâmica que vale para os fundadores de comunidades carismáticas, mas também para cada membro destas comunidades que, por isso, não é o seguidor de um movimento, nem membro de uma organização, mas uma pessoa guiada a partir de dentro porque habitada pelo mesmo carisma do fundador. Os franciscanos não seguem, nem muito menos imitam Francisco, mas com Francisco, seguem o seu mesmo carisma e tornam-se no tempo aquilo que são já. Nisto se esconde o mistério dos carismas, de todos os carismas religiosos e dos laicos – se quisermos mesmo distingui-los – e da sua típica liberdade.
É aqui que se descobre também uma profunda analogia entre o carismático e o artista: ambos são “servidores” de um daimon, de um Espírito, obedecem a uma voz, sabem vencer a morte. Teresa de Ávila e Caravaggio foram realidades morais muito diversas, mas ambos tornaram melhor e mais belo o mundo, amaram-nos e amam-nos gratuitamente. É aqui que a gratuidade se cruza também com a beleza que com ela tanto se assemelha (será esta a etimologia de “gracioso”?). Ambas dizem o valor intrínseco da vida, que vem antes de qualquer preço, antes da reciprocidade, antes até do olhar do outro. Era a beleza-gratuidade que fazia embelezar e decorar os palácios e as abóbodas de catedrais; e que hoje impele Joana a preparar a mesa com todo o cuidado, embora ela, tendo ficado viúva e só, a não vá partilhar com ninguém.
Os carismas chegam ao mundo para o bem de todos, mesmo de quem os não vê ou até despreza. Mas chegam, sobretudo, para os pobres. Se não existissem os carismas, os pobres não seriam vistos, amados, cuidados, salvados, estimados: <Hoje a salvação chegou à nossa comunidade: uma família com cinco filhos, todos deficientes> (Don Lorenzo Milani). É o olhar diferente dos carismas que dá aos pobres esperança, alegria, e muitas vezes os faz renascer. E é o olhar dos pobres que torna vivo o carisma, o não deixa morrer nem tornar-se mera instituição.
São os carismas e a gratuidade deles que nos revelam o Natal. E é o Natal que nos manifesta a charis. Um feliz Natal para todos.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 22/12/2013
A fragilidade moral e civil do nosso tempo é também consequência da expulsão dos carismas da vida pública e de carismas que, com demasiada tranquilidade, aceitaram a marginalização, retirando-se. Quando faltam os carismas, ou quando são considerados apenas uma coisa “religiosa” e por isso irrelevante para a vida civil, a economia, a política, a sociedade perdem o rumo porque lhes falta o recurso essencial da gratuidade. De fato, existe um nexo inseparável entre carismas e gratuidade.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 15/12/2013
Inovação está a transformar-se na nova palavra de ordem do séc. XXI. Mas, como frequentemente acontece, as coisas mais interessantes e verdadeiramente relevantes começam com os predicados, verbos e adjetivos, porque se faltar a capacidade de articular um bom discurso em torno da inovação, depressa este fascinante substantivo terá o mesmo fim de tantas grandes palavras que estamos desgastando e assim banalizando (mérito, eficiência e, dentro em breve, democracia).
[fulltext] =>O pai da teoria da inovação foi Joseph A. Schumpeter que, há pouco mais de um século (A teoria do desenvolvimento económico, 1911), apresentou uma visão da economia de mercado dinâmica, histórica e capaz de explicar o que estava verdadeiramente a acontecer ao capitalismo do seu tempo. Os clássicos são importantes, sabemos, não tanto pelas respostas que deram – ligadas ao seu período histórico e, por isso, provisórias – mas pelas perguntas que formularam. Algumas das perguntas de Schumpeter são fundamentais: qual a natureza do lucro e do empresário? Como nasce o desenvolvimento económico? Qual a função do crédito e da banca? O centro lógico destas perguntas é precisamente a categoria de inovação pois, se não houvesse empresários e banqueiros inovadores, mas apenas instituições rotineiras em busca de rendimentos, não haveria verdadeiro desenvolvimento económico.
Há, no entanto, muitas outras coisas a dizer sobre a semântica da inovação.
Os mais de 26 milhões de desempregados na Europa, entre os quais muitos jovens, a vulnerabilidade e a tristeza crescentes de tanta gente, são sinais inequívocos de que o nosso tempo precisa de inovações grandes, de ‘cumeeira’. Não as que se ensinam nas business schools, nem as que inventam os nossos pobres jovens para participar em complicadíssimos concursos europeus (provas cada vez mais escritas por funcionários que inovações verdadeiras nunca viram, cheiraram ou tocaram fora dos gabinetes onde trabalham), nem as que são descritas em fastidiosos livros e sites web de boas práticas inovadoras.As grandes inovações não se aprendem em nenhuma escola. Precisam de vocações, daquele recurso cada vez mais escasso e gasto do capitalismo do nosso tempo que deseja inovação: a gratuidade.
Normalmente, a grande inovação na ciência e também na economia e na vida civil, surge quando se procura outra coisa. Foi o que aconteceu e acontece em algumas importantes descobertas científicas (a penicilina, por exemplo); muitas vezes na pesquisa matemática, mas também mais simplesmente na livraria, onde vou para procurar um livro e acabo por ver o livro ao lado que me abre um mundo novo (até por isso as livrarias e as bibliotecas são indispensáveis). É uma versão da chamada serendipidity, que toma o nome do conto A Peregrinação dos três jovens filhos do rei de Serendipo, de Christoforo Armeno, viajante originário de Tabriz (Veneza, 1557). Outras vezes as inovações grandes surgem como ‘reciclagem’ para um uso diverso de algo que na origem tinha sido criado para outras funções. É o fenómeno que os biólogos evolutivos chamam exaptation que, entre outras coisas, explica a história evolutiva das asas que originariamente se desenvolveram para regular a temperatura do corpo e depois foram ‘recicladas’ para o voo. Algo semelhante aconteceu com a internet e em outros casos (do gravador de som aos CD).
