stdClass Object ( [id] => 17474 [title] => O reino é de todos os pobres [alias] => o-reino-e-de-todos-os-pobres [introtext] =>Regenerações / 13– Francisco e Job moram juntos. Como as crianças
por Luigino Bruni
publicado no Avvenire no dia 25/10/2015
“Ah, não queres,
apavora-te a pobreza,
não queres ir com sapatos furados ao mercado e voltar com o velho vestido. Amor, não amamos,
como querem os ricos,a miséria.
Nós a extirparemos como dente maligno, que até agora matou o coração do homem”Pablo Neruda, A pobreza
Há dois milênios que o ‘sermão da montanha’ tenta resistir aos ataques de quem procurou e procura alterá-lo, ridicularizá-lo ou transformá-lo em inútil exercício de consolação. Esta luta da pura radicalidade das bemaventuranças é particularmente evidente e forte na bem-aventurança dos pobres.
[fulltext] =>Um processo de reorganização do seu alcance iniciou-se muito cedo, quando se começou a realçar muito o “de espírito”, que encontramos no Evangelho de Mateus, deixando cada vez mais escondidos os “pobres”, graças às exegeses sempre novas e criativas daquela bem-aventurança. Por isso, escreveu-se e disse-se que “bemaventurados” não são os verdadeiros pobres, mas quem vive o desapego espiritual das riquezas. Quem partilha os seus bens ou quem os usa para o bem comum. Tudo coisas verdadeiras e também presentes na Bíblia, mas que nos afastaram do simplicíssimo e tremendo “bem-aventurados os pobres”.
Não é fácil compreender e amar esta primeira bem-aventurança. O primeiro obstáculo, quase insuperável, é a condição real e concreta dos verdadeiros pobres: como podemos chamá-los bem-aventurados quando os vemos deformados pela miséria, abusados pelos poderosos, morrer no meio do mar, apagarem-se nas nossas periferias? Que felicidade conhecem? Assim, acontece que os maiores críticos desta primeira bem-aventurança são os que gastam a sua vida para libertar os pobres da sua miséria. Os maiores amigos dos pobres acabam por se tornarem,frequentemente, os maiores inimigos de “bem-aventurados os pobres”.
Pelo contrário, se queremos experimentar compreender, amar, mudar esta primeira bem-aventurança, é necessário atravessar o seu terreno paradoxal, escandaloso e até manipulatório – muitos ricos encontraram na bemaventurança dos pobres um alibi espiritual para os deixar bem-aventurados na sua condição de depravação e de miséria, ou autodefinindo-se ‘pobres de espírito’?! Não devemos cometer o erro, muitíssimo comum, de reduzir o alcance desta felicidade louca para a reintroduzir nas nossas categorias, amputando, como no mito, as pernas que ficam de fora das nossas camas demasiado curtas. Os paradoxos do evangelho e da vida não se resolvem reduzindoos, mas ‘alongando as camas’, formando categorias que estejam à sua ‘altura’.
Um primeiro indício para entrar na primeira bem-aventurança, encontramo-lo no próprio texto: é o Reino dos céus. A felicidade dos pobres está toda em viver já no reino. O reino “é” seu, hoje, não “será” amanhã. A bem-aventurança dos pobres não tem necessidade do ainda não.
Os pobres são bem-aventurados porque são habitantes do Reino dos céus. Bastaria apenas esta frase para compreender – ou, pelo menos, intuir – algo do significado desta bem-aventurança que, não por acaso, é a primeira. Entre os pobres, chamados bem-aventurados, estão os marginalizados, os sem teto, os que tinham pouco ou nada para viver. Mas também os leprosos, as viúvas (e quase todas as mulheres), os órfãos (e quase todas as crianças), pessoas que, não casualmente, eram os principais amigos e companheiros de Jesus, durante a sua vida. Pobre era a maior parte dos seus discípulos, que o encontraram pelos caminhos da Palestina, gente comum, como nós, que se puseram a caminhar atrás e juntamente com ele. Já eram pobres ou tornaram-se pobres encontrando um outro reino, seguindo uma outra felicidade. Ao dizer ‘bem-aventurados os pobres’, Jesus falava aos seus e fala, agora, a nós.
Somente os pobres vivem no Reino dos céus, o reino habitado pelos homens e pelas mulheres das bem-aventuranças: mansos, puros, perseguidos, misericordiosos, famintos de justiça, aflitos, pobres. Um reino diferente daqueles que governam as nossas sociedades, mas que nunca deixou de estar no meio de nós. Um reino, onde se conhece a providência, que apenas os pobres experimentam: a providência é para Lúcia, não para Dom Rodrigo. As festas mais bonitas são as festas dos pobres: talvez não haja na terra coisas mais alegres que casamentos e nascimentos celebrados por pobres, no meio de pobres. As crianças gostam das festas e dos presentes porque – e enquanto – são pobres.
Os ricos não entram neste reino, não por castigo, mas simplesmente porque não o compreendem, não o veem, não o desejam. Estão interessados nos reinos da terra, não no dos céus. Se o Reino dos céus é dos pobres, então não é dos ricos, a não ser que se tornem pobres, abandonando os seus ídolos. O reino dos céus é o lugar das relações não-predadoras com as coisas e com as pessoas, onde a lei áurea á e gratuidade.
Alguém tentou, no decorrer da história, levar a sério esta bem-aventurança. Um destes é Francisco de Assis, o que mais nos revelou o que significa “bem-aventurados os pobres”. Francisco é esta bem-aventurança incarnada, aquela palavra feita carne. O caminho de Francisco não é o único para entrar, como pobre, no reino, mas depois do “poverello” (=pobrezinho) (pauperculus) não é possível dispensar a sua pobreza para compreender verdadeiramente a da bem-aventurança. Se não fosse assim, os carismas seriam apenas experiências privadas, inúteis à humanidade de todos e de sempre. Francisco é o grande e eterno mestre da bem-aventurança da pobreza, da alegria diferente de um outro reino. Sempre que alguém escolhe tornar-se pobre, encontra Francisco, mesmo que o não reconheça (ele encontrou Jesus nos leprosos e não o sabia; todos os pobres, por escolha, encontram também Francisco, mesmo que o não saibam).
Nem todos os cristãos nem todos os homens escolhem a “senhora pobreza”, mas a alegria típica da pobreza verdadeira e não ideológica só a conhecem Francisco e os/as que são como ele. A fraternidade cósmica, o cântico das criaturas, a liberdade absoluta, os beijos na boca e nas mãos dos leprosos, a perfeita felicidade, só podem nascer de quem está dentro daquela bem-aventurança e vive num reino diferente. Não é obrigatório ser pobre, nem sequer na igreja: os ricos não são excluídos dos sacramentos, são muitas vezes louvados e agradecidos pelos próprios pobres. Fazem sempre parte, legítima e também importante, das comunidades cristãs. Vivem mais tempo, com mais instrução e saúde, angariam sucessos e aplausos. Mas não são habitantes daquele reino, não conhecem aqueles céus, não veem aquelas estrelas, longínquas e esplêndidas. Há também esta justiça no mundo, e é grande.
Mas há mais. A felicidade nasce de uma pobreza escolhida e a sua bem-aventurança é evidente a quem a escolhe e a quem a conserva. Mas entre os pobres que seguiam Jesus não havia só os que se tornaram pobres por escolha. Havia muitos pobres-e-basta, pessoas que não tinham escolhido a pobreza, mas que se encontraram nela desde o nascimento, ou que se tornaram isso após uma doença ou de infortúnio. Entre os pobres chamados bem-aventurados, havia alguns “Francisco”, mas havia também muitos “Job”, isto é, pobres não por escolha mas apenas pelo destino ou por desgraça. A força impressionante da primeira bem-aventurança está em se dirigir aos pobres-Francisco e aos pobres-Job. Ambos são habitantes daquele reino diferente. E se o reino é seu, ali não são súditos, mas soberanos.
Mas, enquanto é relativamente fácil captar a bem-aventurança de Francisco, é operação muito mais difícil, dolorosa, que ronda o absurdo, que contém o paradoxo, chamar “bem-aventurado” a tantos Job da terra e da história. Mas, se não incluímos também Job naquele “bem-aventurados os pobres”, reduzimos-lhe muito o alcance e transformamo-lo em ideologia. Devemos conseguir compreendê-la e repeti-la na alegria de Assis, mas também ao lado de tantos “montes de estrume” onde vivem a permanecem os pobres-Job. A bem-aventurança deve ser verdadeira também para quem não escolheu a pobreza, mas simplesmente a sofreu. O Reino dos céus é – deve ser – o reino de Francisco e o de Job, juntos. Pobres-por-escolha ao lado de pobres-e-basta, todos irmãos, todos bem-aventurados. Não é sentirmo-nos felizes que nos faz bem-aventurados: a bem-aventurança nasce da condição objetiva do ser pobre. Não é um sentimento: é um ser, um habitar. Não há amizade mais verdadeira e maior que a que existe entre os pobres, entre pobres-Francisco e pobres-Job. Para a encontrar, basta ir a alguma missão em África, mas também às estações ferroviárias Termini ou Ostiense, em Roma, onde diversos pobres vivem, abraçam-se e ‘dançam’ juntos, diferentes e iguais, cidadãos do mesmo reino.
O livro de Job tinha-nos dito, com um custo elevadíssimo, que também o pobre pode ser justo e inocente – não esqueçamos que naquele mundo, e no nosso, a riqueza era sinal de bênção e a pobreza sinal de maldição. O evangelho encontra Job e todos os pobres e anuncia-lhes algo de novo e de grandioso: “Não sois apenas inocentes: sois bem-aventurados”. As dificuldades permanecem, mas a partir daquele dia chegou também a bem-aventurança, que redimiu uma história infinita de pobres condenados pelas religiões dos ricos de ontem e de hoje.
A bem-aventurança da pobreza pode chegar tarde, muito tarde, na vida das pessoas justas: por vezes é a última bem-aventurança. Para divisar um outro reino é preciso caminhar muito e, se a vida nos faz nascer e viver na riqueza e na abundância de bens e de talentos, é preciso muito esforço, muitas provas e muita dor-amor para conseguir alcançar a bem-aventurança da pobreza. Frequentemente é preciso toda a vida – e, por vezes, não é suficiente – para se tornar, finalmente, pobre, crianças e “nus”, comos viemos ao mundo, e recitar, por fim, a maior oração: “Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor me deu, o Senhor me tirou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jb 1, 20-21). Pode-se chegar pobre, pode-se voltar à pobreza. As portas do Reino estão sempre abertas e esperam-nos.
Acreditar e esperar que a primeira bem-aventurança é também para aqueles pobres que não receberam um carisma para compreender a felicidade da pobreza escolhida, é uma mensagem de grande esperança. Poucos se podem tornar pobres-Francisco. Mas todos nos podemos tornar pobres-Job. Então, todos podemos habitar no reino, talvez só nos últimos anos, meses, dias da nossa vida. E, quando na última hora, voltarmos, finalmente, a ser pobres, o salário do reino será também para nós. “Bem-aventurados vós, pobres, porque é vosso o reino dos céus”.
“Regenerações” foi um percurso inesperado, imprevisto, surpreendente, para mim esplêndido. Das virtudes e não-virtudes das empresas chegámos às bem-aventuranças, atravessando palavras esquecidas e humilhadas. A partir do próximo domingo, recomeçarei, com nova coragem (do Diretor e minha) o comentário de um outro grande livro: o Qohelet, esperando novas surpresas e novos céus. Conto, também desta vez, com a companhia e a ajuda dos leitores, que continuam a criar comigo estes comentários dominicais. E, como sempre, obrigado a quem me seguiu até aqui.
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire no dia 18/10/2015
“Estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós. Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus”
São Paulo, Carta aos Romanos, 8, 18-19
São muitas as guerras que decorrem no nosso planeta, nas nossas cidades, nos nossos bairros. As armas são muitas e diferentes, mas todas provocam muitos mortos, feridos e destruição. Passam os milénios, mas o irmão continua ainda a repetir ao outro irmão: “vamos para o campo”.
[fulltext] =>Mas, sempre que recompomos a paz, depois dos conflitos, Abel revive, Adão passeia de novo com Elohim, no jardim da terra, conseguimos olhar-nos “olhos nos olhos”, na reciprocidade plena e na gratuidade absoluta. Sempre que construímos e reconstruímos a paz, a nossa ação estende-se também à criação, à natureza, à terra. E, quando deixamos de ser guardiães e negamos a paz, também a terra, os animais, as plantas, ficam feridos, mortos, humilhados, inocentes arrastados, navoragem da nossa violência. Vemo-lo todos os dias, cada vez mais claramente.
A paz, o shalom, é uma grande parábola bíblica. Está entre as mais recorrentes, fortes, exigentes. A primeira aliança de Elohim com os homens aparece para restabelecer uma paz-felicidade originária negada, para regenerar o shalom primordial, traído pelo pecado de Caim e pelos outros, também atrozes, dos seus filhos. É preciso um primeiro construtor de paz, Noé, para fazer brilhar um novo arco-íris na terra, para tornar ainda possível uma recriação do mundo e dos homens. Os construtores de paz são sempre construtores de arcas para salvar a humanidade apodrecida. São os justos que sentem um chamado para deixar a sua terra, para salvar a terra de todos. Se o mundo vive ainda, apesar de todo o mal que geramos, é porque Noé nunca deixou de construir arcas. Os profetas e os muitos “bem-aventurados” de história mantiveram vivo o arco-íris no céu, nunca deixando de construir a paz numa terra sempre banhada pelo sangue dos irmãos. A mão de Noé e dos construtores de arcas de paz tem sido, até agora, mais forte e criativa que as mãos de Caim e dos armadores dos navios de guerra.
Aos construtores de paz não é prometida a terra, nem a visão de Deus nem a misericórdia. É-lhes prometido apenas um nome: “Serão chamados filhos de Deus”. Porém, um nome imenso, o maior de todos, e apenas usado por eles. Os construtores de paz são os pacificadores, os que recompõem relações quebradas, que gastam a vida para resolver os conflitos gerados pelos outros. Deixam a sua vida tranquila para tornar mais pacíficas as vidas dos outros. Tornam-se construtores de paz, edificadores deste shalom bíblico, apenas por vocação. Não é apenas uma questão de generosidade ou de altruísmo, mesmo quando a construção e a reconstrução da paz faz parte da nossa missão. A estas vozes, a estes chamados interiores, não se consegue resistir: são eficazes. E não se resiste mesmo quando não sabemos de quem nem donde provem a voz que nos chama: para ser construtores de paz é suficiente ouvi-la e responder-lhe.
O nosso tempo conhece muitas formas de guerra e, por isso, conhece também muitas construções de paz. Mas, se o dilúvio universal não volta e a vida continua, é porque, no meio das guerras, alguém continua a construir a paz, a introduzir no corpo células estaminais que o regeneram – ou, pelo menos, não o deixam morrer. Alguém que, enquanto os lobbies do azar travam a sua guerra contra pobres inofensivos, procura sabotar um pouco, alguma da sua “caça”, montar hospitais de campanha para curar os feridos, encontrar os seus generais para implorar uma paz que nunca mais chega. Também são construtores de paz quem sofre porque não consegue construir paz impossível e não desiste. Também um construtor de paz impotente e falhado continua sendo um construtor de paz. Não sabemos se, no reino dos construtores de paz, são mais os que veem chegar a paz após as suas ações ou os que passam toda a vida a construir a paz que nunca veem chegar. E assim, enquanto se multiplicam as construções de morte, enquanto os governos aumentam os investimentos em armas e em salas de jogos de azar, enquanto as nossas crianças continuam a ser mortas ao longo das estradas do Brasil e de muitos outros lugares, Noé obedece à voz que o chama e, também hoje, constrói a sua arca.
Mas o Evangelho promete-nos que, para os construtores de paz, chega o dia da bem-aventurança, o dia em que se ouvem chamar “filhos de Deus”. A bem-aventurança dos construtores de paz está, de fato, no nome pronunciado, em sentir-se chamados de modo diferente. A sua felicidade está em encontrar a voz que lhes dá um nome novo. Todas as bem-aventuranças consistem em se sentir chamados bem-aventurados; mas, para os construtores da paz, sentir-se chamado pelo nome é o próprio conteúdo da sua bem-aventurança. São chamados bem-aventurados quando são chamados com um outro nome.
No mundo bíblico, “filhos de Deus” era o nome mais alto, mais belo, maior que um ser humano podia receber. Hoje, porém, existem autênticos construtores de paz e de shalom que não experimentariam nenhuma felicidade se alguém os chamasse “filhos de Deus”, porque perderam todo o contacto com o humanismo bíblico ou nunca o encontraram. No entanto, a bênção-bem-aventurança é também para eles, porque tem de valer para todos os construtores de paz. As bem-aventuranças são verdadeiras para qualquer um se são verdadeiras para todos, para todos os que se encontram, objetivamente naquela condição. Estão, nesta sua universalidade, a sua profecia e força revolucionária. Superam todos os confins e espaços das religiões, das fés confessionais, das ideologias. No reino dos bem-aventurados há muito mais habitantes que os que frequentam as igrejas, sinagogas, mesquitas, templos. Todos os puros de coração verão um Deus que não se vê. Todos os famintos de justiça devem ser saciados, a terra prometida é a terra de todos os mansos. Todos os construtores de paz devem sentir-se chamados “filhos de Deus” e experimentar uma bem-aventurança-felicidade, mesmo os que não sabem o que significam estas palavras.