A serendipity e a exaptation são importantes também porque incorporam alguma coisa de análogo à gratuidade. A gratuidade não é o que é grátis (preço zero), mas tem valor infinito; não é o desinteresse, mas o interesse por todos e de todos. Quando se age com esta gratuidade não se segue a lógica do cálculo instrumental meios-fins, mas ama-se aquela dada atividade ou pessoa por si e antes dos resultados que produz, por uma excedência ética, antropológica, espiritual. Se o cientista não se imerge nas suas pesquisas e se deixa guiar pela lei intrínseca da ciência; se o artista não ama a obra que está criando por si mesma; se o empresário não se apaixona pela sua empresa; se o futuro santo não se esquece do préjio da santidade e ama com agape, é muito difícil que cheguem grandes descobertas, empresas, obras de arte, a santidade. Poderão talvez criar pessoas muito bem educadas, pequenas obras e as inovações ‘de chãos’ como as que todos os dias surgem em departamentos de pesquisa e desenvolvimento ou de marketing. Mas nos centros de pesquisa e desenvolvimento não surgem a Divina Comédia, a sexta sinfonia de Tchaikovsky, Nelson Mandela não se torna Madiba. Para estas inovações é necessária gratuidade, excedência gratuita capaz de criar valor infinito.
Também as grandes inovações económicas e sociais precisam desta gratuidade. Sobretudo têm necessidade essencial das inovações de ‘cumeeira’ as quais, diversamente das inovações de ‘chãos’, são criadas por aqueles que, por vocação, estão no cume das montanhas, de onde se veem e abrem novos horizontes. Foi a excedência gratuita de Bento que resgatou o trabalho da escravidão e a dos franciscanos e de muitos párocos e cooperadores que deu vida às grandes inovações dos bancos para os pobres. Foram a gratuidade excedente de Francisco de Sales ou de Camilo de Lelis que inventaram o “estado social” para os excluídos do seu tempo, e a de muitas fundadoras de escolas para meninas pobres que deram início ao abecedário da longa viagem da mulher para a igualdade de direitos e de oportunidades, uma longa marcha que continua com as muitas Malala Yousafzai. Foi a gratuidade excedente de Gandhi que libertou a Índia e combateu o sistema de castas, dando assim origem a um dos maiores milagres civis e económicos da história. Para estas inovações são necessários os carismas, religiosos e laicos, pessoas capazes de ver diversamente, das cumeeiras do agape, as pedras rejeitadas pelo seu tempo e de transformá-las em pedras angulares.
De excedência gratuita e inovadora está cheia a terra. Talvez ninguém poderia salvar-se e resgatar-se da mediocridade se não fizesse durante a sua vida pelo menos uma ação de excedência gratuita. Mas hoje precisaríamos também de novas grandes inovações ‘de cumeeira’, para uma grande mudança da história. Para tais inovações, porém, é necessária uma energia quase infinita, de gratuidade. As inovações de cumeeira são sempre mestiças, promíscuas, mistas, contaminadas e entrelaçadas; sobretudo as económicas, não nascem em laboratórios; são fruto da capacidade geradora de povos, gerações, culturas. Quando estas inovações florescem no terreno da economia, quem as realiza sabe olhar mais alto e mais longe que a mera economia; e nesse ‘outro lugar’ encontra também novos recursos económicos. Na história económica e civil tivemos inovações de cumeeira quando – graças a carismas também políticos e económicos – soubemos olhar para territórios para onde ninguém olhava, ou onde quem olhava via somente problemas.
Voltaremos a fazer boa economia se formos capazes de olhar para outros lados e descobrirmos novas oportunidades de inclusão dos excluídos por este sistema: imigrantes, jovens, idosos e todos os pobres de ontem e de hoje. A igreja do Papa Francisco está criando um ambiente propício para possíveis novas grandes inovações sociais e económicas de cumeeira. Mas para que este ambiente seja povoado por novo trabalho, direitos, vida, precisaria da força de Isaías e de Jeremias; ou a força dos carismas. Uma Catarina de Sena, um Dom Bosco, um Martin Luther King olhariam hoje para as nossas cidades das suas cumeeiras. Descobririam nas multidões a fome de trabalho e de vida verdadeira, o medo do presente e do futuro dos filhos. Comover-se-iam, amar-nos-iam com o seu olhar diferente e alto, e começariam logo a agir, inovando verdadeiramente. Mas onde estão os profetas de hoje?
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Todos os comentários de Luigino Bruni no 'Avvenire' estão disponíveis no menu Editoriais AvvenireInovação - Léxico do bom viver social/12
por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 15/12/2013
Inovação está a transformar-se na nova palavra de ordem do séc. XXI. Mas, como frequentemente acontece, as coisas mais interessantes e verdadeiramente relevantes começam com os predicados, verbos e adjetivos, porque se faltar a capacidade de articular um bom discurso em torno da inovação, depressa este fascinante substantivo terá o mesmo fim de tantas grandes palavras que estamos desgastando e assim banalizando (mérito, eficiência e, dentro em breve, democracia).
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 08/12/2013
No subsolo da nossa cultura civil e econômica crescem duas tendências opostas: a primeira é a progressiva aproximação entre cultura e linguagens de mercado – o capitalista e os da economia social; a segunda é a crescente contraposição sobre a avaliação ética do mercado. Para uns o mercado capitalista é a solução de todos os males econômicos e civis; outros, pelo contrário, o consideram o ídolo de todos os males morais, sociais e políticos.
[fulltext] =>Os primeiros querem uma sociedade guiada e administrada apenas, ou principalmente, pelos valores e instrumentos do mercado (desde a privatização dos bens comuns à compra e venda de órgãos); os segundos pretendem banir o mercado de quase todos os âmbitos humanos moralmente relevantes, confiná-lo num espaço muito restrito e controlado. Com a globalização e a crise financeira e econômica este confronto ideológico, que tem pelo menos duzentos anos de vida, está vivendo uma nova temporada.
Há dez anos seria impensável que se tornassem best seller livros escritos por economistas, pró e contra os mercados. Esta nova época de discussão, no entanto, não tem a força espiritual e comunitária dos antigos humanismos populares, dos intelectuais; tendo perdido contato com os lugares vitais não tem o sabor quente do pão e o odor salgado do suor. E o confronto – muito relevante e esquecido pela nossa cultura – está se transformando num dos grandes freios da busca de uma nova fase de concórdia e de unidade que, ao invés, seria indispensável. Entre outras coisas, impede que se compreendam e combatam as deformações e doenças dos mercados concretos (não dos imaginários).
O empenho em gerar esta concórdia e diálogo não é uma operação fácil porque vai à direção oposta à primeira tendência de aproximação que, pelo contrário, está sempre mais produzindo um abaixamento, um nivelamento cultural por baixo.
As empresas tradicionais assumiram uma linguagem “social” que tem muita retórica e pouca convicção. E há um movimento de economia tradicionalmente não capitalista que há anos tenta macaquear a linguagem (em inglês fingido) a cultura, consultores, categorias do pensamento econômico dominante; danoso processo de sincretismo. Uma imitação que, muitas vezes, tem origem num complexo de inferioridade cultural.
A nova síntese e o novo diálogo construtivo que precisamos são outra coisa, bem mais trabalhosa e profunda. Antes de tudo, será necessário reconhecer que a história do mundo real nos ofereceu mercados reais muito mais vitais, abertos, não ideológicos e inesperados que os imaginados e previstos naquelas teorias. As experiências econômicas mais relevantes e duradouras que aumentaram o bem-estar real do povo, a democracia e o Bem comum foram sempre, todas elas, experiências mistas de mercado e de social. O mercado real funcionou verdadeiramente quando se contaminou nos espaços sociais, quando conseguiu habitar e incluir as periferias. E quando não o fez – quando não o faz – produziu mal-estar e tornou-se inimigo das pessoas e dos pobres para conseguir lucro até com “o refugo do trigo”. O nosso melhor passado remoto e próximo é fruto da mescla de mercados e reciprocidade. O movimento cooperativo, os distritos industriais, as empresas familiares são filhos de encontros entre as linguagens do mercado com as do dom.
As famílias sempre souberam que as empresas são assunto muito importante e essencial para o seu bem. É delas que vem trabalho e salário; é nesses lugares abertos e duros que se alimentam sonhos e vida verdadeiros. As pessoas sempre habitaram e viveram os mercados reais como lugares humanos, praças e lojas cheias de gente, de odores, sabores e palavras; não nos esqueçamos ainda que, durante décadas, os mercados foram dos pouquíssimos lugares de vida pública, soberania e protagonismo de muitas nossas mães e avós.
A grande e longa história da relação entre mercados e vida civil é, sobretudo, uma história de amizade e aliança. Mesmo quando se discutia e lutava nas fábricas, a parte melhor do País – filiada nos diferentes partidos – sabia que dentro das fábricas se produziam coisas boas, para eles e para toda as pessoas. Discutia-se e lutava-se, mas sabia-se que o mundo, o deles e o de toda a gente, seria pior sem aquelas fábricas. Lutavam também porque as amavam.
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Fomos capazes de resistir nas duríssimas épocas do pós-guerra, do terrorismo, das lutas ideológicas e políticas radicais e violentas porque o país real fazia uma experiência de unidade nas fábricas, na terra, nos escritórios, nas cooperativas e teceu laços sociais que ainda duram e nos amparam. Sobrevivemos trabalhando juntos, trabalhadores, donas de casa, sindicatos, agricultores, empresários, banqueiros, políticos. Discutindo e lutando nas fábricas e nas praças; mas sobretudo trabalhando e sofrendo juntos; também por este motivo é urgente gerar novo trabalho. Sobreviveremos se ainda formos capazes de encontrar unidade no trabalho, unidade econômica e civil.
Na origem das civilizações, o dom e a troca interessada não se conseguiam distinguir. Doava-se como via para a troca que um dia se tornou o mercado. Este dado antropológico diz muito também sobre o nexo inverso: revela-nos que no mercado existe e resiste muito dom. Se assim não fosse, bem pouca e triste coisa seria dirigir-se por dezenas de anos todas as manhãs ao trabalho – aqueles que têm o “dom” do trabalho – ou gastar os melhores anos da vida numa fábrica ou num escritório; bem triste e pouca coisa seriam os nossos projetos e sonhos de trabalho, pobres demais as relações de trabalho, muito poucas as horas de vida verdadeira. Todos o sabem, sempre o soubemos. Mas nesta fase de pensamento econômico e social débil e superficial, é bom recordá-lo a nós mesmos e a todos.
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Todos os comentários de Luigino Bruni no 'Avvenire' estão disponíveis no menu Editoriais AvvenireMercado - Léxico do bom viver social/11
por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 08/12/2013
No subsolo da nossa cultura civil e econômica crescem duas tendências opostas: a primeira é a progressiva aproximação entre cultura e linguagens de mercado – o capitalista e os da economia social; a segunda é a crescente contraposição sobre a avaliação ética do mercado. Para uns o mercado capitalista é a solução de todos os males econômicos e civis; outros, pelo contrário, o consideram o ídolo de todos os males morais, sociais e políticos.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 01/12/2013
Progressivamente os bens comuns estão se tornando cada vez mais escassos e críticos, mas estão ainda muito ausentes da cultura e da praxis econômica e política. Em economia, os bens comuns entraram em cena em 1911; após um longo eclipse, regressaram no final do século passado com Elinor Ostrom, Nobel de Economia em 2009. Naquele primeiro artigo – escrito por uma mulher, Katharine Coman – surgem já as três notas principais dos bens comuns; era um estudo sobre a água, numa perspectiva histórica.
[fulltext] =>Ainda hoje a água está no centro do debate sobre bens comuns e representa o seu paradigma até porque, ao contrário dos bens econômicos, não tem substitutos. É famosa a frase de Lanny Bruce: “Inventei a água em pó, mas não sei em quê dissolvê-la”. A perspectiva histórica também é essencial porque, para saber como geri-los (os bens comuns) é sempre necessário perguntar como surgiram e como foram conservados ao longo do tempo.
Sem o recurso da memória – que não é nem nostalgia, nem recordação, mas um passado a serviço do presente e do futuro – não se compreende nem o substantivo (bens) nem o adjetivo (comuns). Para administrar bem estes bens é preciso ter filhos e netos, amar gratuitamente os filhos e os netos dos outros e ser capaz de entrever – com os olhos da alma – os que não nasceram ainda e os que nasceram noutras paragens. Cada criança é uma forma muito especial de bem comum que, para crescer e não morrer – como diz a cultura africana – precisa da “aldeia inteira”.