As bem-aventuranças vivem na carne das pessoas. Podemos, por muitas razões, não desejar ser chamados “filhos de Deus” (talvez porque, simplesmente, era pouco interessante o Deus que conhecemos, e não se deseje ser filho de alguém que não se estime); mas se as bem-aventuranças são verdadeiras e acreditamos no seu humanismo, então todos os construtores de paz têm de experimentar uma felicidade especial ao sentirem-se chamados por aquele nome, e devem poder compreendê-lo.
Se acreditamos na promessa, devemos estar certos que os construtores de paz, um dia, ouçam pronunciar esse nome e descubram uma filiação nova e diferente. Bem no meio da boa e pacífica luta para procurar construir a paz, para recompor famílias, para sarar feridas, sentem-se filhos daquela voz que os chamou àquela missão. Descobrem que, respondendo à vocação que os chamava a construir a paz, floriu neles um outro nome, a par do nome que lhe foi dado pelos pais. Sentem-se ter sido re-gerados por quem os chamou, e intuem que aquela voz que os chama interiormente é uma outra mãe, um outro pai. Já não se sentem órfãos, na sua solidão. Se não estamos convencidos da existência desta filiação diferente, basta pedi-lo aos construtores de paz. E como aprendemos o nosso primeiro nome ao ouvi-lo pronunciado por quem nos amava (em crianças descobrimos o nosso nome porque alguém nos chama assim), também o nome novo da paz aprendemo-lo ouvindo-o pronunciar por alguém que nos chama.
Os construtores de paz a cedem, então, a uma dimensão mais profunda da vida, recebem um segundo nome. Das suas lutas de paz e pela paz, saem feridos, mas com um novo nome. Feridos e abençoados. Como Jacob, a bênção é o dom de um outro nome. E, assim, talvez façam a maior experiência que se pode fazer neste mundo: descobrir que o seu espírito é habitado por um espírito mais profundo, um espírito que fala, que os chama. Que hospedamos um sopro que não produzimos, e que estava ali, desde sempre, a esperar-nos. Que o nosso primeiro nome escondia um segundo, mais profundo e todo dom. Se, pelo menos uma vez na vida, não se sente este sopro, se nunca chegamos a conhecer o nosso segundo nome, não alcançaremos a verdade mais profunda acerca de nós mesmos, não começa a vida espiritual; continuamos, durante toda a vida, a falar com o nosso eu, mesmo quando lhe chamamos Deus. A construção da paz à nossa volta é, então, fundamental porque se torna a via mestra para receber este nome novo, para nosre-conhecermos.
Há, por fim, uma relação profunda entre a fraternidade e a construção da paz. É na fraternidade que nos descobrimos filhos. Um dia, Jacob enviou o seu filho José aos seus irmãos, que estavam longe, para ver como estavam, para saber como ia o seu shalom (Gen. 37, 13). Pelo caminho, um homem perguntou-lhe: “Que procuras?”. Ele respondeu: “Procuro os meus irmãos”. Encontrou os irmãos, mas não encontrou nem o shalom nem a fraternidade. Os filhos de Jacob, como sabemos, negaram o shalom e profanaram a fraternidade. Não há fraternidade sem shalom (é importante recordá-lo, mesmo quando se queima, pela guerra dos corações, das mentes e das facas, o túmulo de José).
No entanto, existe uma fraternidade espiritual entre os construtores de paz: são filhos do mesmo chamamento ao shalom e, portanto, irmãos e irmãs entre si. É esta rede universal de fraternidade que regenera, em cada dia, a terra manchada pelo sangue dos fratricidas, como depósito de uma nova terra que deve chegar, mas que ainda geme, à espera da plena revelação dos construtores de paz. “Bem-aventurados os construtores de paz, porque serão chamados filhos de Deus”.
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire no dia 18/10/2015
“Estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós. Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus”
São Paulo, Carta aos Romanos, 8, 18-19
São muitas as guerras que decorrem no nosso planeta, nas nossas cidades, nos nossos bairros. As armas são muitas e diferentes, mas todas provocam muitos mortos, feridos e destruição. Passam os milénios, mas o irmão continua ainda a repetir ao outro irmão: “vamos para o campo”.
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire no dia 11/10/2015
“Então, a jovem alegrar-se-á, bailando; jovens e velhos partilharão do seu júbilo.
Converterei o seu pranto em exultação, hei-de consolá-los, e aliviá-los das suas penas”.Jeremias, 31,13
A felicidade prometida pelas bem-aventuranças não é a promovida e prometida pela nossa cultura. A das bem-aventuranças tem pouco a ver com prazer, não é o bom (eu) demónio (daimon), floresce da dor. Também podemos obter prazer das coisas da vida se a busca do prazer não se tornar a única coisa na vida. Porque, confundindo felicidade com prazer, acabamos por não ter nem uma coisa nem outra.
[fulltext] =>As bem-aventuranças são um 'modo de vida', são um outro já. São uma proposta concreta e um parecer sobre a nossa justiça e injustiça, abraços e muros, nossas indiferenças e nossas consolações. Quem acredita na verdade das bem-aventuranças entra no mundo concretíssimo de quem só vê pobres, mansos, puros e os chama bem-aventurados. E, depois, deseja viver no seu reino.
A bem-aventurança dos aflitos, a felicidade daqueles que choram, parece a mais paradoxal, a do último dia, não a dos nossos penúltimos dias. Que felicidade pode haver num choro? O choro bíblico não são lágrimas de alegria, nem as falsas e produzidas para o lucro em talk shows de TV. São as lágrimas dos aflitos, o grito desesperado do luto, o das separações, das falhas, as derramadas pelos filhos que cometem erros e não voltam para casa, as que caem quando não conseguimos impedir que um irmão ou amigo jogue fora a própria vida. As lágrimas das guerras, dos muitos pobres esmagados e dos oprimidos, as de quem perdeu os seus lugares de trabalho, as das traições. Mas são também as dos arrependimentos e dos perdões, as da dor pelas nossas conversões e dos outros. As lágrimas das bem-aventuranças são todas muito sérias. Na Bíblia é frequente encontrar a experiência do choro. Choram também os patriarcas, reis, Jó. Jesus chora pelo amigo morto, por Jerusalém, e talvez o seu último grito de abandono também tenha sido um grito de choro. Os Salmos estão cheios de lágrimas fecundas.
As lágrimas são a primeira linguagem dos humanos. Podemos falar línguas muitíssimo diferentes, acreditar em deuses diferentes, ter costumes e culturas muito distantes entre si; porém, todos compreendemos a linguagem do choro, todos sabemos decifrá-lo imediatamente. Os homens, as mulheres, os povos começaram a conhecer-se, chorando nos trabalhos dos migrantes, quando John não entendia a língua de Sergej, mas podia confortá-lo quando ele chorava, olhando para a foto fincada dos filhos e da esposa distantes. Lapo não entendia quase nada daspalavras de Carmelo, mas as lágrimas, que caíam de ambos, nas trincheiras, dialogavam e eles entendiam-se perfeitamente.
Nem todos somos perseguidos por causa da justiça, nem todos somos mansos, mas todos choramos. A bem-aventurança de quem chora é promessa universal, que atinge todo o ser humano na sua condição mais essencial, radical, ferial, nua. Ela aplica-se a todos os seres humanos: mulheres, homens, velhos, meninos e meninas. Chamando bem-aventurados aos aflitos, Jesus tornou bem-aventurados todos os homens e todas as mulheres da história e da terra. Entramos, no mundo, a chorar e o choro mudo é, muitas vezes, a nossa última palavra antes de o deixar. Como Job nos ensina, há também um choro dos animais, das árvores, da terra, dos vermes. No mundo, há mais lágrimas do que as dos humanos. Há um sofrimento de natureza, uma espera dolorosa de uma consolação, um grito da criação. Quando conseguimos ouvir algum eco seu, acedemos a uma dimensão mais profunda da vida, descobrimos uma fraternidade cósmica, com Francisco - ontem e hoje - cantamos um outro Laudatio Si. E nasce-nos a necessidade de ver chegar uma consolação para os seres humanos, mas também para a terra humilhada e ofendida, para os animais não respeitados e esmagados, para as espécies que morrem todos os dias. Nós sentimos que deve haver uma consolação das lágrimas no mundo, que deve chegar um consolador, um restaurador, um Goel. Tornamo-nos plenamente humanos quando começamos a sofrer com a não-chegada destas consolações - um sofrimento que, uma vez iniciado, nunca acaba e cresce conosco.
A bem-aventurança que se encontra dentro do pranto chama-se consolação: “Serão consolados”. A palavra grega que traduzimos como ‘consolação’ é parakaleo, que indica a figura daqueles que estão perto da vítima, como um advogado, para a defender do seu acusador. A bem-aventurança consiste, então, em fazer a experiência da chegada de uma consolação. Descobrir uma presença real que nos consola enquanto choramos. E com a consolação deixamos de chorar, ou choramos de modo diferente. Nesta bem-aventurança, ao contrário das outras, a felicidade está na mudança da condição que gera bem-aventurança. Os mansos, os misericordiosos, os construtores da paz, os pobres, os perseguidos e sedentos de justiça, permanecem na sua condição quando a promessa se cumprir. Não se deixa de ser pobres porque estamos no Reino dos céus, de ser misericordiosos quando encontramos misericórdia, de construir a paz quando, um dia, nos sentimos chamados "filhos de Deus". Mas quando, dentro do nosso choro e do nosso desespero, chega a consolação, o choro diminui, muda o tom, as lágrimas começam a ser enxutas. Todos conhecemos as bem-aventuranças nas lágrimas. Estão registradas no DNA moral dos seres humanos. O jugo de vida seria insuportável se, nas lágrimas, não encontrássemos também uma consolação.
Encontramos uma primeira consolação na experiência de poder chorar. O sofrimento inconsolável é o que já (ou ainda) não consegue chorar. Muitos arrependimentos, por exemplo, começam com um profundo e incontrolável pranto. Um pranto diferente, que só o podemos conhecer quando chegar na sua dor e bem-aventurança típicas. Quando chega o momento do arrependimento e de “voltar para casa”, o primeiro movimento é quase sempre um copioso choro - cada um à sua maneira, prantos muito semelhantes e muito diferentes. É um pranto bem-aventurado, o início de uma vida nova. Enquanto se chora, ouvimo-nos ser chamados bem-aventurados: “Eram lágrimas de felicidade, nascidas do despertar do ser moral adormecido nele há muitos anos” (L. Tolstoi, Ressurreição). Antes de ‘levantar-se’ para ‘voltar’para o seu pai, o filho pródigo iniciou seu regresso com um grande pranto. No inferno abre-se uma passagem do paraíso, e a possibilidade de poder, finalmente, alcançá-lo já é paraíso. O caminho para casa já é casa.
Estas lágrimas são totalmente bem-aventurança, regeneração. Dolorosíssimas, mas salvíficas, ao mesmo tempo terríveis e maravilhosas. Aflitos e bem-aventurados. Este choro torna-se um meio de descoberta e conhecimento das dimensões mais profundas da vida. Se queres realmente conhecer alguém, encontra-o e escuta-o enquanto chora por um arrependimento, por um perdão, por uma conversão. Os grandes perdões, especialmente entre irmãos e entre amigos, são realizados a chorar juntos, em abraços intermináveis e sem tempo: “Então disse José a seus irmãos: «Chegai-vos a mim, peço-vos!». E eles aproximaram-se. José continuou: «Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egito…». Então lançou-se ao pescoço de Benjamim, seu irmão, e chorou; e Benjamim também chorou nos seus braços” (Gênesis 45, 4-15).
Há também outra forma de consolação bem-aventurança. É a que nasce de ser capaz de chorar com alguém que acompanha a nossa dor. Chorar-com, sofrer-com, é uma forma especial de felicidade. Partilhar a dor e misturar as lágrimas com um amigo é, para muitos, a única felicidade na vida, quando a dor e as lágrimas são o único “pão”. Nestas aflições, a consolação vem com o rosto concreto de um amigo que se inclina sobre a nossa dor. Se existem muitas aflições não bem-aventuradas é também porque lhes faltam os consoladores, amigos capazes de chorar conosco. Em prantos sem consolações, que abundam à nossa volta, há muitas ausências dos consoladores. Muitas lágrimas poderiam ser consoladas e enxutas, depressões acompanhadas, solidões preenchidas, se nos víssemos no papel de consoladores e não no de quem está à espera de consolação. Sou eu que falto na muita dor inconsoladado mundo. Cada bem-aventurança é também um convite dirigido diretamente a nós, a ti, a mim. A primeira terra prometida é a da minha casa que eu compartilho com aqueles que a não têm, a primeira consolação do choro do outro é meu pranto solidário.
Uma consolação especial e cheia de mistério é, também, a da poesia, da literatura, da arte. O poeta, escritor, o pintor, com a sua obra pode atingir os desesperados da terra e, ao criá-los,consolá-los. Torna-se seu próximo, companheiro de viagem e, assim, torna-os bem-aventurados. Nas histórias grandes não acontece o happy end, o final feliz, porque o desespero, visto e 'tocado' pelo artista já é felicidade. A arte dá-nos também estas bem-aventuranças.
Mas há ainda uma outra consolação dos aflitos. É a que vem como um 'anjo'. Aqui, não há um amigo que nos consola. É o paráclito, que vem como "pai dos pobres". É maravilhoso que, na Bíblia, o primeiro anjo vem à Terra para confortar Agar, uma escrava expulsa para o deserto da sua senhora. A primeira teofania e a primeira anunciação são para ela (Gênesis 16). As anunciações, as teofanias, a salvação de uma criança, acontecem, muitas vezes, no auge das grandes aflições, quando um anjo vem até nós, onde ninguém nos podia alcançar, e nos consola. É a consolação do espírito, o paráclito consolador, que nos ressuscita enquanto morremos na cruz. É o consolador perfeito, que aquece, endireita, banha. Se, em cada manhã, nos conseguimos levantar, quando, na noite anterior, pensávamos não conseguir fazê-lo, é porque o paráclito trabalha, e beija a ferida de nossas almas mesmo enquanto dormimos e sonhamos, e as cura. Nem todos sabemos, ou queremos, fazer a experiência de Deus. Mas muitíssimos, talvez todos, encontrámos na vida, pelo menos uma vez, este espírito consolador, ou o encontraremos num futuro pranto. É uma promessa. "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados."
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire no dia 04/10/2015
“Se prevarico, ai de mim! Se sou inocente, não ousarei levantar a cabeça, cheio de vergonha e de miséria".
Livro de Jó, 10, 15
A fome e a sede assumem muitas formas. Há as do alimento e da água, mas há também as de beleza, de verdade, de amor, de oração. Sofre-se por carestia de pão e por sede, mas, por vezes, morre-se também pela indignidade de hospitais e de escolas, porque vivemos em lugares cheios de mentira, porque não amamos e não somos amados, porque, nos momentos duros da vida, olhamos para dentro de nós, à procura de reservas espirituais, e não encontramos lá nada, incapazes de escutar e dialogar com o espírito que habita em nós e nos alimenta.
[fulltext] =>Carestias e sedes diferentes, todas decisivas. Somos animais simbólicos e meta-físicos; para viver, temos necessidade de muitos alimentos e diferentes águas. É, porventura, esta pluralidade de nutrientes que tornam o homo sapiens habitante especial do planeta, que pode morrer de fome no meio da opulência dos alimentos e das bebidas e pode saciar-se de dessedentar-se com substâncias invisíveis.
Se apenas os alimentos fossem capazes de saciar e dessedentar o nosso corpo, teríamos perdido dezenas de milhares de anos de história evolutiva, quando começámos a desejar estrelas diferentes das noturnas, a ouvir vozes e sons de montanhas e nuvens, a encher as grutas de desenhos e de símbolos “inúteis” para a caça e para a pesca, a cantar e até mesmo compor alguns versos, a olhar-nos nos olhos e amar-nos não apenas para nos reproduzirmos. E, quando aos seres humanos são tirados ou negados os desejos destes outros alimentos, porque reduzidos a consumidores e pesquisadores de mercadorias em vez de estrelas, tornamo-nos muito parecidos aos nossos antepassados comuns, e já não cantamos o salmo: “Quase fizeste dele um ser divino” (8). Temos muitas fomes e sedes que nenhum hipermercado pode saciar e, quando as mercadorias e o dinheiro conseguem saciar toda a espécie da nossa fome e sede, a dignidade humana diminui e corre o risco de se extinguir: trocamos, novamente, um pobre por um par de sandálias (Amós), vendemos um irmão como escravo aos mercadores em viagem para o Egipto (Génesis). A expansão e o florescimento da existência humana consistem, paradoxalmente, em alargar as formas da fome e da sede. Se se vem ao mundo ambicionando um seio materno, pode-se ficar a desejar um leite que só a eternidade nos pode dar.