Para conservar um bosque é necessário saber cuidar e amar cada arbusto que tem já em si a floresta inteira de hoje, de ontem e de amanhã. E por fim a terceira nota, a dimensão feminina. Foram de mulheres a primeira e (até agora) a última teoria dos bens comuns. Não foi por acaso. Os bens comuns são essencialmente questão de relacionamentos porque são uma relação entre pessoas mediada pelos bens. Sem ter presente a dimensão relacional da vida e da economia, uma relação que atravessa o tempo e as gerações, os bens comuns, primeiro, nem se veem; depois não se compreendem e finalmente destroem-se. A mulher tem por vocação o primado da atenção intrínseca ao relacionamento e, por isso, à transmissão da vida; o seu olhar e a sua carne ligam entre si as gerações e as tornam irmãs. A economia capitalista faz um grande esforço para compreender os bens comuns porque – geralmente – não aborda os problemas na perspectiva histórica (nem geográfica), não vê relações, mas sim indivíduos separados, e toda ela está definida no interior do registro masculino da racionalidade. Por isso, a principal – se não única – perspectiva econômica sobre bens comuns é a sua destruição, desde o já clássico texto de Hardin sobre a ‘tragédia dos bens comuns’ de 1967; um artigo muitas vezes citado (vezes demais...), mas raramente lido em toda a sua complexidade e ambivalência.
Para compreender e salvar os bens comuns e, sobretudo, para criar novos é essencial saber colher a dimensão relacional. Como eles são criados, usados e protegidos por muitos, para poder dizer ‘é meu’ é preciso dizê-lo em coro, transformando o ‘meu’ em ‘nosso’ e em ‘de todos’ os cinco pães e dois peixes que matam a fome de multidões. Na criação e gestão dos bens comuns está pois inscrita uma norma de reciprocidade. Como nos mostrou o filósofo inglês Martin Hollis (Trust, 1998), a típica reciprocidade dos bens comuns responde à “lógica do suficiente”. Quando decido doar do que é meu para realizar um ‘nosso’, não pretendo garantias contratuais, nem a certeza de que todos os outros cidadãos irão fazer o mesmo; ao mesmo tempo, no entanto, preciso pensar e acreditar que ‘bastante’ concidadãos fazem como eu; porque se pensasse ser o único, ou quase, a doar sangue ou a pagar impostos seria fortemente tentado a deixar de fazê-lo. Na verdade, muita gente faz mesmo assim. Muitos, sim, mas não todos. Se numa comunidade não existirem pessoas que, por alguma razão, são capazes de ir além desta lógica de reciprocidade (importante e necessária, em todo o caso), os bens comuns não nascem e não se mantêm. Para pôr em movimento uma ação ecológica na cidade, para fazer nascer uma forma de economia partilhada, para deixar de pagar o imposto às máfias, para salvar da morte um bosque ou uma associação, para assinalar e mapear os caminhos de montanha, é necessário que exista um grupo de cidadãos, ainda que pequeno, que faça de motor de arranque, que comece a comprometer-se sem garantia de reciprocidade nem de sucesso. Nestes ‘cidadãos starter’ entra em ação um tipo especial de lógica que podemos chamar do “melhor eu só, do que ninguém”. Sabem que a sua doação é de risco, muitas vezes posta em ridículo, considerada ingênua, talvez até explorada por oportunistas; mas, tomando a peito esse bem comum e o Bem comum, preferem ocuparem-se sozinhos daquele bem a vê-lo morrer, esperando (sem o exigir) que amanhã a sua ação seja imitada. É fator crítico que entre estes starter civis existam alguns com o dom especial de sanar e acudir a conflitos relacionais, inevitáveis quando se usam em conjunto os bens comuns.
É a presença indispensável da gratuidade de risco e vulnerável, concretizada, sobretudo, nos ‘starter’, que explica e revela a etimologia do bem comum. Comum provém de cummunus, onde ‘cum’ nos diz o conjunto e 'munus' diz, simultaneamente, dom e obrigação. Os bens comuns são questão de dom, mas também de obrigação para com os outros, as gerações futuras e passadas que nos deixaram em guarda o seu patrimônio (patres-munus), mas também a obrigação para conosco mesmos, obediência ao insistente chamamento da nossa interioridade e consciência.
Por todas estas razões os bens comuns são dificilmente administráveis pelo mercado capitalista. No mínimo, é muito triste, se não escandaloso, continuar a assistir sem nada dizer, conformados com especuladores que se estão apropriando de água, terra comum, florestas, matérias primas, mas também de solo público das cidades, onde a busca do máximo lucro sobre bens que não lhes pertencem porque são de todos, se transforma em mais um imposto implícito para os cidadãos, porém um imposto que não entra na tesouraria do município, mas na conta dos acionistas. Quando os Municípios irão promover uma aliança com a sociedade e empresas civis para administrar sem objetivo de lucro, mas de modo eficiente, o solo, a água, os espaços verdes, as estradas? E quando irão os Estados tomar consciência de que a mercificação (muito mais que a privatização) de bens comuns (desde autoestradas a transportes públicos) é uma via míope e sem pensamento econômico e social profundo?
A sociedade de mercado capitalista produz muito bem, e cada vez mais, os ‘bens de clube’, os bens que, diferentemente dos bens comuns, não são acessíveis a quem não é proprietário ou associado. Os bens de clube (pensemos nos bairros privados) são criados e administrados vigiando e mantendo bem à distância os excluídos, sobretudo os pobres, dos quais se protegem com direitos de propriedade, portões e cada vez mais vigilantes privados. Foi a regra fundamental da ‘porta aberta’ que impediu que as cooperativas se tornassem bens de clube. Não esqueçamos, depois, que na nossa época uma alta forma de bem comum é fazer nascer uma verdadeira empresa, na qual alguém corre riscos para criar trabalho e riqueza para muita gente e bens para todos; uma doença do tempo atual, provocada pelo domínio da finança e da sua cultura, é a transformação das empresas de bens comuns em bens de clube. Uma empresa-bem comum é a que cria riqueza para os seus proprietários e para toda a comunidade; por isso precisa da ‘aldeia inteira’ para não morrer; a empresa-clube, pelo contrário, é a que nasce e morre, e faz morrer, para vantagem especulativa exclusiva do seu proprietário.
Conseguiremos viver juntos, e viver bem, enquanto soubermos ver, criar, amar e não destruir os bens comuns que são a pré-condição e o húmus dos bens privados. Mas temos extrema necessidade de antigos e novos ‘starter’, cidadãos capazes por vocação de gerar e proteger os bens comuns, o Bem comum, capazes de sinalizar caminhos de vida para todos.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire em 01/12/2013
Progressivamente os bens comuns estão se tornando cada vez mais escassos e críticos, mas estão ainda muito ausentes da cultura e da praxis econômica e política. Em economia, os bens comuns entraram em cena em 1911; após um longo eclipse, regressaram no final do século passado com Elinor Ostrom, Nobel de Economia em 2009. Naquele primeiro artigo – escrito por uma mulher, Katharine Coman – surgem já as três notas principais dos bens comuns; era um estudo sobre a água, numa perspectiva histórica.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 24/11/2013
As comunidades florescem quando são aptas para a cooperação. Se não tivéssemos iniciado a co-operar (agir juntos) a vida em comum não teria sequer tido início; teríamos ficado evolutivamente bloqueados na fase pré-humana. Como com frequência acontece a grandes palavras do humano, também a cooperação é ao mesmo tempo una e múltipla, muitas vezes ambivalente; e as suas formas mais relevantes são as menos óbvias. Sempre que seres humanos atuam em conjunto e se coordenam para chegar a um resultado comum, mutuamente vantajoso, estamos perante a cooperação.
[fulltext] =>Um exército, uma liturgia religiosa, uma aula na escola, uma empresa, a ação do governo, o sequestro de uma pessoa, são tudo formas de cooperação; mas referem-se a fenômenos humanos muito diferentes entre si. Daqui deriva uma primeira consequência: nem todas as cooperações são coisa boa; existem cooperações que, aumentando embora as vantagens dos sujeitos nela envolvidos, fazem piorar o bem comum porque prejudicam alguém exterior àquela cooperação. Para distinguir a boa da má cooperação é necessário antes de tudo observar os efeitos que tal cooperação intencionalmente produz sobre pessoas externas.
Ao longo da história, teorias políticas e econômicas separaram-se em duas grandes famílias. As que partem da hipótese de que o ser humano não é naturalmente capaz de cooperar e as que, pelo contrário, reivindicam a natureza cooperativa da pessoa. O principal representante da segunda tradição foi Aristóteles: o homem é animal político, capaz de diálogo com os outros, capaz de amizade (philia) e de cooperação para o bem da pólis. O expoente mais radical da primeira tradição, do animal insociável, foi Thomas Hobbes: “É verdade que alguns viventes, como as abelhas e as formigas, vivem juntas socialmente. Por isso há quem goste de saber porque os homens não fazem o mesmo” (O Leviatã, 1651). No interior desta tradição anti-social move-se muita da filosofia política e social moderna; os antigos e os medievais (incluindo S. Tomás) eram geralmente do parecer de Aristóteles. Poderíamos dizer também que a principal questão da teoria política e econômica modernas foi o tentar explicar como podem surgir êxitos cooperativos a partir de seres humanos que não são capazes de cooperação intencional, porque dominados por interesses egoistas.
Muitas teorias do ‘contrato social’ (nem todas) foram a resposta da filosofia política da modernidade a essa questão: indivíduos egoistas, mas racionais, compreendem que é do seu interesse criar uma sociedade civil com um contrato social artificial. O homem natural é incivil e por isso a sociedade civil é artificial. A resposta da ciência econômica moderna àquela questão são as várias teorias da ‘mão invisível’, para as quais o bem comum (‘a riqueza das nações’) não nasce da ação cooperativa intencional e natural de animais sociais, mas sim do jogo de interesses privados de indivíduos egoistas separados entre si. Na base destas duas tradições encontramos a mesma hipótese antropológica: o ser humano é uma ‘tábua torta’; sem que seja preciso endireitá-la, produz boas ‘cidades’ se for capaz de criar instituições artificiais (contrato social, mercado) que trasformam as paixões auto-interessadas em bem comum.
É então que se desvela um mistério do mercado: também a sociedade de mercado tem uma sua forma de cooperação; para tal cooperação, porém, não se pede qualquer ação conjunta dos ‘cooperantes’. Quando entramos numa loja para comprar pão, o encontro entre comprador e vendedor não é descrito nem vivido como ato de cooperação intencional: cada um procura o próprio interesse e realiza a contra-prestação (dinheiro por pão; pão por dinheiro) apenas como meio para obter o próprio bem. E, no entanto, aquela troca melhora a condição de ambos, graças a uma forma de cooperação que não exige qualquer ação conjunta. O bem comum torna-se assim uma soma de interesses privados de indivíduos reciprocamente imunes que cooperam sem se encontrarem, tocarem, olharem.
É dentro da empresa que encontramos a cooperação intencional ou forte, já que a empresa é uma rede de ações conjuntas e cooperativas com vista a objetivos em máxima parte comuns. Deste modo, quando adquiro um bilhete Roma-Málaga, entre mim e a companhia aérea não existe nenhuma forma de cooperação intencional; apenas interesses separados paralelos (viagem e lucro); entre os membros da tripulação do vôo, porém, deve existir uma cooperação forte, explícita e intencional. Daqui deriva que, enquanto (quase) nenhum economista pensaria numa teoria de mercado baseada na ética de virtudes, no que se refere às teorias da empresa e das organizações são já muitas as ‘éticas dos negócios’ fundadas na ética das virtudes de Aristóteles e Tomás.
A divisão do trabalho nos mercados e grandes sociedades é uma grande cooperação involuntária e implícita; a divisão do trabalho dentro da empresa, pelo contrário, é cooperação no sentido forte, ação voluntária conjunta. O capitalismo de matriz anglo-saxônica e protestante fez assim nascer um modelo dicotômico, como que uma reedição da ‘Doutrina dos dois reinos’, luterana (e agostiniana). Nos mercados existe a cooperação implícita, ‘fraca’ e não-intencional; na empresa e nas organizações em geral, pelo contrário, temos a cooperação explícita, forte e intencional. Duas cooperações, duas ‘cidades’, profunda e naturalmente diversas entre si.
No entanto, esta cooperação não é a única possível nos mercados. A versão europeia – de modo especial a latina – da cooperação nos mercados era diferente, porque a sua matriz cultural e religiosa não era individualista mas sim comunitária. Entre nós a distinção entre cooperação ad-intra (na empresa) e cooperação ad-extra (nos mercados) nunca se afirmou, pelo menos até tempos recentes. É a tradição da designada Economia civil, que leu a economia toda e a sociedade como um fato de cooperação e de reciprocidade. A empresa familiar (na Itália ainda 90% do setor privado), as cooperativas – segundo Adriano Olivetti – explicam-se tomando a sério a natureza cooperativa e comunitária da economia. Por isso o movimento cooperativo europeu foi a expressão mais típica da economia de mercado europeia. Tal como os distritos industriais (Prato para a fiação, Fermo para o calçado) o são (ou foram): inteiras comunidades tornaram-se economia sem deixar de ser comunidades. Assim, o capitalismo EUA tem como modelo o mercado anônimo e procura “mercantizar” (tornar mercado) até a empresa que cada vez mais é vista como um novelo de contratos, uma ‘commodity’ (mercadoria), ou como um mercado com fornecedores e clientes ‘internos’. Pelo contrário, o modelo europeu procurou ‘comunitarizar’ (tornar comunidade) o mercado, tomando como modelo de boa economia a mutualista e comunitária, exportando-o da empresa para a totalidade da vida civil (cooperação de crédito e de consumo); assumindo custos e benefícios desta operação: uma economia mais densa de humanidade e de alegria de viver mas mais densa também daquelas feridas que encontros humanos abertos em todas as direções não conseguem evitar.