Há, porém, uma fome e uma sede que não nos fazem estar mal nem nos matam. São as que o Evangelho associa, sem hesitação, a uma forma de felicidade, a uma bem-aventurança. Existem sedentos e famintos que são bem-aventurados. São os que têm “fome e sede de justiça”. A justiça pode ser alimento, pode ser água. Pode nutrir como um pão acabado de cozer, pode dessedentar como uma fonte fresca da montanha.
Também os famintos e os sedentos de justiça experimentam uma carestia. Também esses são pobres, indigentes. Os desejos nascem da “ausência de estrelas” (de-sidera) , cada eros tem a penúria (Penia) como mãe. E, como acontece para qualquer fome ou sede, também aqui é o corpo o “lugar” onde se sentem e se vivem esta fome e esta sede. A fome e a sede são experiências, não são ideias. São palavras incarnadas, ganham forma na nossa carne – como acontece com todas as palavras incarnadas, não sabemos o que significa a palavra “fome” até à primeira experiência concreta e consciente de fome.
Há dois tipos de fome e de sede. As quotidianas, sãs e boas, ligadas ao normal ritmo das refeições, que não produzam qualquer sofrimento e que esperam apenas serem saciadas. Mas há também a fome das carestias e a sede das secas, as que milhões de pessoas ainda sentem e vivem, onde o almoço que sacia e a água que dessedenta os sofrimentos nunca chegam, e a fome e sede são alimento diário. Esta segunda fome nunca é saciada, e a sede nunca passa.
Há uma fome e sede de justiça que muitos, talvez todos, sentimos diariamente, cultivando e vivendo apenas o nosso sentido de justiça. Mas a bem-aventurança floresce durante as carestias e as sedes de justiça. Há pessoas que, nas ditaduras, nos campos de concentração e nos gulags, nas prisões onde foram parar, apenas porque pobres e indefesas, apesar dos trabalhos errados e imerecidos, conseguem não morrer porque se alimentam da sua fome e sede de justiça. O coração desta esplêndida bem-aventurança é a transformação de uma falta em alimento. A justiça, por ser um bem primário na base de qualquer Bem comum, é um bem muito especial, porque o sofrimento pela sua ausência torna-se pão e água. Como no combate entre Hércules e Anteu, quanto mais o fortíssimo Hércules atirava o seu adversário para ochão, mais forte este se tornava, porque Anteu era filho da terra (Gea). Desconhecedor desta filiação, ao combatê-lo, Hércules acabava por torná-lo invencível.
Quem combate um filho desta justiça, quanto mais esta lhe é negada, mais o nutre, porque lhe aumenta o desejo de quanto lhe é negado, e, com ele a energia e a força para lutar. Quem combate por uma causa justa, torna-se tanto mais forte quanto mais cresce a injustiça. Pelo contrário, morre-se durante esta carestia quando perdemos o contacto com o desejo de justiça, quando deixamos de sentir a sua típica fome e sede. Como no mito, onde Hércules consegue matar Anteu somente quando o levantada terra, desligando-o da fonte da sua força invisível e imbatível. Sai-se derrotado das batalhas contra as injustiças, estrangulados por quem nos nega a justiça, quando deixamos de gritar por ela e de estar famintos deste pão de vida e sedentos destes rios de água viva.
Que saciedade promete, então, o Evangelho
(“… porque serão saciados”), se o pão de quem procura a justiça está na sua falta? Como se pode ser dessedentados por uma água que dessedenta porque ainda não há?Se permanecemos dentro da nossa vida e da nossa história (as bem-aventuranças são palavras pronunciadas aqui e agora, e perdemos muito, demasiado, da sua profecia se as remetemos para o fim dos tempos), podemos compreender que a saciedade da justiça nasce precisamente enquanto sofremos pela sua falta. A saciedade que sentimos quando lutamos para libertar alguém das estruturas de injustiça – salvar uma vítima do azar, das máfias, procurar tirar da prisão um prisioneiro inocente, resgatar um amigo que entrou numa espiral de dívidas sem ter culpa, … – já é bem-aventurança. Se não descobrimos a bem-aventurança no meio da boa batalha, nunca mais a descobrimos, porque é a vida que gera “diretamente” esta forma sublime de felicidade. Se não ouço a voz que me diz “bem-aventurado” enquanto sinto forte a fome e a sede de justiça, não mais terei a força de continuar a luta; morro de fome e de sede. É a felicidade nos sofrimentos o primeiro grande motor da história dos justos. São as diferenças entre a justiça que queremos e a que temos que alimentam os justos. Vi um rapaz pegar num pequeno bidão de lata de uma lixeira, transformá-la numa caixa de violoncelo e tocar Bach.
Nem todos, quando sentimos ecoar no templo da alma a palavra “bem-aventurados”, pensamos que seja um Deus a falar-nos; mas se existem pessoas dos diferentes credos que se alimentam das suas próprias lutas pela justiça – e existem muitas – então as vozes que nos dizem “bem-aventurados” são muitas e diferentes. É um coro de vozes a cantar sobre a terra: “bem-aventurados, vós”. A água que sacia os justos é a do fontenário da aldeia, que refresca todos, sem nos perguntar onde está a fonte da água que nos sacia. A terra dos justos é banhada todos os dias, alimentada pelas muitas vozes que sussurram dentro de nós: “feliz”, “bem-aventurado”, “coragem”, “fizeste bem”, “estás a travar uma boa batalha”. Uma bem-aventurança que sacia, dessedenta, por vezes inebria de uma alegria diferente, mas fortíssima. Que se sente muito clara e forte quando cruzamos o olhar de outros justos que lutam ao nosso lado. Somente com muitas vozes diferentes, todos os justos podem ouvir-se chamar “bem-aventurados”. Aos construtores de Babel é suficiente uma só língua, mas no Pentecostes dos justos, as línguas são muitas, todas diferentes e todas iguais.
Daqui nasce uma grande esperança. No mundo, há muito mais bem-aventuranças que aquelas que os justos conseguem chamar com este nome. Somos todos acompanhados, nas nossas boas batalhas pela justiça; não estamos sós, nas travessias destes desertos; os nossos corações são habitados por muitas vozes que nos alimentam, dizendo-nos, de muitos modos, “bem-aventurado”. O céu, juntamente ao orvalho, dá-nos o maná que nos alimenta todas as manhãs do mundo. Muitos nos perguntam, admirados: “o que é isto?”, e não conseguimos responder se os profetas não no-lo explicam. Mas o que realmente importa é que os justos sejam alimentados interiormente, que se sintam saciados na indigência, que possam viver no meio das carestias que nunca acabam – os pobres, e, portanto, os famintos e os sedentos de justiça,sempre os teremos connosco e, com eles, teremos sempre as suas bem-aventuranças.
Multidões de justos sentem, na alma, serem chamados “bem-aventurados” mesmo sem nunca terem lido o Evangelho, ou quando o esqueceram. Seria um lugar muito pequeno, um “reino dos céus” habitado apenas por residentes com o passaporte e não também por foragidos, por refugiados, por migrantes. Os seus céus seriam muito baixos, os seus horizontes muito limitados. O Reino dos céus deve ser o reino de todos os justos, cada um com a sua língua diferente, todos alimentados pelo mesmo alimento, dessedentados pela mesma água. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire no dia 04/10/2015
“Se prevarico, ai de mim! Se sou inocente, não ousarei levantar a cabeça, cheio de vergonha e de miséria".
Livro de Jó, 10, 15
A fome e a sede assumem muitas formas. Há as do alimento e da água, mas há também as de beleza, de verdade, de amor, de oração. Sofre-se por carestia de pão e por sede, mas, por vezes, morre-se também pela indignidade de hospitais e de escolas, porque vivemos em lugares cheios de mentira, porque não amamos e não somos amados, porque, nos momentos duros da vida, olhamos para dentro de nós, à procura de reservas espirituais, e não encontramos lá nada, incapazes de escutar e dialogar com o espírito que habita em nós e nos alimenta.
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire no dia 27/09/2015
Existem uma justiça do já e uma justiça do ainda-não. A justiça cresce, evolui e desenvolve-se no tempo, de acordo com o senso moral das pessoas, da civilização e das gerações. “Não é justo”, repetido por indivíduos e por comunidades, é o primeiro motor de todo o alargamento dos horizontes da justiça e, portanto, da humanidade.
[fulltext] =>A maioria das pessoas formula o seu juízo de justiça ou injustiça com base na diferença entre quanto observam, e a justiça já codificada nas leis ou nos costumes de um povo. A aprovação de justiça e a censura da injustiça estão na base da construção da justiça da nossa vida.
Uma primeira reprovação de quem pratica a justiça chega da convivência com pessoas que não têm a justiça e procuram a injustiça – mesmo quando a injustiça nasce do dizer “justo” e “injusto” a coisas erradas. O mercado está cheio destas perseguições, quando empresários honestos e retos têm de sofrer muito, sob muitos pontos de vista, apenas porque atuam em setores onde o sentido de justiça dos outros está totalmente condicionado por razões do lucro. As empresas honestas vivem graças à honestidade dos seus trabalhadores, clientes, fornecedores, concorrentes. A desonestidade e as injustiças dos seus interlocutores inquinam o seu ar e a sua terra, e os frutos não chegam. A virtude mais exigida – ontem, hoje e sempre – a empresários justos é conseguir resistir quando se encontram ao lado de pessoas e instituições injustas. Estas são autênticas perseguições e quem resiste e não cede deve ouvir chamar-lhe “bem-aventurado”.
A experiência da justiça e da injustiça, portanto, além de informar o nosso comportamento, pode levar-nos a agir para reduzir ou eliminar a injustiça à nossa volta. É aqui que se faz a experiência de uma outra forma de perseguição. A história e o presente da humanidade mostram-nos uma multidão de perseguidos por causa da injustiça que veem perpetrada sobre outras pessoas ou sobre o mundo. Tal como acontece com a misericórdia, o que leva a reagir contra as injustiças que observamos, não é propriamente o desejo de altruísmo ou filantropia. É algo muito mais radical, que se move dentro das nossas vísceras e que, no princípio, se assemelha mais ao eros do que ao dom. Depois, apenas depois deste primeiro sentimento, ativam-se a inteligência e a racionalidade, como escravas do coração indignado. No interior das perseguições encontramo-nos seguindo um desígnio, obedecendo a uma lógica diferente da do cálculo custos-benefícios.
A primeira mola que nos faz reagir contra uma injustiça é, portanto, uma verdadeira e profunda forma de dor. Estamos mal, sentimos uma dor – por vezes física – e, por vezes, pomo-nos em movimento. Sem experimentar a dor por um mundo que nos aparece injusto, não nasce nenhum sentimento de justiça. Uma dor que pode nascer mesmo quando o objeto da injustiça não são seres humanos, mas animais, a terra, a água, a natureza, porque a dor pela injustiça é maior que a pura dor humana. Enquanto houver pessoas que cultivam um sentimento moral de justiça e enquanto os humanos tiverem uma vida interior que os torna capazes de sentir este género especial de sofrimento moral, teremos sempre não resignados pelas injustiças, capazes de lutar para as reduzir, perseguidos por quem obtém lucros com comportamentos injustos.
Mas há, também, um terceiro tipo de perseguições (e, certamente, outras mais). As perseguições por causa da justiça do ainda-não.
Há pessoas que têm o dom de ver, sofrer e lutar por uma justiça que ainda não é reconhecida como tal, pela sociedade em que vivemos. Não se limitam a denunciar as violações da justiça reconhecida pelas suas gerações. Também fazem isso, mas receberam o dom de “olhos do coração” diferentes que lhes permitem ver e procurar uma justiça que, leis e consciência, tardam em reconhecer. Mas elas veem-na, sofrem, agem. Sofrem pelas injustiças que não são sentidas injustas pelos outros, porque consideradas normais pela tradição, pela vida, até mesmo pela natureza das coisas. Sentem na sua carne que, no mundo, há uma injustiça escondida por detrás do que a lei não proíbe ou até encoraja e, depois, começam o processo de denúncia, de libertação, e chega, pontual, a perseguição. Estão contra as leis, não só as feitas para defender iníquos interesses baixos, mas também as feitas em nome da justiça. Também as leis, como os sapatos e a roupa, tornam-se, frequentemente, apertadas e puídas e têm de ser mudadas, caso contrário fazem mal e já não nos cobrem.
Os buscadores da justiça do ainda não continuam, na história, a função profética. Os profetas recebem olhares capazes de ver as injustiças onde os outros veem ainda justiça, de chamar injusto o que os outros chamam justo, de experimentar um sofrimento que a sociedade não compreende, de lutar por coisas que aos outros parecem inúteis e prejudiciais, de reconhecer direitos e deveres antes que apareçam como tal aos outros. As perseguições do já conseguem suscitar a empatia e a compaixão de muitos concidadãos humanos e justos. As perseguições pela justiça do ainda não acontecem, pelo contrário, na solidão, que é uma característica específica desta justiça diferente. Ninguém faz marchas noturnas, nem tochas, nem greves de fome para as primeiras batalhas pelas justiças ainda invisíveis. Os profetas estão sempre sós.
A justiça do ainda não é fundamental para o desenvolvimento moral dos povos, como são fundamentais os profetas. Por detrás de qualquer direito que, hoje, é reconhecido e tutelado, há alguém que, ontem, sofreu pela sua ausência, que se indignou e sofreu por aquela injustiça, ainda não considerada como tal. Daquela dor da alma partiu uma ação coletiva e chegaram as perseguições. Na terra dos justos há alguém que, como os antigos (e os novos) Padres Mercedários, sente um chamamento a fazer o “vazio de redenção” para libertar os escravos da justiça do já, ocupando o seu lugar.
É assim que cresce o sentido moral de todos, que faz avançar os confins da justiça. De vez em quando, devemos recordar aos nossos filhos e a nós mesmos as histórias e a muita dor escondidas por detrás de alguns artigos das nossas leis. É também a memória coletiva a manter vivo e vigilante o nosso sentido moral, e quando esta se desvanece, as comunidades recuam, frustra-se a dor dos mártires pela justiça e ultraja-se o seu sangue derramado. Sempre que a história recua no terreno da justiça – vimo-lo muitas vezes, e continuamos a vê-lo – há, em primeiro lugar, uma eliminação do “desperdício” entre os factos que observamos e o nosso sentido moral. Torna-se normal despedir alguém pela sua “raça”, falsificar os balanços das empresas, construir muros onde os pais deram a vida para os abater (os muros – de cimento, de arame farpado ou de olhares – são todos iguais).
O primeiro ato que tem de realizar quem ama a justiça é, portanto, cultivar e alimentar o sentido moral nas crianças e nos jovens. A partir da escola, onde a redução da história, da literatura, da poesia, em nome das técnicas “úteis” significa diminuir, na futura geração o sentido de justiça e a capacidade de resistência à injustiça – nas escolas e nas universidades “técnicas” devemos aumentar as disciplinas humanistas, se queremos esperar justiça em economia e nas técnicas de construção das “máquinas”.
Mas há mais. As perseguições dos profetas não chegam apenas dos injustos e dos maus. Chegam também dos “justos do já”. Frequentemente, os que procuram a justiça do já tornam-se perseguidores dos “justos do ainda não”. Os escribas e os fariseus, os amigos de Job, o Sinédrio eram, geralmente, pessoas e instituições que acreditavam e defendiam a justiça do seu tempo: “Se a vossa justiça não superar a dos escribas e dos fariseus…”. Justiças diferentes, e a segunda perseguidora da primeira.
A incompreensão por parte das componentes boas e justas da própria comunidade é típica de toda a experiência profética. Criam-se fraturas, por vezes verdadeiras perseguições, no interior do próprio “povo dos justos”, porque a justiça do ainda-não parece ainda injusta, ingénua, imprudente e prejudicial para quem procura a justiça do já. Esta perseguição específica, este “fogo amigo”, está entre os maiores sofrimentos dos que procuram a justiça do ainda-não, mas um sofrimento inevitável no avanço da justiça sobre a terra.
Por vezes, os justos do já, num encontro decisivo com a justiça do ainda-não, conseguem compreender que a sua justiça se deve abrir a um “além de” para não se tornar injusta. É assim que Saulo, perseguidor em nome da justiça, segundo a lei, se torna Paulo perseguido por uma nova justiça. Compreendemos que a nossa justiça deve morrer para ressurgir, deve regenerar-se. Dar a capa, perdoar sete vezes, andar uma milha com um irmão já não chega. Sentimos que não somos justos se não damos também a túnica, se não andamos a segunda milha, se o perdão não se torna infinito, para todos, para sempre. As nossas justiças envelhecem, morrem muitas vezes, e, muitas vezes, devem ressurgir para, depois, reaprender a morrer novamente.
O Evangelho associa a bem-aventurança dos perseguidos pela justiça à dos pobres: é já, de ambos, “o Reino dos céus”. Existe uma amizade, uma fraternidade entre os pobres e os perseguidos por causa da justiça. Ambos são pobres; ambos são perseguidos por causa da justiça. Quem procura a justiça, se não for pobre, torna-se depois pobre, por causa das perseguições. E as pobrezas são também perseguições que nascem da justiça negada, a do já ou a do ainda-não.
Falta-nos de justiça do já, mas falta-nos ainda mais a justiça do ainda-não. São muito poucos os profetas. “Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque dele é o reino dos céus”.
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publicado no Avvenire no dia 27/09/2015
Existem uma justiça do já e uma justiça do ainda-não. A justiça cresce, evolui e desenvolve-se no tempo, de acordo com o senso moral das pessoas, da civilização e das gerações. “Não é justo”, repetido por indivíduos e por comunidades, é o primeiro motor de todo o alargamento dos horizontes da justiça e, portanto, da humanidade.
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire no dia 20/09/2015
"Entre todos aqueles caracóis ao vento, entre todos aqueles louros corimbos, parecia que aquela cabeça prateada, dissesse com tremor, crianças, sim... pequenos, sim... E as crianças procuravam em festa por vezes, com grito alegre, as mãos trémulas e a cabeça em que só vivia aquele pobre sim"
Giovanni Pascoli, La nonna(a avó)
As bem-aventuranças não são virtudes, não são um discurso ético sobre as ações humanas. São antes o reconhecimento de que, no mundo, existem já os pobres, os mansos, os puros de coração, os que choram, os que são perseguidos por causa da justiça, os misericordiosos. E chamam-lhes 'felizes'.
[fulltext] =>As bem-aventuranças são, acima de tudo, uma revelação, um retirar o véu para ver uma realidade mais profunda e mais verdadeira do que parece. O evangelho não nos apresenta uma ética da virtude (esta já existia), mas dá-nos e revela-nos o humanismo das bem-aventuranças (que não existe ainda e, por isso, pode sempre chegar). Se compreendêssemos e vivêssemos a lógica das Bem-aventuranças, deveríamos ir para as ruas, para as praças, para as empresas, para os campos de refugiados, olhar ao redor e repetir com e como Jesus de Nazaré: "Bem-aventurados, bem-aventurados ...".
Há demasiados puros de coração, perseguidos por causa da justiça, pobres, mansos, que ainda estão à espera de serem chamados ‘bem-aventurados'. Não sabemos que somos bem-aventurados até que alguém nos vê, nos reconhece e nos chama com este nome maravilhoso. Quando Moisés desceu do Monte Sinai, com novas tábuas da Lei, ele não sabia que o seu rosto se tornara resplandecente (Êxodo 34, 29). Foi o seu povo que lhe revelou a presença daquela luz especial. A luz sobre o rosto e toda a felicidade aparecem dentro de um relacionamento. Começamos a descobrir sermos felizes na pobreza, nas perseguições, durante o choro, nosso e dos outros, porque alguém que nos ama no-lo diz, no-lo recorda. As bem-aventuranças mais importantes são as dos outros. E as nossas despertam somente quando são chamadas pelo nome.
A mansidão existe, encontramo-la todos os dias, faz-nos viver e, graças a ela, fazemos viver quem está à nossa volta. Os mansos reconhecem-se antes de mais pela ternura, têm a mesma raiz. Manso, ameno, terno. Os mansos desenvolvem uma amizade especial com as mãos - a palavra latina evoca a docilidade com que os cordeiros deixam passar sobre o dorso a mão do seu pastor. Esta ternura é a oposto da romântica e sentimental, que inunda os talk show e os spot publicitários. Os mansos conhecem o canto espiritual sublime das mãos.
Antes de mais, são dóceis à ação da mão que os trabalha, sabem deixar-se trabalhar. Esta é a primeira dimensão da mansidão: saber estar quietos e dóceis, especialmente nos dias em que a mão da vida se faz sentir mais intensamente. Para reconhecer os mansos é necessário, então, observá-los nos momentos da doença, durante as provas e, acima de tudo, no encontro com a morte. A mansidão é ajuda crucial durante os abandonos, os lutos, os desertos interiores e exteriores, quando, como o cordeiro, devemos dispor-nos docilmente para deixar que a mão do pastor faça o seu trabalho. E nós o nosso: a mansidão é o oposto da passividade. É um trabalho contínuo, tenaz e perseverante. A mansidão é a bem-aventurança dos pobres, que conseguem ficar e viver em condições impossíveis para os não-mansos.
Encontramos, muitas vezes, a mansidão entre os idosos e os velhos. A mansidão de coração assemelha-se com a macieza do fruto maduro, que realiza o seu desígnio tornando-se alimento para os outros, caindo e nutrindo a terra. Os olhos mais mansos que conheci foram olhos de idosos e ainda mais de idosas. Só esses olhos têm as cores deslumbrantes e luminosas do último Outono.
Não é raro que uma pessoa revele toda a sua mansidão escondida (até para si mesma) na última fase da vida, nos últimos dias, na última hora. Quando consegue confiar-se docilmente às mãos de enfermeiros e médicos, virada e revirada no leito, mansa na mão que passa durante a vigília, nas últimas noites infinitas. Ou quando conseguimos, por um dom inesperado, vislumbrar a mão do anjo da morte e reconhecê-la como a mão boa e amiga do pastor e, assim, deixar-se abraçar e acariciar por ela no último abraço-dança da vida. Então, a primeira terra que o manso herda é aquele pequeno lenço que o acolhe, benigna e irmã, quando, por fim regressa a casa. Como Abraão, que obedientemente seguiu a voz que o chamava para uma terra prometida e que morreu, exilado e estrangeiro, possuindo apenas a terra para o túmulo comprada aos hititas, para sepultar a sua esposa Sarah.
Mas o manso, acostumado à ação das mãos de outros, também usa as suas mãos para abraçar, para curar, para acolher um amigo, para abrigar um arrependimento. Os mansos abraçam, apertam, choram juntos e sabem que não se conhece alguém sem o ter estreitado ao peito, sem ter-lhe beijado a face, no beijo da paz. Eles conhecem e usam a linguagem humilde e forte do corpo, a linguagem da carícia, são mestres da ternura e da inteligência das mãos. Todos somos capazes de acariciar os nossos filhos e todos nós sabemos acariciar quem amamos. Estas carícias fazem parte do repertório de base dos seres humanos - e dos outros primatas superiores. Mas só os mansos sabem e podem acariciar quem quer que seja: crianças e adultos, famílias e desconhecidos (só os mansos deveriam acariciar os filhos dos outros). E assim, com o exercício das mãos, tratam aquelas feridas das solidões e dos abandonos que só se curam quando sentem passar sobre a pele, ligeiramente, uma mão amiga. Se não existisse a multidão de mansos que habitam hospitais, enfermarias de pediatria, escolas, centros de acolhimento, cooperativas sociais e atuam como voluntários nas prisões, nas estações e ao longo das ruas à noite, a vida, nesses lugares, seria impossível ou demasiado dolorosa. Bem-aventurados os mansos, bem-aventurados quem os encontram e por eles é acariciado e amado.
Os mansos, então, são necessários para desarmar os conflitos e reconstruir a concórdia e a paz em todo o lado. Se no desenvolvimento de um conflito (entre irmãos por causa de uma herança, entre colegas, entre sócios, dentro de uma comunidade) não intervém a ação de, pelo menos, um manso, as únicas soluções encontradas são as dos tribunais - que nunca são verdadeiras soluções nas relações primárias das nossas vidas: é o abraço dos corpos e das mãos a única verdadeira resolução de conflitos entre irmãos e amigos. Os mansos tudo cobrem, tudo suportam.
Aos mansos é prometida a terra: é esta a sua herança. Mas a terra no humanismo bíblico pertence a Deus: "Minha é toda a terra” (Êxodo 19, 5). É neste horizonte que deve, então, ser lida então esta bem-aventurança (e todas as outras). Nós somos apenas donos temporários e passageiros de uma terra que não é nossa. A primeira lei da terra é a gratuidade, toda a terra e todas as terras são, em primeiro lugar, bens comuns e, depois, bens usados com responsabilidade e cuidado para o nosso bem-estar (shalom). Então, o manso possui cada terra não a possuindo; e, por isso, partilha-a. Sente-a como herança recebida gratuitamente, não como mercadoria adquirida nos mercados; e, como tal, quererá deixá-la aos próprios filhos. Ele abre as portas da sua casa, porque sabe que ela é, verdadeiramente, também dos outros, de todos. E quando, a sua casa se enche de não-familiares, não se sente nem um herói nem um altruísta, mas apenas alguém que possui uma terra recebida como oferta e herança, mesmo quando a comprou com os salários pesados do trabalho emigrante, com as economias de uma vida inteira. Cada uma das nossas propriedades é segunda, porque toda a terra é de YHWH e, portanto, não é de ninguém nem de todos. A terra é sempre terra prometida, está para além de um Jordão que contemplamos mas não atravessamos.
E se aos mansos é prometida a terra, então a terra prometida é a terra dos mansos. Cada terra habitada pelos mansos torna-se já terra prometida. Também a terra da nossa cidade, do nosso bairro, da minha casa, se torna terra prometida, se houver nela pelo menos um manso.
Mas o manso vive também a sua vida como terra herdada. No decurso da existência, chega quase sempre um momento decisivo quando entendermos, cada um de modo diferente, que a vida que estamos a levar não é aquela que queríamos ter. A árvore que floresceu a partir das sementes da juventude não é a que pensávamos ou queríamos. O manso encontra a sua felicidade-bem-aventurança acolhendo com docilidade a vida que está a viver porque entende que, para ele, para ela, não há uma árvore melhor crescida fora daquela sua terra. Nenhuma árvore se assemelha à semente, nenhuma boa vida adulta coincide com as esperanças da juventude - e se coincide não é boa. Esta mansidão é o contrário da resignação, porque enquanto o resignado perante a desilusão da vida adulta se torna triste, amargurado e apagado, o manso está feliz e reconciliado. São muitos, inumeráveis, os mansos que encontram a sua felicidade nas famílias, comunidades religiosas, que se revelaram ao longo do tempo diferentes das escolhidas e sonhadas, às vezes muito diferentes, demasiado diferentes para os não-mansos. Os mansos são capazes de florescer em cenários que não estavam no programa no dia do casamento ou da ordenação religiosa, mas uma vez ali chegados, abraçaram-nos com a mesma ternura com que abraçaram no primeiro dia a esposa. Os abraços dos mansos são todos iguais. Nós não podemos controlar todos os eventos que, dentro e fora de nós, determinam a nossa felicidade. As maiores coisas da vida não as escolhemos. São herança que nós não compramos nem merecemos. Podemos rejeitá-las e fugir em busca de uma terra única e exclusivamente nossa. O manso, pelo contrário, acolhe-as plenamente, sem benefício do inventário. Fá-las entrar em sua casa e pôr a mesa com a mais bela toalha. E um dia, surpreendendo-se, consegue festejar, encontrando-se finalmente adulto e maduro. Há poucas alegrias maiores do que aquelas que florescem das festas celebradas juntamente com as nossas desilusões. Os mansos conhecem esta festa, saboreiam esta alegria madura e são abençoados. "Bem-aventurados os mansos porque possuirão a terra."
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Giovanni Pascoli, La nonna(a avó)
As bem-aventuranças não são virtudes, não são um discurso ético sobre as ações humanas. São antes o reconhecimento de que, no mundo, existem já os pobres, os mansos, os puros de coração, os que choram, os que são perseguidos por causa da justiça, os misericordiosos. E chamam-lhes 'felizes'.
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire il 13/09/2015
“Que exista a água
que existam as coisas
a pedra, a fuinha, a carícia, o vento
que exista o vazio desmesurado
o amor do espaço
o esfarelamento
da palavra amor
o seu crepitar
não dá trégua
se amor é direção”
Chandra Livia CandianiA pobreza de alegria que a Europa e o Ocidente conhecem há algum tempo, é consequência direta do esquecimento da lógica e da sabedoria das bem-aventuranças. As bem-aventuranças incorporam e exprimem todos os valores abandonados e desprezados pelo capitalismo e, também, pelo nosso mundo cada vez mais construído à imagem e semelhança do deus business.
[fulltext] =>Mansidão, construção de paz, pobreza, misericórdia, pureza, não são palavras da economia capitalista e da sua finança. Porque, se as levarmos a sério, teremos de desfazer os nossos impérios de areia e começar a construir a casa do homem das bem-aventuranças. Não por acaso, nestes trágicos e maravilhosos dias de despertar, inesperado e surpreendente, das bem-aventuranças em muitas zonas da Europa, os grandes ausentes são as grandes empresas e os bancos que, com a empatia sem compaixão, continuam indiferentes e indolentes as suas produções e os seus ritos, não abrem as portas das suas “casas”, não sabem tirar os sapatos para reaprender a caminhar com os pés descalços. Como Adão, como as crianças, como os pobres.
Pureza é a palavra menos compreendida e menos amada da nossa civilização de consumo e da finança. No entanto, sem pureza não compreendemos o mundo, porque vemos apenas as suas dimensões mais superficiais e foge-nos a visão das coisas mais belas. Vemos pouco e mal, perdemos a enorme beleza escondida no que aparece como impuro e nojento. impuro e repelente.
No Evangelho, a pureza está estreitamente ligada ao coração e aos olhos: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”. O coração, no humanismo bíblico, exprime a natureza profunda, espiritual e concreta da pessoa. Na cultura hebraica e, por isso, na de Jesus e dos evangelistas, Deus, porém, não se vê. É esta uma das verdades mais profundas e radicais de toda a Bíblia, o centro da sua luta contra toda a idolatria que adora deuses visibilíssimos e, portanto, falsos. YHWH é uma voz, que podemos escutar através da palavra dos profetas, que podemos sentir palpitar viva no universo. A condição que une todos os humanos é a de ouvintes não videntes de Deus. O que vê, então, o puro, se Deus não se vê? E o que é esta pureza nova e diferente, a pureza do coração?
Para a compreender ou, pelo menos, intuir alguma coisa, é preciso recordar que o mundo antigo tinha uma ideia própria de puro e de impuro, que estava na base de toda a ordem social e religiosa. Existiam lugares puros e lugares impuros, pessoas, animais, profissões, atividades, objetos puros e impuros, e a sociedade estava construída de modo a evitar as contaminações e proteger a pureza da impureza. Explicava-se toda uma hierarquia sagrada em relação com esta sua função de separação. A mensagem cristã realizou uma verdadeira viragem na visão do puro e impuro (já prefigurada por alguns profetas e no livro de Job), propondo uma novíssima ideia de pureza que superava a própria categoria de impureza.
Eis porque a pureza do coração não é a maravilhosa inocência das crianças, nem a dos animais e da natureza. Estas purezas naturais eram como a fonte da pureza sagrada das comunidades antigas que, depois de a ter perdido, procuravam reconstituí-la, sacrificando animais, vegetais, virgens, crianças. Mas a separação do puro do impuro, dos puros dos impuros, estava muito enraizada no mundo para que esta revolução do Evangelho pudesse durar muito tempo e gerar uma nova civilização. E assim, também no coração da cristandade, recriámos os impuros e os leprosos, e reconstruímos, tijolo a tijolo, a própria cultura da imunidade (incontaminação) pré-cristã, que está a viver a sua apoteose precisamente no nosso tempo, aparentemente não religioso e secularizado, de que as multinacionais são os principais apóstolos.
A pureza de coração é exatamente o oposto da antiga (e post-moderna) cultura do puro contraposto ao impuro. Francisco, no seu testamento, diz-nos que a sua conversão se iniciou verdadeiramente quando começou a visitar os leprosos de Assis, abatendo, assim, a cortina de separação entre a pureza e a impureza. A pureza de coração não foge dos leprosos. Vai ao seu encontro, procura-os, ama-os, abraça-os, beija-os. A primeira característica desta pureza é a eliminação do termo impuro das palavras más, e pensar que é precisamente aquilo a que chamamos impureza o caminho por onde passa a verdadeira vida. Então, o primeiro dom dos olhos novos que o puro recebe é ver um mundo diferente, donde desaparece a impureza. Por isso, um sinal claro de que não nos encontramos em presença de olhos de pureza é encontrar a distinção entre puros e impuros – para se colocar, obviamente, do lado aos primeiros.
Se é assim, compreende-se que uma característica geral que encontramos nas pessoas puras de coração é a de não se autodefinirem puras. Derrubada a barreira entre puro e impuro, a pureza torna-se o ambiente, estando dentro os puros de coração, já a não veem. Esta eliminação da cortina entre puro e impuro acontece de vários modos. É, quase sempre, um dom; por vezes, é um ato de libertação que chega num determinado momento da vida. Mas é sempre um movimento da alma, que não se destina a conquistar a pureza, porque procurar diretamente a pureza é a via mestra para perder a que já tínhamos sem o saber e encontrar-se apenas com a pureza pagã. Também por isso, a pureza de coração, como todas as outras bem-aventuranças, não pode ser chamada virtude, porque chega sem ser procurada. É, portanto, a pura liberdade e a felicidade mais profunda.
É esta a primeira pureza do puro: ser puro sem se dar conta e, por isso, não se poder apropriar da sua pureza. É a pureza da pureza. O puro de coração, depois, não é como tal reconhecido, porque esta pureza não se vê e, quando a vemos, é a antiga e pré-cristã. O mundo está povoado por puros de coração, mas não somos capazes de os ver, também porque procuramos a pureza onde ela não está.