O modelo EUA está hoje colonizando até os últimos territórios de economia europeia, também porque a nossa tradição comunitária e cooperativa, no plano cultural e prático, nem sempre esteve à altura (do desafio); não se desenvolveu em todas as regiões; e, na Itália, teve que fazer as contas com o trauma – ainda não completamente resolvido – de (com o corporativismo) o fascismo se ter auto-proclamado legítimo herdeiro da tradição da empresa cooperativa. A ‘grande crise’ que estamos vivendo, porém, diz-nos que a economia e a sociedade fundadas sobre a cooperação-sem-tocar-nos-outros pode produzir monstros e que o business (que é) apenas business no final torna-se anti-business. O ethos do Ocidente é um misto de cooperações fortes e fracas; indivíduos que fogem dos laços das comunidades à procura de liberdade e pessoas que, para bem viverem, livremente se ligam. Numa fase da história em que o pêndulo do mercado global tende para o lado dos indivíduos-sem-laços, a Europa deve recordar, protegendo-a e vivendo-a, a natureza intrinsecamente civil e social da economia.
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Cooperação - Léxico do bom viver social/9
por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 24/11/2013
As comunidades florescem quando são aptas para a cooperação. Se não tivéssemos iniciado a co-operar (agir juntos) a vida em comum não teria sequer tido início; teríamos ficado evolutivamente bloqueados na fase pré-humana. Como com frequência acontece a grandes palavras do humano, também a cooperação é ao mesmo tempo una e múltipla, muitas vezes ambivalente; e as suas formas mais relevantes são as menos óbvias. Sempre que seres humanos atuam em conjunto e se coordenam para chegar a um resultado comum, mutuamente vantajoso, estamos perante a cooperação.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 17/11/2013
Está surgindo uma nova procura de participação no consumo, na economia e no uso dos bens. Por exemplo, uma diferença radical entre a Internet de 10-15 anos atrás – predominantemente constituída por sites web e e-mail – e a web das redes sociais e das Apps é um maior envolvimento e protagonismo dos habitantes da rede que somos nós. Analogamente, hoje em dia a TV não emite apenas programas para ‘telespectadores’; pede-nos para votar no melhor cantor ou jogador. E o interessante é que as pessoas participam, investem tempo para dizer a sua opinião e para se sentirem parte ativa de uma nova forma de comunicação: para fazer uma experiência.
[fulltext] =>Muitos de nós dedicamos tempo – e muito – para anonimamente escrever ou melhorar as definições de Wikipédia (a enciclopédia da web) ou para aperfeiçoar um software livre. É como se estivéssemos criando novas ‘praças’, nas quais as pessoas estão voltando, de modo diferente e com prazer, para falar, perder tempo desinteressadamente. Um fenômeno certamente ambivalente; mas a ambivalência pode ser também o início de um processo criativo.
Para homens e mulheres nunca foi suficiente o mero consumo de bens. Animais simbólicos e ideológicos que somos, sempre pedimos mais aos produtos que consumimos: do status social à representação de um futuro melhor durante presentes de indigência. Através dos bens quisemos falar, contar histórias, descrever-nos aos outros e ouvir o que os outros dizem. Fazer experiências. Alguns bens estão de tal modo ligados a uma experiência que os economistas os designaram “bens de experiência” (experience goods); são os bens que apenas conseguimos compreender e avaliar após termos feito uma experiência direta e pessoal. São bens de experiência quase todos os bens culturais e turísticos. Só posso avaliar se valeu a pena o bilhete para ver um museu quando o visito, não antes; compreendo se o preço de um fim de semana de turismo rural era razoável apenas quando me encontro no local, vejo a paisagem, o ambiente e conheço os donos da casa. O mercado não gosta desta incerteza e procura oferecer-nos alguns dos elementos decisivos para avaliar antecipadamente um hotel ou restaurante. Surge então o site cada vez mais rico de fotografias e, sobretudo, o peso crescente de opiniões de clientes, hoje em dia de tal modo importantes que corremos o risco de ver nascer um mercado incivil de compra e venda de opiniões positivas e negativas (para os concorrentes).
Aqui são oportunas algumas considerações importantes para compreender a evolução do nosso sistema econômico e social. Antes de tudo, nos bens de experiência resultam decisivos os elementos complementares. Posso ter o mais belo local arqueológico do mundo, mas se não existir um sistema territorial completo em funcionamento (transportes, hotel…), o valor daquele bem despenca, e com ele cai o valor de uma região inteira. Posso descobrir um local de turismo de habitação nas Marcas (região da Itália central, a sul da Toscana) numa ótima ‘location’, mas se quando chego lá não encontro aquele estilo relacional fruto de séculos de cultura de acolhimento que se traduz em mil pormenores concretos, o valor daquelas férias desaparece ou redimensiona-se muito. Nestes bens colhe-se na sua pureza um dos traços mais complexos e misteriosos da sociedade de mercado. Quando um inglês vem passar férias na Toscana ou em Andaluzia, procura também as dimensões intrínsecas das respetivas culturas que não são simples mercadorias. Sabe certamente que o resort e o restaurante típico são empresas comerciais e que por isso respondem à lógica do lucro, mas parte do bem-estar daquelas férias, por vezes a parte mais consistente, depende da presença de contextos culturais que embora entrando (e como!) no preço do alojamento ou da refeição não são simples mercadorias ‘produzidas’ por aqueles empresários com mero objetivo de lucro. Tanto que o valor de assistir a uma verdadeira festa popular ou a uma autêntica reevocação histórica é imensamente maior que representações de folclore artificialmente incluídas no menu do restaurante. Por outras palavras: nos territórios que habitamos existem patrimônios culturais que são autênticos bens comuns (e não bens privados), acumulados ao longo de séculos, que se tornam também uma vantagem competitiva das empresas e que geram lucros. É necessário protegê-los, porque deles depende muita da nossa força econômica e civil presente e, mais ainda, futura.