O puro dever-se-ia reconhecer por quem consegue ver à sua volta. Vê Deus. Mas, se Deus não se vê, o que vê? Vê, sente uma presença de infinito dentro de si, que alguns sentem e chamam divina, e que muitos outros veem e sentem igualmente, mas não sabem chamá-la pelo nome. E descobre-a também na natureza, no mundo, por toda a parte. Mas, sobretudo, descobre-a nos outros, em todos os outros que encontra ou que descobre nos livros, na música, na arte, na poesia. Vê cada homem e cada mulher como um sacrário que guarda uma presença, mesmo quando perdeu a chave e a portinha permanece sempre fechada. E, assim, é atraído por cada pessoa, é um enamorado da vida e ainda mais das pessoas. O amor do puro é todo agape, mas também é todo eros e todo philia. Vê que o mundo está verdadeiramente povoado de beleza, e que a maior beleza é a das pessoas. E, com os olhos, consegue dizer-nos: “Menina, levanta-te!”. A pureza que nos olha tem a capacidade de ressuscitar a imagem divina que, também a nós, parece morta, mas que, na realidade, estava apenas adormecida, enquanto os parentes e os amigos choravam pela sua morte. Mas o sinal inequívoco que nos desperta a presença dos puros de coração é vê-los abraçar e beijar os pobres e os leprosos.
Esta pureza dá grandes frutos quando a encontramos em quem se encontra como responsável duma comunidade ou de uma empresa. A liderança de quem é puro de coração reconhece-se por aquilo que consegue ver nos outros. Um dos maiores dons que a vida nos pode fazer é pôr-nos ao lado de colegas e dirigentes puros de coração. O jugo do cansaço torna-se levíssimo, e o trabalho companheiro.
Mas há ainda outra coisa e talvez ainda mais sublime. Se é verdade que o puro de coração vê Deus e se é verdade que Deus, na terra, não se vê, então o mundo está cheio de pessoas puras de coração que veem Deus não o vendo, que não sabem que o que estão a ver é Deus, porque não O reconhecem. Deus está onde não se vê, ondem nem os puros de coração conseguem vê-lo. Esta notícia é belíssima, deve encher-nos de esperança, neste tempo que aparece como noite escuríssima de Deus.
O encontro com um puro de coração é, frequentemente, o encontro decisivo da vida. Graças aos olhos que nos olham de modo diferente, conseguimos, talvez apenas por um instante, ligar-nos à parte mais profunda e mais verdadeira de nós; e, sentindo-nos olhados assim, nasce, dentro de nós, o desejo de nos tornarmos aquilo que já éramos, mas que ainda o não sabíamos, ou, simplesmente, voltar a casa. Nestes cruzar de olhares, revive algo daquele primeiro olhar bom de mulher, que nos acolheu ao vir ao mundo, e que continuamos a procurar em toda a nossa vida. A presença destes olhos é uma espécie de bem comum preciosíssimo, que mantêm vivo o olhar de Elohim sobre a terra, que continuam a ação dos olhos que, nas estradas da Palestina, mudaram o mundo olhando-o dum modo diferente: “E, olhando-o, amou-o”.
A pureza, como todas as realidades da terra, pode perder-se. Também o puro de coração pode perder o seu olhar. E o único sinal que nos diz que perdemos a pureza é o já não ver nos outros, no mundo e dentro de nós, uma presença de infinito e, por isso, deixar de estar enamorados de tudo e encantados com tudo.
Mas, como todas as realidades espirituais, a pureza de coração pode reencontrar-se; pode-se voltar a ser puros. Pode-se voltar porque é muito grande a saudade do Deus que vimos-não-O-vendo, dentro de nós e à nossa volta. E o primeiro sinal de que está a voltar é desejá-la de novo e, ainda mais, voltar a beijar pobres e leprosos. Uma existência florida e feliz é um longo caminho para reencontrar, quando velhos, a pureza da infância transformada em pureza de coração. “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”.
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire il 13/09/2015
“Que exista a água
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a pedra, a fuinha, a carícia, o vento
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o amor do espaço
o esfarelamento
da palavra amor
o seu crepitar
não dá trégua
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Chandra Livia CandianiA pobreza de alegria que a Europa e o Ocidente conhecem há algum tempo, é consequência direta do esquecimento da lógica e da sabedoria das bem-aventuranças. As bem-aventuranças incorporam e exprimem todos os valores abandonados e desprezados pelo capitalismo e, também, pelo nosso mundo cada vez mais construído à imagem e semelhança do deus business.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire no dia 06/09/2015
“Vejo e descubro a minha própria Luz nos outros, a Realidade verdadeira sobre mim, o meu verdadeiro eu nos outros (talvez enterrado ou secretamente camuflado, por vergonha) e, reencontrando-me a mim mesma, reúno-me a mim, ressuscitando-me”.
Chiara Lubich, A ressureição de Roma.
A misericórdia foi o cimento com que edificámos, nos séculos passados, a nossa civilização. Sem conhecer e amar a misericórdia não compreendemos a Bíblia, a Aliança, o livro do Êxodo, Isaías, o evangelho de Lucas, Francisco de Assis, Teresa de Ávila, Francisca Cabrini, Dom Bosco, as obras sociais cristãs, a Constituição italiana, o sonho europeu, a vida em conjunto e os amores depois dos campos de concentração, as famílias que vivem unidas até ao fim.
[fulltext] =>É a misericórdia que faz amadurecer e durar as nossas relações, que transforma o enamoramento em amor, simpatia e sintonias emotivas em projetos robustos e grandes, que confirma os nossos “para sempre”, pronunciados na juventude, que impede que a maturidade e a velhice se tornem só uma saudosa narração dos sonhos de infância.
A misericórdia vive de três movimentos simultâneos: o dos olhos, o das vísceras (o rachàm bíblico) e o das mãos, da mente, das pernas. O misericordioso é, antes de mais, alguém capaz de ver mais em profundidade.
A primeira misericórdia é um olhar, que reconstrói, dentro da pessoa misericordiosa, a figura moral e espiritual de quem lhe suscita misericórdia. Antes de fazer e de agir para “cuidar dele”, o misericordioso olha-o e vê-o de modo diferente. Vislumbra o “ainda não” para além do “já” e o “já foi” que aparece a todos. Antes de ser uma ação ética, a misericórdia é um movimento da alma, com o qual consigo ver o outro no seu desígnio original, antes do erro e da queda e amo-o para o recriar na sua natureza mais verdadeira. Consegue reconstruir, dentro da alma, a imagem quebrada, recompor a trama perdida. Vê que há uma solidariedade inter-humana mais profunda e verdadeira do que qualquer delito, crê que a fraternidade não é apagada por nenhum fratricídio. Revê ainda Adão após Caim.
E, enquanto lhe aparece a pureza na impureza, a beleza no feio, a luz no escuro, movimenta-se também o corpo, são tocadas as carnes. Comovem-se as vísceras. A misericórdia envolve todo o corpo, é uma experiência total, algo semelhante ao parto de uma nova criatura – se não fosse a misericórdia, a experiência do parto permaneceria totalmente inacessível a nós, machos: e, pelo contrário, podemos intuir algo deste mistério, o maior de todos, quanto damos a vida com misericórdia. A misericórdia sente-se, sofre-se, há trabalho. É uma experiência incarnada, corporal. Por isso, quem conhece a misericórdia, conhece também o desdém: se não sofro visceralmente pela injustiça e pelo mal à minha volta, não posso ser misericordioso. São as mesmas vísceras que se movem hoje pela indignação e a raiva pelas crianças, mortas por asfixia, naquele TIR ou afogadas num braço de mar e, amanhã, pela traição de um amigo necessitado de perdão.
A misericórdia é uma mistura de dom e de virtude. A capacidade de ver a parte viva do coração do outro, que permanece imaculado depois do crime mais brutal (uma parte viva que existe realmente, e que permanece viva até ao último segundo da nossa existência, porque se assim não fosse, seríamos apenas demónios), não é fruto do nosso empenhamento. É toda gratuidade. É dom recebido da vida, da nossa família e da educação na infância e na juventude. A misericórdia, porém, tem também necessidade do empenhamento e da virtude quando, olhada dentro a alma e escutadas as próprias vísceras, dizemos livremente que deve começar a hora do agir, do movimento das pernas, das mãos, da mente. A virtude e o empenhamento, que vêm sempre após da oferta do “coração de carne” e de “olhos de ressurreição”, são necessários depois para procurar conservar e aumentar, ao longo da vida, aquele olhar, que tende a apagar-se com o passar dos anos.
Não se é misericordioso para com qualquer um, mas apenas com quem se encontra numa condição de erro, de defeito, de pecado, uma situação que me tocou e feriu pessoalmente. A primeira dor na origem do processo é a que sente a pessoa misericordiosa pelo mal recebido. Aquela primeira dor – por uma traição, um delito para comigo ou outros, por uma injustiça que me atinge direta ou indiretamente – deve ser real e concreta. É graças a este primeiro sofrimento que se ativam o olhar diferente, a comoção pela dor do outro e a ação destinada a curar a ferida. Eis porque a misericórdia nasce e se exercita, sobretudo, dentro das nossas relações primárias de comunhão (não é por acaso que na Bíblia é usada na relação entre Deus para e o seu povo, nas relações com os filhos, com os amigos).
O campo semântico da misericórdia não se encontra com o da meritocracia. Pela sua própria natureza, a misericórdia experimenta-se por quem não é merecedor, por quem mereceria apenas o desprezo e a repulsa. Também por esta razão, não a encontramos no mundo da economia e das grandes empresas, onde não existe e, se existir, é combatida porque subversiva em relação a todas as leis e regras da justiça dos mercados, que conhecem a praticam apenas a lógica meritocrática do “irmão maior”.A misericórdia, pelo contrário, é imprudente, parcial, assimétrica, desequilibrada, de uma parte. Por isso, o capitalismo não a pode amar; mas se não existisse, pelo menos, um misericordioso em cada organização ou comunidade, o seu terreno seria muito envenenado pelas toxinas que produzem e lá não cresceria qualquer fruto bom.
A misericórdia tem, pois, uma relação intrínseca e necessária com o perdão. O perdão do misericordioso, porém, é um perdão com características próprias. Por exemplo, não lhe é necessário nem o arrependimento do outro, nem que o perdão seja pedido. A comoção das vísceras e o olhar curador ativam-se antes que o outro tenha reconhecido a própria culpa e se tenha convertido – embora o arrependimento e a contrição favoreçam a ativação da misericórdia. O pai esperava o filho pródigo à porta da casa enquanto este ainda devorava os seus últimos haveres com as prostitutas e comia com os porcos. O seu estar à porta, a olhar o horizonte, era já misericórdia. Tinha-o “visto”, quando ainda “estava longe”. E correrá ao encontro do filho, beijá-lo-á e o abraçá-lo-á ainda antes de verificar o seu arrependimento e a sua conversão. Nada é mais incondicional que um ato de misericórdia. E nada é mais livre. O arrependimento e a conversão são, frequentemente, uma consequência da misericórdia. O “levantar-me-ei e irei” é, muitas vezes, um misterioso efeito da misericórdia de alguém que, talvez sem o saber, começou a julgar-nos e a ver-nos dentro do próprio coração com olhos misericordiosos e terapêuticos. Nunca saberemos quantos passos de libertação das condições mais escuras começam porque alguém nos olhou com misericórdia – talvez enquanto dormíamos – e sarou, assim, a nossa ferida na sua alma. E, um dia, encontrámo-nos capazes de nos erguer, para nos pormos novamente a caminho. A terra está cheia de passos de libertação das armadilhas morais e espirituais profundíssimas começadas no coração dos misericordiosos. Os renascimentos começam a ressurgir no coração de quem nos olha com olhos de mãe.
A nossa misericórdia está sempre em segundo lugar. Descubro, surpreendido, poder ser misericordioso porque alguém o foi antes para comigo. Na misericórdia o “me” precede o “eu”: alguém me amou e me curou com as vísceras e com o olhar e, por isso, eu me tornei capaz de fazer o mesmo. Uma reciprocidade de receber e dar misericórdia que vale sempre, mas que é essencial quando se é pequeno e jovem. Por detrás de uma pessoa capaz, hoje, de misericórdia, escondem-se, invisíveis, muitos rostos de misericordiosos que lhe deram a possibilidade da misericórdia.
“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Uma bem-aventurança maravilhosa, a única que se oferece a si mesma como prémio. A misericórdia é a promessa da misericórdia. Mas que misericórdia encontrará o misericordioso? Não temos nenhuma garantia – vemo-lo todos os dias – que o meu ser misericordioso gere, nos outros, a misericórdia para comigo. Talvez haja uma ligação entre as misericórdias oferecidas e as recebidas, mas o mundo está também cheio de pessoas misericordiosas que, no dia em que se encontrarem em necessidade de misericórdia, não a encontram – ou encontrarão muito pouca em comparação com a que ofereceram.
Há, porém, dois tipos de misericórdia que, certamente, o misericordioso “encontra”. A primeira é a que temos dado e que, dando-a, se multiplicou. A misericórdia, como e mais do que as grandes virtudes, cresce com o seu exercício. Tornamo-nos mais misericordiosos praticando a misericórdia. Como os choupos e as tamargueiras que tratam e desintoxicam solos doentes e envenenados, que se alimentam das substâncias nocivas que os fazem crescer e viver. Se o mundo não fosse habitado por misericordiosos – e são-no mais do que pensamos – a terra estaria toda envenenada, e o desabrochar da primavera nunca aconteceria.
Uma outra forma de misericórdia que encontra o misericordioso, verdadeiramente preciosa e sublime, está na relação consigo próprio. Quem é capaz, por gratuidade ou por virtude, de praticar a misericórdia para com os outros, encontra-se, um dia, com o dom de olhos diferentes com os quais olha também para as dimensões da própria vida que não queria experimentar e que o fazem sofrer. Nesse dia, as nossas vísceras começam a mover-se no encontro cara a cara com a pessoa em que não nos queríamos tornar e que, infelizmente, somos, com os encontros perdidos, os erros nos cruzamentos, com a história que não queríamos escrever mas que, infelizmente, escrevemos.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire no dia 06/09/2015
“Vejo e descubro a minha própria Luz nos outros, a Realidade verdadeira sobre mim, o meu verdadeiro eu nos outros (talvez enterrado ou secretamente camuflado, por vergonha) e, reencontrando-me a mim mesma, reúno-me a mim, ressuscitando-me”.
Chiara Lubich, A ressureição de Roma.
A misericórdia foi o cimento com que edificámos, nos séculos passados, a nossa civilização. Sem conhecer e amar a misericórdia não compreendemos a Bíblia, a Aliança, o livro do Êxodo, Isaías, o evangelho de Lucas, Francisco de Assis, Teresa de Ávila, Francisca Cabrini, Dom Bosco, as obras sociais cristãs, a Constituição italiana, o sonho europeu, a vida em conjunto e os amores depois dos campos de concentração, as famílias que vivem unidas até ao fim.
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por Luigino Bruni
publicado no Avvenire no dia 30/08/2015
"Por mais egoísta que possa ser considerado o homem, existem claramente, na sua natureza, princípios que o levam a interessar-se pelo destino dos outros e que fazem com que a sua felicidade seja necessária, embora ele não tire dela mais do que o prazer de a ver. É a piedade ou a compaixão, aquela emoção que sentimos por causa da desgraça dos outros, quando a vemos ou quando conseguimos senti-la forte e viva com a nossa imaginação."
Adam Smith, A teoria dos Sentimentos Morais, 1759
A gestão das nossas emoções e das dos outros está a tornar-se cada vez mais difícil. Nós reduzimos drasticamente os espaços, os lugares e os instrumentos comunitários e pessoais para acompanhar, cuidar, sublimar as nossas emoções.
[fulltext] =>A cultura das grandes empresas - e que destas está a emigrar para todo o mundo - produz uma quantidade crescente de emoções negativas (deceção, medo, raiva, ansiedade, tristeza...) que são tratadas como verdadeiros "resíduos" e, em seguida, rejeitadas, expulsas ou tomadas como marcadores de trabalhadores "perdedores". E nada de as mostrar e tornar visíveis nos mesmos lugares que as geraram, sob pena de não se avançar na carreira ou, não raramente, perder o próprio emprego. Nos últimos anos, estes efeitos colaterais emocionais têm crescido ao ponto de levar as grandes empresas a recorrer a novas figuras profissionais, às quais é delegada e contratada a gestão dos desconfortos emocionais produzidos por estilos relacionais insustentáveis nos locais de trabalho. Enxerta-se assim uma espiral perversa, semelhante à que encontraremos em (mais ou menos) hipotéticas fábricas que poluem o ambiente de trabalho e, em seguida, em vez de eliminar o veneno, entregam aos cuidados gratuitos de desintoxicação, em clínicas especializadas, ou criam novos departamentos internos para a desintoxicação de fumos tóxicos dos dependentes. Mas enquanto a nossa sensibilidade ética já não aceita tais soluções, em termos de saúde e ambiente, aprovamo-las serenamente, na gestão das nossas emoções, e, por isso, não nos revoltamos frente às nossas empresas, que primeiro nos entristecem e deprimem em relacionamentos de trabalhos insustentáveis e, depois, oferecem-nos técnicas e peritos para as tratar; e até talvez lhes agradeçamos porque nos oferecem gratuitamente estes tratamentos. É como se contrair uma doença e, depois, (tentar) curá-la fosse o mesmo que não ficar doente. E, assim, continuamos a multiplicar as emoções negativas e as suas curas, que mais não podem fazer do que crescer juntas.
Na verdade, estas novas autênticas armadilhas de pobreza emotiva dependem da forte diminuição da compaixão, uma das maiores e mais preciosas virtudes humanas e da sua substituição com técnicas e instrumentos. Compaixão significa literalmente "sofrer" (pati) "juntos" (cum), ou seja, a capacidade de saber e querer compartilhar a dor dos outros. A compaixão é a atitude oposta à inveja, porque enquanto o invejoso se alegra pelos sofrimentos dos outros e sofre pelas suas alegrias, o compassivo sofre com a dor e regozija-se com a alegria dos seus próximos. A inveja, sentimento produzido, encorajado e cultivado pela nossa cultura rival e competitiva, pode-se curar limitando os seus danos graves, introduzindo no organismo social pessoas capazes de compaixão, que são os antibióticos naturais do vírus da inveja. Na tradição ocidental (mas não só nesta: pense-se no budismo) a compaixão é algo diferente daquela a que hoje chamamos empatia, porque na compaixão há uma participação intencional na dor do outro, com a finalidade de o aliviar, que não é pedida à empatia. Na compaixão, há vontade de fazer o bem a quem se encontra num estado de sofrimento, que nasce da consciência ou esperança de que a partilha daquele sofrimento possa de alguma forma aliviar.
Onde e como se cria a compaixão? Nas gerações passadas, onde a compaixão estava mais presente e, em determinados períodos, era até mesmo sobreabundante (durante as guerras e após os grande lutos coletivos), o principal lugar onde se formava e alimentava a compaixão era a comunidade, a começar pela família. A compaixão tinha as suas instituições e a sua manutenção ocupava muitas energias coletivas. Os funerais, por exemplo, eram pensados como uma ótima forma de compaixão comunitária. Há algumas semanas, ao participar num funeral na minha terra natal, fiquei muito impressionado com a quantidade de beijos e lágrimas que, misturados, se poisavam nos rostos da viúva e dos filhos do falecido, uma compaixão coletiva e verdadeira, que em décadas passadas, durava vários dias. Eram as muitas comunidades da vida que criavam a nossa capacidade de compaixão e os lugares onde a exercer. Os longos serões, ainda não ocupados pela televisão, eram o tempo da compaixão, onde os adultos a exerciam entre eles e as crianças a aprendiam assistindo. Nessas sociedades passadas, a compaixão aprendia-se, também, escutando as histórias e as fábulas, lendo a grande literatura que, desde crianças, criavam e cultivavam a capacidade de sofrer e se alegrar pelos sofrimentos e alegrias que se tornavam, pouco a pouco, até também os nossos. Quanto compaixão conseguem criar, nas nossas crianças, os novos contos digitais e os videojogos do tablet?
A compaixão é uma experiência que nunca nos deixa imunes: muda-nos, contagia-nos com os sentimentos e com os sofrimentos do outro. Todos nós temos, em graus variados, uma capacidade natural de empatia, mas a compaixão começa quando, uma vez desencadeada a empatia e sentido algo das emoções do outro, eu decido, livremente, deixar-me contagiar pelo seu sofrimento, compartilhar as suas emoções, fazer-me seu próximo solidário e companheiro de parte da estrada. Por esta razão, embora possa haver (e existe muita) empatia sem bondade, para compaixão há necessidade do agape, da escolha de levantar aquela pessoa concreta amando-a, como o samaritano com a vítima caído nas mãos dos salteadores. A compaixão, então, não é um ato unilateral e unidirecional. É uma relação, um sentir juntos e estar, mútua e simultaneamente, cientes de estar a experimentar as mesmas emoções e os mesmos sentimentos. É esta experiência mútua e contemporânea que alivia a dor e multiplica a alegria. Algumas dores só podem ser aliviadas pela compaixão. Se não se atingir esta consciente reciprocidade emocional, a compaixão não é plena e não dá os seus estupendos frutos. Se, de facto, eu não consigo entrar nos sentimentos do outro - ou o outro não me dá permissão para fazê-lo – até me tornar "um só coração", a compaixão não pode nem aliviar a dor em quem sofre, nem fazer experimentar, em quem toma sobre si a dor do outro, aquela alegria típica e profunda. A experiência da compaixão ensina-nos, então, que não é verdade que a dor e a alegria sejam dois sentimentos opostos: as maiores alegrias são aquelas que surgem das dores partilhadas e acompanhadas, onde permanece a dor, mas ao lado da qual desabrocha, como uma flor rara, uma misteriosa e sublime alegria.
A cultura imunitária das grandes empresas não quer a compaixão, porque não gosta da mistura e do contágio das emoções, nas relações de trabalho normais, um contágio que desencoraja e combate. Mas, como o sofrimento emocional nos trabalhadores cresce, as empresas procuram responder com a oferta de técnicas empáticas ao pedido de compaixão, criando profissionais que se ocupem do desconforto emocional, sem ter de o “tocar” profundamente. Inibe-se e impede-se o desenvolvimento de compaixão entre trabalhadores e gestores, reduzem-se os espaços extralaborais comunitários e a cultura empresarial ocupa sempre mais âmbitos da vida para onde exporta o seu desprezo pela compaixão e a sua substituição com as técnicas (vi estes profissionais, mesmo dentro de um santuário). E assim, paradoxalmente, estas figuras e estes instrumentos só fazem aumentar o anseio por compaixão insatisfeita e frustrada, apesar das boas e, frequentemente, ótimas intenções. Enquanto a cultura dominante nas nossas empresas e na nossa sociedade continuar a considerar a dor, a vulnerabilidade, as feridas, só como custos e males a evitar e a combater, sem os tocar, acolhê-las e dar-lhes espaço como componentes necessárias e, muitas vezes, amigas dos seres humanos, só vai multiplicar os males emocionais reais, que surgem de relacionamentos humanos parciais, imunitários, artificiais e assim doentes. As técnicas empáticas, os profissionais e os consultores, podem ser muito úteis em todos os âmbitos, desde que não se tornem substitutos e "monopolistas" daquela compaixão civil e generalizada, que constitui a alma profunda de cada sociedade.
Por fim, a compaixão tem as suas palavras típicas. A primeira é atenção. Não cultivamos e praticamos a compaixão se estamos distraídos e não atentos para quem passa ao lado, trabalha na secretária ao lado da nossa, mora no apartamento em frente. Há demasiadas vítimas de salteadores que são abandonadas e feridas ao longo do caminho das nossas Jerusalém e Jericó, porque faltam pessoas capazes de atenção. Sem esta atenção interior, que é a vigilância espiritual, não conseguimos exercitar o segundo verbo fundamental da compaixão: olhar. O compassivo passa pelo mundo olhando-o. Tem atenção e silêncio interior suficientes para olhar a vida que lhe passa ao lado. Olha e vê e, por isso, sente o infinito grito de compaixão que se eleva das cidades. E uma vez vistas e ouvidas as dores dos outros, escolhe livremente exercer a compaixão, inclinando-se, fazendo-se próximo, cuidando da dor dos outros. A compaixão é essencial para viver bem, porque nos torna capazes de multiplicar também as nossas alegrias, partilhando-as. É uma espécie de músculo moral que, se se atrofia, não nos impede apenas de reduzir a dor dos outros, mas diminui também a nossa capacidade de alegria e vida. A cultura imunitária do nosso tempo está a atrofiar este músculo e, por isso, custa-nos cada vez mais experimentar emoções pela dor dos outros e, sobretudo, agir motivados por compaixão.
Temos uma imensa necessidade de pessoas compassivas; hoje mais que ontem. Estamos cada vez mais inundados por sofrimento psíquico, moral e espiritual, mas o terreno não consegue absorver esta água porque são demasiado poucas as pessoas capazes de compaixão, e menos ainda aquelas que a exercem. São, no entanto, estas que mudam radicalmente a qualidade moral dos lugares onde se vive. Basta, por vezes, uma única pessoa compassiva para salvar uma comunidade inteira. A vida funciona e floresce quando somos capazes de descobrir a beleza que nos rodeia, deixando-nos amar por ela. Mas não menos importante é procurar e descobrir a dor à nossa volta, amá-la e deixar-nos amar por ela. O maior dom que se pode fazer a um filho é ajudá-lo na sua capacidade de compaixão. Porque é a compaixão pela dor dos outros que nos faz ver a maior beleza da terra, a escondida no coração das pessoas.
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por Luigino Bruni
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire no dia 23/08/2015
“A verdadeira generosidade é uma troca de consequências imprevisíveis. É um risco, porque mistura as nossas necessidades e os nossos desejos com as necessidades e os desejos dos outros”.
A. Phillips e B. Taylor, Elogio da gentileza
As empresas e todas as organizações serão lugares de vida boa e plena desde que deixem viver virtudes não económicas ao lado das económicas-empresariais. Uma coexistência decisiva, mas nada simples, porque exige que os dirigentes renunciem ao controle total dos comportamentos das pessoas, que aceitem uma componente de imprevisibilidade nas suas ações, estarem dispostos a relativizar até mesmo a eficiência, que se está a tornar o verdadeiro dogma da nova religião do nosso tempo.
[fulltext] =>A generosidade é uma destas virtudes não económicas, mas também essenciais para todas as empresas e instituições. A raiz da generosidade encontra-se na palavra latina genus, generis, um termo que lembra raça, família, nascimento – é este o primeiro significado da palavra genere. Esta antiga etimologia, hoje perdida, diz-nos coisas importantes sobre a generosidade. Antes de mais, recorda-nos que a nossa generosidade tem muito a ver com a transmissão da vida: com a nossa família, com as pessoas à nossa volta, com o ambiente em que crescemos e aprendemos a viver. Recebemo-la em herança, ao vir ao mundo. É um dote que nos deixam os nossos pais e parentes. A generosidade forma-se dentro de casa. A que temos dentro depende muito da generosidade dos nossos pais, de como e quando se amaram antes de nós nascermos, das escolhas de vida que fizeram e das que fazem quando nós começamos a olhá-los. Da sua fidelidade, da sua hospitalidade, da sua atitude para com os pobres, da sua disponibilidade em “gastar” o tempo para ouvir e ajudar os amigos, do seu amor e do reconhecimento para com os seus pais.
Esta generosidade primária não é uma virtude individual, mas um dom que começa a fazer parte da dotação moral e espiritual, daquilo a que se chama carácter. É um capital com que chegamos à terra, que se formou antes do nosso nascimento e que se alimenta da qualidade das relações, nos primeiríssimos anos de vida. Depende também da generosidade dos nossos avós, dos bisavós, dos vizinhos de casa e de muitos outros que, embora não compondo o meu DNA, estão também presentes, de modo misterioso mas realíssimo, na minha generosidade (e não generosidade). É influenciada pelos poetas que alimentaram o coração da minha família. Pelas orações do meu povo, pelos músicos de que gosto e escuto, pelos contadores de histórias nas festas da aldeia, pelos discursos e pelas ações dos políticos, pelas homilias dos pregadores. Pelos mártires de todas as resistências, pelos que ontem deram a sua vida pela minha liberdade de hoje. Pelas generosidades infinitas das mulheres dos séculos passados (há uma grande afinidade entre mulher e generosidade), que puseram o florescimento da família, a que deram vida, acima da sua – e continuam a fazê-lo. A generosidade gera reconhecimento por quem nos tornou generosos com a sua generosidade.
Viver com pessoas generosas torna-nos generosos – assim como acontece com a oração, com a música, com a beleza… Cultivar a generosidade produz muito mais efeitos que os que conseguimos ver e medir – e o mesmo acontece com a não-generosidade, nossa e dos outros. O depósito de generosidade duma família, de uma comunidade, de um povo, é uma espécie de soma da generosidade de cada um. Cada geração desenvolve o valor deste depósito ou o reduz, como está a acontecer, hoje, na Europa, onde a nossa geração, empobrecida de grandes ideais e paixões, está a delapidar o património de generosidade que herdou. Um País que deixa metade dos seus jovens sem trabalho, não é um país generoso.
A nossa generosidade, portanto, reduz-se ao envelhecer. Quando nos tornamos adultos e, depois, anciãos, encontramos, naturalmente, menos generosidade. O horizonte futuro torna-se, improvisamente, finito e próximo e, assim, o tempo – que é a primeira “moeda” da generosidade – torna-se mais escasso. Nunca nos é suficiente e não há mais para os outros. E, assim, para conservar a generosidade que herdámos e cultivamos desde jovens, é preciso muito trabalho. Aqui, a generosidade torna-se virtude, porque é preciso muito amor e muita dor para se manter generosos quando os anos passam.
Mas é fundamental conservar-se generoso se se quer continuar a gerar vida. Generosidade e gerar são duas palavras irmãs, uma lê-se e explica-se com a outra. Só quem é generoso gera, e a geração da vida reforça e alimenta a generosidade. Um sintoma do declínio da generosidade é, então, a não fecundidade ou esterilidade da vida. Quando nos encontramos, frequentemente dum momento para o outro, sem criatividade e energia vital para esperar voltar a gerar, é preciso desejar ser ainda generoso, em qualquer idade – o tempo doado por uma pessoa novamente generosa tem um valor infinito.
Nas empresas, que são simplesmente um pedaço de vida, há frequentemente muita generosidade e, por isso, produtividade. Os empresários são generosos por vocação, sobretudo na primeira fase da sua atividade, quando a empresa não é senão uma caixa de sonhos para realizar, quando todos os dias nascem novas ideias, quando se está de tal modo ocupado a fazer nascer o novo que não sobra tempo para a avareza e a mesquinhez. As boas empresas, mesmo as económicas e industriais, nascem de pessoas generosas, e continuam a nascer assim. Quando uma empresa começa, a generosidade dos empresários, sócios, dirigentes, trabalhadores, não é apenas importante; é essencial para crescer bem. Sem o entusiasmo e o excesso de todos em relação a quanto o contrato de trabalho e os deveres pedem, logo sem generosidade, as empresas não perduram; podem nascer gabinetes para responder às chamadas ou para captar alguma oportunidade especulativa, mas não empresas boas e bonitas.
A alegria, “sacramento” de qualquer vida generosa, acompanha também o início das aventuras dos jovens empresários e das verdadeiras empresas. Mas quando a empresa cresce e se transforma, progressivamente, numa organização complexa, burocrática e orientada racionalmente para os objetivos, a generosidade originária dos empresários reduz-se e a verdadeira generosidade dos trabalhadores não mais é exigida nem encorajada. Em seu lugar é desenvolvida uma subespécie de generosidade: a que existe em função dos objetivos, que se pode gerir e controlar. E, assim, tira-se a sua dimensão de excedente, de abundância, de liberdade. A generosidade não é eficiente, porque tem uma necessidade essencial de esbanjamento e de superabundância. E não é estimulável, porque não responde à lógica do cálculo.
Compreende-se, então, que uma cultura organizativa, construída à volta da ideologia do incentivo, faz murchar, nos seus membros, precisamente a dimensão de generosidade excedente que lhe tinha permitido ser inovadora e fecunda nos melhores tempos. A empresa tornada instituição quer apenas a generosidade que entra nos seus próprios planos industriais, uma generosidade limitada, domesticada, reduzida. Mas se a generosidade perde a abundância e o excedente, desvirtua-se, torna-se outra coisa. Não se pode ser generoso “por objetivos”.
Quem procura normalizar a generosidade enfraquecendo as suas dimensões menos controláveis e mais desestabilizadoras, não faz senão combater e matar a própria generosidade. A generosidade produz os seus bons frutos se é deixada livre para gerar mais frutos do que os necessários. Mas é precisamente a convivência de frutos “úteis” e “inúteis” um dos grandes inimigos das empresas capitalistas e de todas as instituições burocráticas. Conseguimos, com a tecnologia, construir “tangerinas” sem as maçadoras sementes; mas se as técnicas de gestão eliminam da nossa generosidade as “sementes” que não agradam ou não são úteis à empresa, é a própria generosidade a desaparecer. Os seres humanos dão muito apenas se são livres de dar tudo. A qualidade da vida, em muitas das nossas organizações, dependerá sempre da capacidade dos seus dirigentes em deixar amadurecer mais frutos do que os que se colocarão nos mercados, em fazer viver e crescer também as virtudes que não interessam à empresa.
Chegamos, de novo, a uma nova conjugação do principal paradoxo das organizações modernas. O crescimento das dimensões e a aplicação de técnicas e métodos estandardizados de gestão e controlo sacrificam, nos trabalhadores, as características que a fizeram nascer e de que a empresa teria ainda necessidade vital para continuar a produzir. Esta é uma lei que vale para todas as organizações, mas que é crucial quando se tem que lidar com empresas e comunidades que vivem apenas se e quando arriscam ter pessoas generosas colocadas em condições de exercitar a sua generosidade também no trabalho.