Um segundo âmbito é, depois, o designado consumo crítico e responsável. O que nos leva a entrar nas lojas civis e especiais do comércio équo é, sobretudo, a busca de uma experiência. Para isso é essencial falar com quem lá trabalha, ouvir contar as muitas esplêndidas histórias dos bens, fazer ‘falar’ as pessoas que os produziram; entreter-se, porventura, trocando umas palavras acerca do capitalismo que vivemos, ou saudar um outro cliente que estiver foi para fazer a mesma experiência que nós. O valor deste consumo não está confinado apenas ao bem (e às relações de produção que ele incorpora); mas está também na experiência interpessoal que fazemos quando entramos numa loja, numa agência de banco, ou num mercado. A ética sem experiência é mera ideologia.
Por fim, precisamos tomar consciência de que todos os bens de mercado estão se tornando bens de experiência. Trata-se de um paradoxo central na economia de mercado do nosso tempo. Por um lado, o mercado precisa produzir um volume crescente de bens sem muitas variantes, já que as economias de escala e as exigências de custo apontam para consumos de massa de produtos semelhantes para que possam ser reproduzidos, com poucas variantes e a baixo custo, em todo o mundo. Assim se orientaram as empresas do séc. XX. Mas estas empresas encontram-se hoje, também, perante uma tendência oposta. A democracia e a liberdade geram milhões de pessoas com gostos e valores diferentes; cada um sabe que é único e não redutível a uma classificação genérica. Então, as grandes empresas que tinham crescido com a mentalidade do consumo de massa, precisam reformular-se profundamente. Por um lado, é atraente ter, também nós, exatamente aquele tipo de computador ou celular/telemóvel status simbol; ao mesmo tempo, porém, gostaríamos que o nosso PC tivesse algo único, desenhado só para mim; isto é, gostaria que a experiência que faço com aquele PC seja única e só minha, porque apenas eu sou eu. Eis, então, que se abrem perspetivas intrigantes para o próximo futuro industrial e econômico. As empresas de sucesso, também em escala mundial, serão as capazes de combinar produtos que possam ser vendidos em mercados cada vez mais globais (e hoje a rede permite-o até a pequeníssimas empresas operando em Madras, Lanciano ou Lisboa), mas sobretudo capazes de envolver o ‘consumidor’ numa experiência na qual não se sente um anônimo e clone possuidor e utilizador entre muitos outros, mas uma peça única. Compreende-se, então, que nos aguarda um grande desenvolvimento de artigos ‘faça você mesmo’ mais sofisticados que os atuais, constituídos por uma combinação de bens normalizados, de assistência técnica e da nossa criatividade no personalizar habitações, jardins, sites e, no futuro, inteiros bairros e cidades. Se soubermos olhar dentro do ambivalente mercado televisivo de última geração, por exemplo, podemos já encontrar lá algo desse tipo ou pelo menos tentativas mais ou menos felizes de ir nessa direção.
Quando saímos de casa para ir aos mercados procuramos experiências maiores que as coisas que compramos. Frequentemente, porém, os bens não mantêm as suas promessas, porque as experiências que fazemos são pobres demais em comparação com a nossa sede de infinito. Então, desiludidos mas prontos a esquecer desilusões de ontem, recomeçamos todas as manhãs as nossas liturgias econômicas, à procura de bens, de sonhos, de relacionamentos humanos, de vida.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 17/11/2013
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 10/11/2013
Existe uma lei económica e social importante, muitas vezes esquecida. Luigi Einaudi chamava-lhe “A teoria do ponto crítico”, e considerava-a “fundamental quer na ciência económica, quer na política” (Lezioni di politica sociale, 1944); atribuía-a ao seu conterrâneo Emanuele Sella (economista e poeta que escreveu até um tratado de economia “trinitária”). A ideia é que existe um limiar – invisível mas real – um ponto crítico, para além do qual um fenómeno positivo se torna negativo, mudando de sinal ou de natureza. A lei do ponto crítico poderá ser hoje aplicada às finanças; e também aos impostos (quando vão além de certo limite acabam por penalizar os contribuintes honestos que os pagam).
[fulltext] =>Escrevia Einaudi: “é razoável que todas as famílias desejem ter um rádio. Mas a rádio pode transformar-se num perfeitíssimo instrumento de imbecilidade dos ouvintes. A passagem de uma rádio que diverte e instrui, que faz esquecer as dificuldades, a uma rádio que é causa de imbecilidade das pessoas é gradual”. Mudando o objeto do seu discurso, se no lugar de ‘rádio’ (hoje um dos mais criativos e críticos media) pusermos ‘TV’, a lógica da sua análise torna-se atualíssima e poderá ser estendida a todos os bens de conforto.
Nas primeiras fases do desenvolvimento, a disponibilidade de bens que geram conforto é importante para o bem-estar. São muitos os exemplos: considere-se o que representou a invenção da máquina de lavar para o bem-estar das nossas avós e mães; aquele bem de conforto tornou-se um aliado do bem delas e de todos nós. Ou a introdução da pay-tv que permitiu ver o jogo de futebol em casa, no quentinho e sem risco. Algo de análogo sucedeu depois com a chegada dos social media; e também com o telemóvel, os automóveis confortáveis, as casas grandes. Mas são já muitos os estudos que dizem que os efeitos dos bens de conforto no bem-estar mudam de sinal, ou de natureza, quando se ultrapassa um ponto crítico. São muito úteis as refeições pré-cozidas quando se chega tarde e se tem só vinte minutos para preparar o jantar; mas se com o tempo se tornam a única coisa que existe no frigorífico, e nos tiram a alegria de preparar um almoço (saudável), porventura em companhia, é provável que a nossa vida piore de qualidade. É ótimo passar no facebook, sobretudo para ‘chatar’ com alguém que conhecemos off-line. Mas se se passam seis ou oito horas por dia na web, o efeito dos novos media no bem-estar muda radicalmente. Se o consumo de futebol na poltrona de casa aumentasse a ponto de esvaziar os estádios, o bem-estar que nos daria o ver na TV um jogo disputado em recintos quase vazios tornar-se-ia bem pouco e acabaria por ditar o fim daquele desporto (e daquele mercado).