Há, enfim, um aspecto especialmente delicado na dinâmica da generosidade. É a que podemos chamar “castidade organizativa”. Generosidade não se refere apenas a gerar; requer também a castidade, uma palavra que apenas na aparência pode parecer a antítese das outras duas. A pessoa generosa não “come”, não consuma as pessoas que vê à sua volta, mas deixa-as completamente livres. Uma empresa-organização generosa não ambiciona a posse total do tempo e da alma dos seus melhores trabalhadores, nem sequer dos especialistas de quem depende quase todo o seu sucesso. Porque sabe – ou intui – que, se o fizer, estas pessoas perderiam as dimensões de beleza que as tinham tornado excelentes ou especiais; que, para permanecerem vivas, precisam de liberdade e de excedente. Se apanho a belíssima flor do vale alpestre para enfeitar a sala de estar, já decretei o seu fim. Mesmo que lhe conserve as raízes e as plante no meu jardim, não voltarei a ver as cores e o perfume que me tinham atraído na montanha, porque eram o fruto espontâneo da generosidade de todo o vale, daquele sol, daqueles minerais, daquele ar. Os melhores jovens das nossas organizações e comunidades permanecem belos e luminosos enquanto não quisermos transplantá-los para o jardim de casa, enquanto os não transformarmos num bem “privado”, enquanto estivermos dispostos a partilhar a sua beleza com todos os habitantes do vale. Há muitos jovens que murcham nas grandes empresas e, por vezes, também nas comunidades religiosas, porque não encontram a generosidade necessária para manter a sua beleza excedente. Para conservar a generosidade das pessoas, são necessárias instituições generosas, pessoas magnânimas, almas maiores que os objetivos da organização.
Estamos habitados por um sopro de infinito. Todos os lugares da vida continuam a florir enquanto o sopro permanecer vivo, livre, inteiro.
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por Luigino Bruni
publicado em Avvenire no dia 23/08/2015
“A verdadeira generosidade é uma troca de consequências imprevisíveis. É um risco, porque mistura as nossas necessidades e os nossos desejos com as necessidades e os desejos dos outros”.
A. Phillips e B. Taylor, Elogio da gentileza
As empresas e todas as organizações serão lugares de vida boa e plena desde que deixem viver virtudes não económicas ao lado das económicas-empresariais. Uma coexistência decisiva, mas nada simples, porque exige que os dirigentes renunciem ao controle total dos comportamentos das pessoas, que aceitem uma componente de imprevisibilidade nas suas ações, estarem dispostos a relativizar até mesmo a eficiência, que se está a tornar o verdadeiro dogma da nova religião do nosso tempo.
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de Luigino Bruni
publicado em Avvenire no dia 09/08/2015
“E quando vejo as estrelas brilhar no céu,
Penso para comigo:
Para quê tantas tochas?
Que faz o ar infinito e aquela profunda
Infinita Seren? Que quer dizer esta Solidão imensa? e que sou eu?”Giacomo Leopardi, Canto noturno de um pastor nómada da Ásia
A humildade é uma das virtudes que a economia e as grandes empresas não amam, embora tenham uma necessidade vital dela. A nossa cultura, cada vez mais modelada por valores mercantis, não consegue ver a beleza e o valor da humildade, que assim é humilhada.
[fulltext] =>As virtudes praticadas e alimentadas pelas grandes empresas e organizações alimentam-se, de facto, pela anti-humildade. Para fazer carreira e ser valorizados é preciso ostentar os próprios méritos, mostrar mentalidade e atitudes “vencedoras”, ser mais ambiciosos que os outros colegas concorrentes. É preciso procurar e desejar o que se encontra no alto e fugir do baixo, onde está a terra, o humus, a humilitas.
O nosso tempo não é um tempo humilde. As gerações passadas e as que estão a desaparecer conheciam e reconheciam muito bem a humildade. Aprenderam a descobri-la escondida na terra, experimentando os limites que só o faz verdadeiramente quem conhece a terra com as mãos. Era tocando os tijolos, a madeira, as ferramentas duras do trabalho, as roupas pobres, o alimento escasso, as máquinas nas fábricas e nas oficinas, que se descobria a terra, e, dialogando com ela, se aprendiam as artes e a arte de viver. A cultura das gerações que conheceram as grandes guerras e os holocaustos, conseguindo salvar a fé em Deus e no homem, era uma cultura humilde, porque aqueles homens e aquelas mulheres amavam, apreciavam, premiavam a humildade.
A humildade era a virtude da vida adulta. As crianças e os jovens não são humilhados com o objetivo de os tornar humildes. A humilhação provocada pelos outros não produz humildade mas inúmeras doenças de carácter. A única humilhação boa é a que nos chega da vida, sem que ninguém as procure intencionalmente. Preparam-se as crianças e os jovens para a humildade pondo-os em contacto com a beleza, com a arte, com a natureza, com a espiritualidade, com a poesia, com as fábulas, com a grande literatura. É encontrando o infinito que nos descobrimos finitos, mas habitados por um sopro de eternidade, e quando a experiência de tocar o infinito é acompanhada pelas expressões mais altas do humano, a finitude não esmaga, mas eleva; o limite não mortifica, mas faz viver. Quando elevamos os olhos e sentimos o céu “infinito e imortal”, forma-se em nós o terreno onde a humildade pode desabrochar.
A humildade, portanto, forma-se na relação com os pares: na comparação com os companheiros, com os irmãos e as irmãs. A redução do número e da biodiversidade dos companheiros das nossas crianças, substituídos por encontros “funcionais” (piscina, música…) e, sobretudo, por muitas relações “omnipotentes” com as máquinas (tv, smartphone, tablet…) modifica e reduz, inevitavelmente, as ocasiões para as boas experiências dos limites e, por isso, ameaça o desenvolvimento da humildade. Um encontro essencial para o nascimento da humildade é com a morte e a doença, a partir dos primeiros anos de vida. Esconder às crianças a visão dos avós e dos familiares mortos, não levar os meninos aos funerais e a visitar os familiares e amigos doentes, afasta e complica o encontro com a lei da terra e não favorece a maturação da humildade. Uma educação sem limites não pode educar à humildade.
Muitos idosos e velhos são testemunhas e mestres da humildade, porque a vida teve o tempo necessário para os tornar humildes. Nas civilizações anteriores à nossa, a sua presença era essencial também pelo magistério de humildade que exerciam. A distância da primeira terra que os tinha gerado e a proximidade da segunda que os esperava oferecia uma perspetiva diferente e co existencial acerca da vida, que podia ser oferecida a todos. Também por esta razão, o mundo dos grandes negócios, construído sobre registos psicológicos adolescentes e juvenis (daí o grande uso de metáforas desportivas, quase todas impróprias) não conhece nem compreende a humildade.
Na humildade vê-se na sua expressão máxima, uma lei universal que encontramos no coração de muitas virtudes e de outras grandes coisas da vida: tornamo-nos humildes sem nos darmos conta. A humildade chega enquanto procuramos outra coisa: a justiça, a verdade, a honestidade, a lealdade, o amor. Não pode ser programada, não pode ser desejada, estimada, esperada como oferta da vida. E esperando-a, mais tarde ou mais cedo, chega, surpreendendo-nos. E, frequentemente, chega nos momentos de maior debilidade, após um falhanço, um abandono, um luto, quando de dentro de humilhação floresce a humildade. O amor à humildade está na base de qualquer vida boa, porque permite não se apropriar das próprias virtudes e dos dons recebidos.
A humildade é uma virtude indescritível e é radicalmente relacional: são apenas os outros que podem e devem reconhecer a nossa humildade, e nós a deles, num jogo de reciprocidade que constitui a gramática da boa vida civil. É invisível, mas realíssima, e sabemos reconhecê-la – mesmo que não sejamos bastante humildes, mesmo que não o consigamos totalmente, mas desejamos sê-lo: desejo de humildade já é humildade. Os seus frutos são inconfundíveis. O primeiro é a gratidão sincera em relação à vida, aos outros, aos próprios pais, que nasce da consciência que os meus talentos, os meus méritos, a minha beleza, são dom, charis, graça. A humildade é reconhecer a verdade acerca do mundo e da vida. Nasce naturalmente, é uma ação da alma, não requer esforços da vontade; é o reconhecimento de quanto emerge um dia como evidente. Compreende-se que, nas coisas mais bonitas e grandes, a nossa parte é muito pequena, ínfima, porque o que somos e possuímos, recebemo-lo simplesmente da generosidade da vida. Tudo é graça. Mas, para chegar a este ato natural e radical de gratidão, é necessário um exercício ético de amor à verdade, que dura toda a existência adulta, e termina – com aquele último ato de gratidão – quando nos despedimos, sempre gratos e, finalmente, humildes, deste mundo. A humildade, então, não é senão o acesso a uma verdade mais profunda. Por isso é um dom imenso.
O humilde é sempre grato. Os seus “obrigado”, raros porque preciosos, nascem da consciência da beleza e da bondade de quem vive à sua volta – é uma beleza mais profunda e mais verdadeira das pessoas e do mundo, que somente se revela aos humildes. E só o humilde sabe rezar.
Um segundo sinal da sua presença é a capacidade de dizer “desculpa” e “perdoa-me”. Existem conflitos que não saram porque cada um está pessoalmente convencido de estar totalmente do lado da razão e, assim, espera que o outro lhe peça desculpa. Mas, porque a certeza da razão é reciproca, ficam-se bloqueados em armadilhas relacionais que acabam por engolir famílias, amizades, comunidades, empresas e, por vezes, povos inteiros. Para sair destas armadilhas é preciso, pelo menos, uma pessoa humilde, capaz de pedir desculpa, mesmo quando pensa não ser responsável pelo conflito – e, por vezes, é verdade. Dá o primeiro passo para a reconciliação porque lhe interessa reconstruir a relação doente, mesmo antes de ver apuradas as responsabilidades e as culpas dos vários sujeitos envolvidos. Porque sabe que só depois de ter recomposto a relação será possível e fundamental reconstruir também a teia das responsabilidades pelos factos ocorridos.
Pronunciar estas “desculpa” e “perdoa-me” é particularmente difícil e, por isso, muito precioso nas relações hierárquicas. É difícil dizer, com humildade, “desculpa” a um superior; é muito mais simples não dizer nada, ou dizê-lo por medo ou oportunismo. Mas é ainda mais difícil para um diretor pedir desculpa a um seu subordinado. Nenhum regulamento empresarial e nenhum código ético o exigem. Mas poucas palavras como um “perdoa-me”, dito por um gerente a um trabalhador do seu grupo, dá qualidade ética e humana a todo o grupo de trabalho. São estas palavras que criam espírito de solidariedade e até mesmo de fraternidade nas equipas de trabalho, que consegue dar tudo nos momentos de dificuldade apenas se, e quando, os seus membros sentem partilhar todos o mesmo destino, de serem iguais, independentemente das diferenças salariais e de responsabilidade. Um “obrigado” e um “desculpa” sinceros e humildes, ditos por um chefe, geram mais espírito de grupo que centenas de discursos de “team building” (formação de um grupo de trabalho) que, na ausência destas palavras profundas, acabam por se assemelhar muito aos jogos dos nossos filhos pré-adolescentes.
Porém, a humildade, como outras grandes palavras da vida, torna-nos mais fortes e resistentes quando nos torna mais vulneráveis. Agradecer e pedir desculpa na verdade torna os chefes e dirigentes mais frágeis, num mundo onde a invulnerabilidade é o primeiro valor. É como mostrar uma ferida, própria e do outro, para querer curá-la. Mas estas feridas, no registo varonil das relações da empresa, não têm sentido nem espaço. E, assim, não curam, são escondidas, infetam-se e intoxicam todo o corpo.
O mundo empresarial ocidental sofre duma grave indigência de novas classes dirigentes porque nos falta tremendamente uma cultura de humildade, apagada das praxis e ideologias inspiradas na anti humildade, onde o humilde é apenas um “perdedor”.
A primeira lição dos cursos de leadership deveria ser sobre a humildade. Uma lição que falta por toda a parte, por carência de professores e porque a humildade não pode ser ensinada nas business school; mas, sobretudo, falta porque se se começasse a louvar a humildade e as suas irmãs (a mansidão, a misericórdia, a generosidade…) toda a cultura da leadership, com as suas técnicas, seria totalmente invertida. A humildade educa ao seguimento. Um responsável que não tenha sido formado no seguimento – dos outros, de qualquer outro, dos pobres, da parte melhor e mais autêntica de si – nunca será um bom guia, um leader.
O valor de toda uma existência mede-se pela humildade que se conseguiu gerar. A humildade é fundamental para viver e resistir durante as grandes provas. Quando a vida nos faz cair e tocamos a terra (húmus), não nos faz muito mal e conseguimos erguer-nos se aprendemos a conhecer a terra e tornamo-nos seus amigos. Sem humildade, não se consegue nenhuma excelência humana, não se aprende bem nenhuma profissão, não se torna verdadeiramente adulto. É a última palavra de cada Cântico das criaturas.
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de Luigino Bruni
publicado em Avvenire no dia 09/08/2015
“E quando vejo as estrelas brilhar no céu,
Penso para comigo:
Para quê tantas tochas?
Que faz o ar infinito e aquela profunda
Infinita Seren? Que quer dizer esta Solidão imensa? e que sou eu?”Giacomo Leopardi, Canto noturno de um pastor nómada da Ásia
A humildade é uma das virtudes que a economia e as grandes empresas não amam, embora tenham uma necessidade vital dela. A nossa cultura, cada vez mais modelada por valores mercantis, não consegue ver a beleza e o valor da humildade, que assim é humilhada.
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de Luigino Bruni
publicado em Avvenire no dia 02/08/2015
"Não obtém o fruto da virtude quem quer explorar a virtude"
Mahabharata, Livro sagrado hinduMahabharata, Livro sagrado Hindu
As organizações não podem dispor das virtudes mais importantes de que necessitam. Sábias são as que aceitam a 'distância' entre as virtudes desejadas e aquelas que conseguem obter dos seus trabalhadores e aprendem assim a conviver com a inevitável indigência das qualidades humanas essenciais para o seu funcionamento e o seu crescimento, sem tentar substituí-las com as coisas mais simples.
[fulltext] =>A primeira sabedoria de cada instituição consiste em reconhecer não ter controlo sobre a alma dos seus membros - cada virtude é antes de mais uma questão de alma. Quando essa consciência falta ou é negada, as empresas e as organizações não param no limiar do mistério do trabalhador-pessoa e fazem tudo para preencher a "distância", acabando assim por perder a melhor parte de seus trabalhadores. O colapso impressionante desta forma de sabedoria institucional é uma das pobrezas mais graves do nosso tempo, também porque é apresentado como uma forma de riqueza, e por isso, não é combatida, mas alimentado.
A distância entre as virtudes exigidas aos seus membros e as disponíveis sempre acompanhou a vida social, especialmente no Ocidente. Todas as boas instituições foram mendicantes de virtude. Os mosteiros, os governos, até os exércitos tinham uma necessidade essencial das mais altas virtudes das pessoas, mas sabiam que não poderiam ser obtidas com o comando ou pela força: só as poderiam acolher como dom livre da alma dos homens e das mulheres. A novidade hoje está no eclipse total desta antiga e sábia consciência, especialmente no mundo das grandes empresas, cada vez mais convencidas de terem finalmente inventado instrumentos e técnicas para obter dos seus trabalhadores todas as virtudes de que precisam - toda a mente, todas as forças, todo o coração - sem necessidade nem da força moral nem, muito menos, do dom. E acabam assim por encontrar-se com pseudo-virtudes.
Esta destruição em massa das virtudes tem muito a ver com a ideologia do incentivo. A cultura que é praticada nas grandes empresas, particularmente nos topos, está a tornar-se um culto perpétuo ao deus incentivo, uma verdadeira e própria fé, cujo principal dogma é a convicção de ser possível obter a excelência das pessoas remunerando-as adequadamente. A meritocracia nasce de uma aliança com a ideologia do incentivo, porque o mérito é reconhecido através da construção de um sistema de incentivos cada vez mais sofisticado e desenhado à medida para tirar o máximo de cada pessoa, para obter, se possível, tudo. Acredita-se, assim, que ‘encantando’ as pessoas com os incentivos, elas possam dar livremente o seu melhor (não nos esqueçamos que incentivo, encantamento e encantador de serpentes têm a mesma raiz). Na verdade, o incentivo não só não é um instrumento adequado para a criação e fortalecimento das virtudes, mas geralmente destrói-as, ao reduzir drasticamente a liberdade das pessoas. O incentivo, especialmente o da última geração construído em torno da "gestão por objetivos", apresenta-se como um contrato (e, de facto, é-o) e, enquanto tal, como uma das maiores expressões da "liberdade dos modernos". Mas basta olhá-lo bem nos olhos para se dar imediatamente conta que a liberdade cultural do incentivo não tem nada a ver com a liberdade necessária para o desenvolvimento e fortalecimento das virtudes verdadeiras das pessoas. A liberdade do incentivo é uma liberdade servil, pequena e funcional dos objetivos definidos e impostas pela direção da empresa. É uma liberdade menor, que é muito semelhante à de um melro num aviário, à de leões no jardim zoológico, embora nós, ao contrário dos animais, pensamos entrar livremente em gaiolas e parques naturais. Na realidade entramos fascinados pelo encantador de flauta (incentivus, ou seja flauta) para não sairmos mais.