A questão fulcral é esta: porque caímos nós nestas ratoeiras, e não paramos antes de ultrapassar o ‘ponto crítico’? São muitas as razões. A primeira deixa-a entrever o mesmo Einaudi: a gradualidade. O ponto de viragem é ultrapassado aos poucos e sem que as pessoas se dêm conta, ou apercebendo-se disso tarde demais. Uma segunda explicação chama-se “saliência”: existe em nós uma forte tendência a ver mais os bens de conforto e a ver menos bens como os relacionais e civis. No cálculo do peso relativo que os diversos tipos de bens têm para a nossa felicidade, sobrestimamos as mercadorias e subestimamos os bens não de mercado que, sendo mais ordinários e correntes (as relações familiares, a democracia...), são menos vistos, são menos salientes – exceto o darmo-nos conta do seu valor e do seu preço, quando os perdemos. Por fim, o nosso mercado capitalista: existe toda uma indústria, sempre muito aguerrida, orientada racionalmente a vender bens de conforto, mas ninguém paga publicidade para investir em bens relacionais ou em liberdade – interessante, a este respeito, o “spot impossível” (no youtube) criado pelo meu amigo e colega Stefano Bartolini.
No texto que citei Einaudi alude ainda a outro âmbito: “Uma sociedade de gente obediente torna-se depressa vítima do tirano ou de funcionários e mandarins. Chamava-se ‘Regra’ a norma que S. Bento, S. Francisco e outros grandes fundadores deram às ordens monásticas. Enquanto os conventos foram pobres, apenas pessoas dispostas ao sacrifício lá entravam. Desse modo o convento prosperava; e as doações dos fiéis afluíam; muitos desejavam entregar-se a ele, com a família e os bens. Mas a riqueza gera corrupção. … Em todo o lado, cem anos depois da fundação, mais ou menos, assiste-se ao mesmo processo”. Aqui a ultrapassagem de um ponto crítico produz a degeneração de um elemento que, com o tempo, de bom que era se transforma no seu oposto (submissão, acumulação de riqueza …). É a expressão de uma antiga regra de ouro: frequentemente, os comportamentos viciosos mais não são que primitivas virtudes que se perverteram por querer salvar a forma e não a substância que as tinha gerado – a prudente poupança que se torna avareza; o lucro justo que evolui para renda parasitária. A fidelidade incondicional à letra do fundador de movimentos culturais ou espirituais, por exemplo, que na primeira geração tinha sido um elemento vital e essencial para o nascer e crescer daquelas experiências, a certo ponto avia um mecanismo autodestrutivo que impede a vital necessidade de renovação e de reformadores, até à morte em nome de antigas virtudes (fidelidade) gradualmente transformadas em vícios (imobilismo). Os movimentos monásticos, franciscano ou dominicano vivem ainda à distância de séculos também porque foram capazes de gerar muitos reformadores, criativamente fiéis.
Existem algumas dicas para evitar, prevenir ou, pelo menos, gerir estas crises que por vezes se transformam em verdadeiras ‘mortes por ultrapassagem do ponto crítico’. Primeira regra fundamental é tomar consciência individual e coletiva – no tempo ainda feliz – que o ponto crítico existe e que pode ser ultrapassado sem que se dê conta disso. Saber que se poderá facilmente cair nestas ratoeiras é o primeiro antídoto que as permite evitar, sobretudo se a regra for assumida na governance e como prudência institucional. Mas ainda mais importante é a presença, ou introdução, de uma cultura jubilar. No povo de Israel cada cinquenta anos os bens voltavam aos antigos proprietários, as dívidas eram anuladas. Se movimentos e comunidades nascidas de ideais voltassem periodicamente a ser pobres, abrindo mão e restituindo à circulação bens acumulados em decénios e voltassem a colocar-se “ao longo do caminho”, então reencontrariam a força profética que entretanto tinham naturalmente perdido; e encontrariam nas periferias, muita gente à procura daqueles mesmos ideais que não encontram já nos lugares da vida ordinária do seu tempo.
Não é difícil verificar, por fim, que no Ocidente ultrapassámos já alguns pontos críticos, provavelmente sem disso nos apercebermos ou não querendo ouvir quem no-lo dizia ou mesmo gritava – até porque quando o ponto crítico é ultrapassado, o facto desaparece do horizonte visual da civilização, fica para trás das costas. Ultrapassámo-lo, ou estamos muito próximos disso, no ambiente natural, nos capitais espirituais, no uso da água, no consumo de solo público, em muitos tecidos comunitários, no uso de incentivos, de controles, da concorrência, ou na suportação da injustiça do mundo. Ultrapassámos por certo o ponto crítico da vida exterior (consumos, mercadorias, técnica), e assim parece-nos normal a grande carestia e incapacidade de interioridade, de meditação, de oração em que gradualmente precipitámos. A mesma sorte coube à imunidade. A boa conquista moderna de espaços e momentos de vida privada imune de poderosos e patrões, transformou-se numa ‘cultura da imunidade’ na qual já não se abraça, nem sequer se toca , ninguém, cultura que está a fazer murchar tudo e todos; e assim uma maré cheia de solidão está inundando cidades e vidas. Habituamo-nos a sofrer sozinhos, a morrer sós, a crescer sozinhos em quartos fechados, vazios de pessoas amigas; mas cheias de demónios que nos roubam os filhos.
Falar destes grandes temas civis é um primeiro passo decisivo para tomar deles consciência e para não ultrapassar outros pontos críticos que surgem no horizonte. Para nos determos ou mesmo voltar atrás: em alguns raros mas luminosos casos os povos foram capazes de fazê-lo.
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Todos os comentários de Luigino Bruni no 'Avvenire' estão disponíveis no menu Editoriais AvvenirePonto crítico - Léxico do bom viver social/7
por Luigino Bruni
publicado em Avvenire dia 10/11/2013
Existe uma lei económica e social importante, muitas vezes esquecida. Luigi Einaudi chamava-lhe “A teoria do ponto crítico”, e considerava-a “fundamental quer na ciência económica, quer na política” (Lezioni di politica sociale, 1944); atribuía-a ao seu conterrâneo Emanuele Sella (economista e poeta que escreveu até um tratado de economia “trinitária”). A ideia é que existe um limiar – invisível mas real – um ponto crítico, para além do qual um fenómeno positivo se torna negativo, mudando de sinal ou de natureza. A lei do ponto crítico poderá ser hoje aplicada às finanças; e também aos impostos (quando vão além de certo limite acabam por penalizar os contribuintes honestos que os pagam).
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