Pensemos, por exemplo, na lealdade. Poucas palavras como a lealdade são evocadas pela cultura empresarial. É um termo chave nas entrevistas de recrutamento, encontramo-la em todos nas declarações éticas, é parte essencial do repertório do empregado ideal que cada empresa quer ter. A lealdade é uma virtude que nos torna capazes de ser fiéis a uma pessoa, a uma instituição, a um valor, em situações em que os nossos comportamentos são custosos e não observáveis. A lealdade não pode ser contratada. É totalmente uma questão de alma. Mas todos nós sabemos que, em todos os contratos, há uma hipótese implícita de lealdade que, porém, não podemos comprar. Os contratos não se auto-fundam, porque precisam de pactos e, por isso, das lealdades e muitas outras virtudes pré-contratuais. Se os contratos substituírem as virtudes, eles acabam por minar o chão debaixo dos seus pés.
Uma gramática fundamental da lealdade encontramo-la no esplêndido episódio de José e a mulher de Potifar o egípcio. Enquanto José estava na casa de Potifar, um dia em que "não havia ninguém em casa" a mulher "lançou os olhos" sobre ele e disse-lhe: "Dorme comigo" (Gênesis 39, 7). José respondeu: "O meu senhor não me pede contas de nada da sua casa (…) e ele não me proibiu nada, exceto tu, porque és sua esposa; como poderei cometer uma tão grande falta (…)?". Uma escolha leal que lhe custou a prisão, quando a mulher, ao sentir-se recusada, o acusou de a ter abusado.
Para que a lealdade emerja, são necessários então três elementos: uma relação de confiança arriscada, um custo concreto que a pessoa deve assumir, fazendo ou não algo que pudesse evitar esse custo, e - terceiro elemento crucial - a ação leal não deve ser observável. O valor da lealdade é medido, assim, com base no que eu poderia fazer e que, pelo contrário, para ser honesto, não fiz.A lealdade é o espírito dos acordos e das promessas, que vivem de escolhas e atos visíveis apoiados por atos e escolhas invisíveis. Há palavras não ditas, coisas não feitas, segredos mantidos dentro por amor de alguém por toda a vida, que geram, regeneram e não fazem morrer os nossos pactos, incluindo aqueles que fundam a vida das empresas e das instituições. As palavras não ditas e as coisas não feitas de que ninguém nos dirá alguma vez “obrigado”, mas que dão espessura moral e dignidade aos nossos relacionamentos e a toda a nossa existência.
É claro, então, que a virtude da lealdade não pode ser reforçada, nem muito menos criada, com incentivos. Pelo contrário, a lógica dos incentivos desencoraja a lealdade, precisamente porque encoraja e reforça os comportamentos visíveis, controláveis, contratuais.
Abre-se aqui um novo cenário. A nossa capacidade de lealdade não é um depósito constante, mas varia ao longo do tempo com base na qualidade da nossa vida interior e dos sinais relacionais que vêm das comunidades em que vivemos. A minha escolha de ser leal, aqui e agora, dependerá das minhas recompensas morais intrínsecas, mas também da perceção de que nessa determinada empresa ou comunidade ‘vale a pena’ suportar os custos da lealdade, que por vezes podem ser muito altos. A empresa não pode criar lealdade – porque é toda e unicamente dom livre da pessoa - mas pode tentar colocar as pessoas já leais em condições de exercitarem, também ali, esta virtude.
Mas é precisamente aqui que se revela o mecanismo de autodestruição da lealdade e das outras virtudes, produto da lógica dos incentivos. As grandes empresas e os bancos têm uma necessidade crescente de controlar as ações dos seus membros, de as prever, de as encaminhar para os objetivos. Elas temem, mais do que qualquer outra coisa, as áreas de ação fora do controlo da gestão, áreas de fronteira e promíscuas; não gostam das casas "onde não há ninguém" a controlar, a gerir, a avaliar. E a razão para este medo e esta desconfiança é a antropologia pessimista que, para além das palavras, está na base do sistema das grandes instituições capitalistas. Os dirigentes e, antes ainda, a propriedade (e às vezes até mesmo os sindicatos), pensam, mais ou menos conscientemente, que o trabalhador, geralmente, é um oportunista e, por isso, deve ser controlado. Nas fábricas de ontem, este controlo era muito rudimentar e evidente; com o incentivo mudou a forma, que se revestiu de liberdade, mas substancialmente a cultura de total controle exasperou-se, porque chega até à alma. Eis porque as grandes organizações capitalistas reduzem sistematicamente os espaços de ação e de liberdade não observáveis. E, assim, também reduzem as pré-condições para que se possam exercitar a lealdade e muitas outras virtudes que, para não morrerem, precisam da liberdade verdadeira e de confiança arriscada. Gera-se, assim, uma criação radical e progressiva de ‘lealdades’ contratuais que, sendo observáveis e controláveis, ficam privadas da parte mais valiosa da virtude da lealdade verdadeira. Encontramo-nos em instituições povoadas por virtudes-bonsai, totalmente controladas e registáveis sob os tetos das empresas. E os bonsai não dão fruto e se os dão são minúsculos e não comestíveis.
Tudo isto produz um fenómeno de grande importância. Estas pequenas e controláveis "virtudes" funcionam bastante bem para as situações comuns da vida empresarial, mas tornam as organizações altamente vulneráveis nos períodos das grandes crises, quando haveria necessidade da lealdade e da verdadeira alma dos trabalhadores que, entretanto, foram substituídas por incentivos. A ideologia dos incentivos, eliminando os espaços incontroláveis de liberdade e confiança, reduz as pequenas vulnerabilidades mas aumenta tremendamente as grandes vulnerabilidades das empresas, que se encontram desprovidos desses anticorpos éticos essenciais para a sobrevivência em doenças graves.
Os seres humanos são muito mais complicados, complexos, ricos e misteriosos do que as instituições e as empresas creem. Às vezes estamos pior, muitas vezes melhor, sempre diferentes. Encontramo-nos no meio de sentimentos e emoções que não nos permitem ser tão eficientes como deveríamos. Dispersamos recursos infinitos em pedidos de reconhecimento e de estima que sabemos que nunca serão satisfeitos com as respostas que recebemos.
Atravessamos provas físicas e espirituais, vivemos choques emocionais, afetivos, relacionais. Mas somos também capazes de ações muito mais dignas e elevadas das que nos são pedidas pelos contratos e pelas regras. E permanecemos vivos e criativos enquanto os lugares do viver não nos apagam a luz do coração, reduzindo-nos à sua própria imagem e semelhança, apagando aquele excesso de alma onde habita a salvação, nossa e das nossas empresas.
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publicado em Avvenire no dia 02/08/2015
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de Luigino Bruni
publicado em Avvenire no dia 26/07/2015
"Em todo o mundo, os seres humanos querem a mesma coisa: serem reconhecidos com dignidade por aquilo que são e por aquilo que fazem. Empresas como a nossa estão em condições ideais para satisfazerem este desejo" (Robert H. Chapman).
A cultura das grandes empresas está a tomar o nosso tempo. Categorias, linguagem, valores e virtudes das multinacionais estão a criar e a oferecer uma gramática universal adequada para descrever e produzir todas as histórias individuais e coletivas ‘vencedoras'. Assim, no decurso de algumas décadas, a grande empresa, de lugar principal da exploração e da alienação, tornou-se ícone da excelência e do florescimento humano.
[fulltext] =>Numa época como a nossa, quando as paixões coletivas sobrevividas ao século XX são aquelas tristes do medo e da insegurança e onde reinam cada vez mais incontroversas as paixões do indivíduo, a cultura produzida e veiculada pelas empresas globais é a ferramenta perfeita para encarnar e potenciar o espírito do tempo. Nada, de facto, como a empresa capitalista é agora capaz de exaltar e reforçar os valores do indivíduo e de suas paixões.
Eis então que as palavras do 'business' e as suas virtudes se estão a tornar as boas palavras e as virtudes de toda a vida social: na política, nos cuidados de saúde, na escola. Mérito, eficiência, competição, liderança, inovação, são agora as únicas palavras boas da vida em comum. Na ausência de outros lugares fortes, capazes de produzir outra cultura e outros valores, as virtudes das empresas apresentam-se como as únicas a reconhecer e a cultivar desde a infância.
As empresas muitas vezes fazem coisas boas, mas não podem nem deve gerar todos os valores sociais ou todo o bem comum. Para viver bem há necessidade de criação de valor diferente do valor económico, porque há valores que não são os das empresas e o bem comum excede o bem comum gerado pela esfera económica.
Tudo isto nós sempre o soubemos, mas hoje estamos a esquecê-lo. A gestão da crise grega e europeia das semanas passadas e das próximas é disso um sinal eloquente. Mas também o que está a acontecer nas áreas da saúde, da educação, no mundo do voluntariado, na economia social e até mesmo em alguns movimentos católicos e Igrejas, diz-nos que as virtudes económicas estão gradualmente a substituir todas as outras, que também são substituídas porque apresentadas pela cultura empresarial global como vícios (por exemplo a mansidão, a misericórdia ...). Devemos, depois, notar que a "culpa" deste reducionismo impressionante não é só, nem talvez principalmente, das empresas, das sociedades de consultoria globais ou das escolas de negócios que são os principais vetores desta monocultura. Há uma grande responsabilidade da sociedade civil que já não consegue criar suficientes lugares extraeconómicos capazes de gerar nos jovens e nas pessoas outras virtudes diferentes das económicas. A escola, por exemplo, deveria ser, juntamente com a família, o principal contrapeso da cultura empresarial, porque é específico da escola ensinar às crianças e aos jovens sobretudo as virtudes não utilitárias e não instrumentais, que valem mesmo se (ou exatamente porque) não têm um preço. Mas, pelo contrário, estamos a assistir em todo o mundo a uma ocupação da escola por parte da lógica e dos valores da empresa (mérito, incentivos, competição …), onde dirigentes, professores e estudantes são avaliados e formados nos valores das empresas. E, assim, aplicamos a eficiência, os incentivos e o mérito, mesmo na educação de nossos filhos e na gestão das nossas amizades (basta frequentar os países nórdicos, onde este processo está mais avançado, e ver como estão a transformar neste sentido também a vida comunitária, relacional e a amizade).
O deficit antropológico que hoje se experimenta na vida económica e civil, não se ultrapassará ocupando, com as ‘novas’ virtudes económicas, o vazio deixado pelas antigas virtudes não económicas, mas gerando e regenerando antigas e novas virtudes que vão para além do âmbito económico e empresarial e que permitirão o pleno florescimento das pessoas, dentro e fora do mundo do trabalho.
A economia teve sempre necessidade de virtude, isto é, de excelência (areté). Até há algumas décadas atrás, no entanto, as fábricas e locais de trabalho utilizavam patrimónios de virtudes e de valores que se formavam no seu exterior, na sociedade civil, na política, nas Igrejas, nos oratórios, nas cooperativas, nos sindicatos, nas lojas, nos mares, nos campos, na escola e, sobretudo, nas famílias. Era nesses lugares não económicos, regidos por princípios e por leis diferentes das empresas e do mercado, que se formavam e reformavam o caráter e as virtudes das pessoas, que dentro das empresas transformavam os seus capitais pessoais em recursos produtivos, empreendedores, organizativos e laborais. Sem esquecer aquele imenso património representado pelas mulheres - mães, filhas, esposas, irmãs, irmãs, tias, avós – que, dentro das casas, formavam, amavam, socorriam, geravam e regeneravam em cada dia meninos e homens que, quando cruzavam os portões dos locais de trabalho, levavam consigo figuras femininas invisíveis, mas realíssimas, que ofereciam e doavam às empresas serviços de altíssimo valor, também económico e a custo empresarial zero.
Em duas ou três décadas, estamos a esgotar esse ativo secular de património éticos, espirituais, civis, sem sermos ainda capazes de gerar novos. E assim às empresas chegam geralmente pessoas com escasso património moral, frágeis e pouco equipadas com essas virtudes essenciais na vida laboral, no trabalho em equipa e, especialmente, na gestão dos relacionamentos humanos, das crises e dos conflitos.
E é então que as empresas, para continuarem a produzir riqueza e lucros, se equiparam para criarem elas mesmas aqueles valores e virtudes de que têm uma necessidade vital. Quase nenhuma destas virtudes e destes valores são inéditos, porque eles não são senão a reelaboração e a readaptação de antigas práticas, ferramentas e princípios reorientados - e aqui está o ponto-chave – para o objetivo da empresa pós-moderna.
Isto abre desafios decisivos, talvez os mais importantes e dos quais dependerá fortemente a qualidade da vida económica, pessoal e social e pessoal das próximas décadas e de que nos ocuparemos nos próximos artigos.
Ontem, hoje e sempre há virtudes essenciais para uma boa formação do caráter das pessoas que vêm antes das virtudes econômicas e das da empresa. A mansidão, a lealdade, a humildade, a misericórdia, a generosidade, a hospitalidade, são virtudes pré-económicas que, quando estão presentes permitem também o funcionamento das virtudes econômicas. Pode-se viver também sem se ser eficiente e particularmente competitivo, mas vive-se muito mal e, muitas vezes morre-se, sem generosidade, sem esperança, sem mansidão.
Num mundo ocupado unicamente pelas virtudes económicas, como respondemos nós às perguntas: 'o que fazemos nós dos ‘sem mérito’?', 'onde acabarão os não-excelentes?’ , ‘onde colocamos nós os “não espertos”’? Nem todos somos capazes de mérito do mesmo modo, nem todos somos talentosos, nem todos somos capazes de ‘ganhar’ na competição da vida. O mercado e a economia têm as suas próprias respostas a estas perguntas. Nos mercados quem não é competitivo sai, nas empresas de sucesso ‘quem não cresce está fora do grupo'. Mas se a esfera económica se torna totalidade da vida social, para onde “saem” os perdedores das competições, qual ‘fora’ acolhe quem não cresce ou cresce diversamente e em modos que não contam para os indicadores de desempenho empresarial? O único cenário possível torna-se assim a construção de uma "sociedade do descartável”. Continuamos pessoas dignas, mesmo quando somos ou nos tornamos ‘sem mérito’, ineficientes, não competitivos. Mas a nova cultura da empresa não conhece dignidade diferente.
As virtudes económicas e empresariais têm necessidade, nos trabalhadores, de outras virtudes que as empresas não são capazes de gerar. As virtudes económicas são autênticas virtudes, se e quando acompanhadas e precedidas pelas virtudes que têm na gratuidade o seu princípio ativo.
É aqui que o grande projeto da cultura empresarial de criar, sozinha, as virtudes de que precisa para alcançar os seus objetivos, encontra um limite intransponível: as virtudes, todas as virtudes, para se criarem e prosperarem têm uma necessidade vital de liberdade e de excesso relativamente aos objetivos estabelecidos pela direção da empresa. Nós nunca seremos excelentes trabalhadores se perdermos o valor intrínseco das coisas, se não nos libertarmos da escravidão dos incentivos.
As virtudes económicas das empresas não se transformam em vícios, se se deixarem, humildemente, acompanhar por outras virtudes que as suavizam e humanizam. Só aprendendo a perder tempo, de forma ineficiente, com os meus funcionários posso esperar tornar-me um gestor verdadeiramente eficiente. Só reconhecendo humildemente que os talentos mais valiosos que possuo não são frutos do meu mérito, mas tudo dom (charis), eu posso reconhecer os verdadeiros méritos meus e dos outros.
As empresas não podem construir o bom caráter dos trabalhadores, porque se o fazem não geram pessoas livres e felizes como dizem e talvez queiram, mas apenas tristes instrumentos de produção. As empresas só podem acolher, fortalecer e não destruir as nossas virtudes. Não podem fabricá-las. Tal como acontece com as árvores. Tal como acontece com a vida. Esta é uma das mais belas leis da terra: as virtudes florescem se são maiores e mais livres do que os nossos objetivos, mesmo os mais nobres e maiores.
Aqui em Vallombrosa, onde escrevo estas linhas, há alguns meses atrás uma tempestade derrubou cerca de vinte mil árvores. Enquanto se trabalha na remoção das árvores caídas, cultivadas durante séculos por monges virtuosos, o Serviço Florestal está a começar a plantar novas árvores, de muitas espécies diferentes, para tentar salvar a biodiversidade da floresta que vai renascer.
Quando as florestas sucumbem alguém deve começar a plantar árvores. A árvore da economia crescerá bem se for acompanhada por todas as outras árvores da floresta.baixe o arquivo artigo em PDF
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de Luigino Bruni
publicado em Avvenire no dia 26/07/2015
"Em todo o mundo, os seres humanos querem a mesma coisa: serem reconhecidos com dignidade por aquilo que são e por aquilo que fazem. Empresas como a nossa estão em condições ideais para satisfazerem este desejo" (Robert H. Chapman).
A cultura das grandes empresas está a tomar o nosso tempo. Categorias, linguagem, valores e virtudes das multinacionais estão a criar e a oferecer uma gramática universal adequada para descrever e produzir todas as histórias individuais e coletivas ‘vencedoras'. Assim, no decurso de algumas décadas, a grande empresa, de lugar principal da exploração e da alienação, tornou-se ícone da excelência e do florescimento humano.
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